Etanol pode reduzir dependência do petróleo que vem da Índia
Apex-BrasilAlém de proporcionar maior estabilidade à renda de fornecedores canavieiros, o aumento da produção de etanol poderá reduzir drasticamente a forte dependência do petróleo na Índia, país que importa mais de 80% das suas necessidades de gasolina e diesel. Esta é a conclusão do diretor Executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Eduardo Leão de Sousa, após participar de diversas reuniões com entidades e autoridades políticas indianas na segunda quinzena de setembro (20 a 23/09), durante visita de uma comitiva liderada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi, àquele país.
“Atualmente, a Índia possui um programa que indica uma mistura de 10% de etanol na gasolina, mas esta participação não chega ainda a 4% na média do País. Além de maior diversificação de renda aos produtores, o cumprimento daquela meta permitirá ainda uma redução das emissões de gases de efeito estufa e poderá reduzir significativamente os níveis de poluição atmosférica nas grandes metrópoles da Índia, que tem atingido níveis alarmantes de poluentes”, explica o representante da UNICA. A viagem de Eduardo à Índia foi possível graças à parceria entre a UNICA e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), cujo objetivo é valorizar a imagem do etanol brasileiro no exterior.
Na Índia, de acordo com o diretor da UNICA, o contingente de fornecedores de cana é muito maior em comparação ao Brasil, e a agricultura de pequena escala faz com que a produção de cana seja muito volátil. “Quando as cotações do açúcar estão desestimulantes, os empresários indianos são forçados a migrar para outras culturas. Expandindo a fabricação doméstica de etanol, eles poderão reduzir esta dependência de um só produto e garantir uma fonte mais diversificada de receita”, avalia.
Eduardo Leão acrescenta que além dos inúmeros benefícios sociais, econômicos e ambientais gerados pelo crescimento da oferta de etanol na Índia, outros reflexos dessa mudança seriam o fortalecimento do mercado global do biocombustível e a diminuição da instabilidade dos preços do açúcar no cenário internacional. “Pela sua dimensão, ao ampliar o investimento em programas de combustíveis renováveis, a Índia, segunda maior produtora de cana-de-açúcar do mundo, contribuirá imensamente para o processo de transformação do etanol em commodity”, ressalta.
Juntamente com o presidente do Fórum Nacional Sucroenegético, André Rocha, durante os quatro dias em que esteve visitando o país asiático, o diretor da UNICA cumpriu uma extensa agenda institucional em nome do setor. Veja abaixo os principais destaques desta programação:
- 21/09: Reunião com o ministro do Petróleo e Gás da Índia, Dharmendra Pradhan, com presença do ministro do Mapa, Blairo Maggi;
- 21/09: Apresentação para o Grupo de Trabalho de Biocombustíveis, no Ministério do Petróleo e Gás, formado por representantes da iniciativa privada (produtores de etanol, fornecedores de cana, empresas de petróleo e indústria automobilística) e é coordenado pela Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis (SPG), com o envolvimento dos Ministérios de Energias Renováveis, da Agricultura e de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
- 22/09: Reunião com o diretor Executivo da Associação de Produtores de Açúcar da Índia (ISMA, em inglês), Abinash Verma;
Etanol indiano
Na Índia, a adoção de um programa voltado para o biocombustível feito a partir da cana teve início em 2007, mas sem a obrigatoriedade de mistura na gasolina, como ocorre no Brasil. Atualmente, o País mescla o combustível fóssil com até 27% de etanol.
Em dezembro de 2015, com o objetivo de reduzir prejuízos econômicos e ambientais causados pela importação e uso dos derivados de petróleo e ajudar 1,5 milhão de produtores rurais, o governo indiano instituiu a meta nacional de se adicionar 10% do biocombustível em cada litro do carburante fóssil vendido no país. Até o momento, a medida já foi implantada em seis estados. Na média, a mistura tem oscilado entre 3% a 4%.
No ano passado, as usinas produziram quase 3,0 bilhões de litros de etanol a partir do melaço, subproduto da fabricação do açúcar. Deste volume, 1,3 bilhão de litros foram usados como combustível automotivo e 1,6 bilhão de litros destinados para as indústrias de bebidas e alcoolquímicas.
Dependendo da rentabilidade, a produção de etanol pode aumentar em até 3 bilhões de litros, somente com a utilização do melaço residual do açúcar, lembrando que a produção de etanol a partir do caldo da cana é proibida no país. A importação de biocombustíveis atualmente só é autorizada quando necessário para atender a demanda, e depende de decisão do Comitê de Coordenação da Política de Biocombustível da Índia.