18/02/10 11h09

Etanol embala retomada sucroalcooleira

Valor Econômico

O segmento sucroalcooleiro começa uma nova safra no Brasil, em março, com a percepção de que está diante do início de um novo ciclo virtuoso alimentado pela boa demanda internacional por açúcar e pela flagrante renovação das apostas na consolidação do etanol como combustível global competitivo, renovável e mais limpo. No curto prazo, os estoques apertados dos dois principais subprodutos da cana tendem a sustentar cotações e melhorar as margens das usinas. Somados à circulação menos restrita de crédito, os bons preços deverão paulatinamente deixar para trás dois anos de caixa vazio, quebra de empresas e contenção de aportes - e, estruturalmente, de mudança de perfil.

Se por um lado representou bilhões de dólares em investimentos represados e frustração em importantes polos canavieiros do Centro-Sul, por outro a crise acelerou transformações que, em boa medida, esbarravam nos bolsos cheios de usineiros históricos. É verdade que, mesmo com o cenário adverso, a Cosan, maior companhia sucroalcooleira do mundo, reinventou gestão e negócios e tornou-se fundamentalmente um grupo de combustíveis, sobretudo após a parceria com a anglo-holandesa Shell, também interessada em transformar o etanol em commodity.

Mas players tradicionais como os também paulistas Santelisa Vale e Moema foram incorporados por multinacionais em migração para a energia renovável - Louis Dreyfus e Bunge, respectivamente -, e novos players nascidos no país na maré favorável de 2007, como ETH e Brenco, uniram forças antes de retomar promessas de expansões.

Apesar da mudança de quadro, coroada pelo atestado da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos de que o etanol de cana é mesmo um "biocombustível avançado", o que deixa o produto sem concorrentes economicamente viáveis, a volta dos grandes investimentos deverá ficar para a próxima safra (2011/12). E isso por uma razão simples: produzir está caro e os custos dos projetos também subiram com as boas perspectivas, mesmo que as empresas ainda tenham ajustes a efetuar seja por dificuldades do passado recente ou pelos trabalhos de integração em curso.

Independentemente da equação, Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), lembra que novos aportes serão necessários. "Até 2015, o consumo interno de álcool deve dobrar de 26 bilhões para 50 bilhões de litros, e a demanda externa pelo produto brasileiro pode chegar a 15 bilhões de litros. Isso exigirá investimentos US$ 50 bilhões em novas usinas de etanol. Mas tais aportes ainda não estão acontecendo".