23/08/21 13h23

Estudo mostra reconquista do algodão brasileiro no mercado internacional

Mudanças radicais geraram ganhos de produtividade e levaram o país a deter 15,6% das exportações mundiais em 2019

Ipea

Um nítido crescimento de produtividade foi observado na cotonicultura brasileira desde a década de 1970 e intensificado a partir de 1999, coincidindo com a época do contencioso do algodão na Organização Mundial do Comércio (OMC). O excesso de subsídios dos Estados Unidos aos seus agricultores distorceu os preços internacionais, levando o Brasil a entrar com uma ação na OMC e sair vitorioso após uma década de disputa. O estudo ‘Produtividade do Algodão no Brasil: Uma Análise da Mudança Estrutural’, que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publica nesta segunda-feira (23/8), analisou o caso emblemático do algodão brasileiro, que passou por transformações radicais entre 1974 e 2019, e explica como, depois de várias crises, o país saltou de 2% para 15,6% de participação nas exportações mundiais.

A evolução do cultivo nesse período, os ganhos de produtividade, as mudanças no ambiente institucional, além do efeito do melhor aproveitamento da terra, proporcionado pela dinâmica tecnológica, foram examinados pelo pesquisador do Ipea José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho junto com Isabela Romanha de Alcantara e Roberta Vedana, ambas doutorandas em Economia na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). “A praga do bicudo, a eficiência no uso dos recursos naturais, o contencioso do algodão e as novas tecnologias foram eventos importantes na transformação institucional do setor”, disse José Eustáquio, ao destacar que, atualmente, o Brasil situa-se nos padrões mais modernos de produção de algodão no mundo.

O exame da produtividade do algodão de 1974 a 2019 mostrou mudança radical de intercepto e de tendência a partir de 1999, quando saltou para um nível quase 82% superior no ano seguinte. A taxa de crescimento médio da produtividade de 2,03%, entre 1974 e 1998, atingiu 2,43%, entre 1999 e 2019. As transformações institucionais, como a fundação da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a criação do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), que ocorreram após a vitória brasileira na OMC, associadas à modernização tecnológica e ao novo modelo de gestão e ao perfil empreendedor dos cotonicultores, geraram ganhos de produtividade. Desde então, a produção por hectare cresceu vertiginosamente e quase quadruplicou no período estudado, conforme observaram os pesquisadores.

A disputa entre Brasil e Estados Unidos na OMC terminou em 2014, com a assinatura de um memorando de entendimento pelos dois países. Segundo o estudo, 1999 foi um ano marcado internacionalmente pelo início do contencioso e a produção ressurgiu com mais eficiência, tecnologia, transformação institucional e gestão profissional, desenhando um novo mapa da produção nacional. O algodão, que era tradicionalmente cultivado no Nordeste, foi praticamente dizimado pela praga do bicudo, e novos plantios se deslocaram para os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região conhecida como Matopiba, em referência às siglas dos estados. Os plantios ocuparam também o Cerrado, principalmente, no Centro-Oeste.

Quebra estrutural

Para analisar o comportamento da produtividade ao longo do tempo, os pesquisadores recorreram a um modelo de quebra estrutural, enquanto a avaliação das transformações institucionais se baseou em uma pesquisa de natureza qualitativa. “O modelo utilizado comprovou a existência da quebra estrutural, de intercepto e de nível”, informou José Eustáquio. Embora seja um exemplo de modernização da agropecuária nacional, o pesquisador mencionou que a produção de algodão era pouco retratada nos artigos acadêmicos e científicos, principalmente em relação ao enfoque dado na pesquisa.

A mudança estrutural identificada na produção de algodão foi baseada em transformações institucionais positivas, que devem ser foco das políticas, com foco em investimentos em ciência e tecnologia para se manter os ganhos de produtividades, segundo recomendam os autores do estudo. Ao longo do período, a produção se elevou enquanto a área colhida diminuiu. De 1974 a 2019, o estudo mostra que a produção cresceu a uma taxa anual de 2,9%, alcançando volume de 6,9 milhões de toneladas, enquanto o efeito houve economia de 12,2 milhões de hectares, com o melhor aproveitamento dos terrenos.

Os pesquisadores concordam que a cadeia do algodão tem cada vez mais destaque no agronegócio brasileiro. Em 2019, o Brasil atingiu a marca de 6,9 milhões de toneladas de algodão, sendo o quarto maior produtor mundial, depois da China, Índia e Estados Unidos. As exportações de algodão em pluma geraram R$ 10,6 bilhões em divisas externas, em 2019. O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio da cadeia do algodão, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), foi R$ 16,1 bilhões, em 2017. Em 2019, a Ásia – exceto o Oriente Médio – foi o destino de 80% das exportações de fibras brasileiras, sendo 28% especificamente para o mercado chinês.

Fonte: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=38398&Itemid=7