26/04/11 14h44

Estudo mostra que fronteira agrícola pode crescer em SP

Valor Econômico

Muito perto de perder para Mato Grosso sua tradicional liderança no ranking dos Estados do país com maior valor bruto da produção (VBP) das principais culturas agrícolas, São Paulo ainda reserva, em áreas hoje dedicadas à pecuária, boas perspectivas para a expansão das plantações que já passaram a liderar seu crescimento no setor nos últimos anos, sobretudo cana-de-açúcar e eucalipto.

Estudo recém-concluído por um grupo de pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA), vinculado à Secretaria da Agricultura paulista, aponta que, até 2030, 2,8 milhões de hectares ocupados com pastos em 2008 poderão dar lugar a canaviais, florestas plantadas e, em menor escala, seringueiras. O cálculo leva em conta as tendências de alta da demanda pelos produtos cultivados no Estado até lá. A disputa será ganha por tecnologia e eficiência.

Trata-se de um exercício baseado nos padrões de expansão dos diferentes segmentos nos últimos anos, que projeta distintos cenários de incrementos - ou não - dos respectivos níveis de produtividade. Leva em consideração legislações em vigor no Estado e políticas de incentivo, mas obviamente não contempla guinadas nos preços ou influências climáticas.

Feitas as ressalvas e admitidas as extrapolações de praxe em estudos do gênero, o estudos dos pesquisadores Mário Pires de Almeida Olivette, Eduardo Pires Castanho Filho, Raquel Castellucci Caruso Sachs, Katia Nachiluk, Renata Martins, Felipe Pires de Camargo, José Alberto Ângelo e Luiz Henrique Domicildes Câmara Leal Oliveira chega à conclusão que, em termos absolutos, a concorrência entre cana e eucalipto pelas áreas que serão abertas pelo adensamento da pecuária será grande; relativamente, a borracha é a cultura que tem potencial para avançar mais.

Em 2008, a pecuária ocupava 8,072 milhões de hectares em São Paulo, a cana estava em 4,9 milhões, os eucaliptos em 860 mil e as seringueiras em 77 mil. No horizonte traçado, em 2030 a área de pastagens poderá cair para 5,272 milhões de hectares, a cana "brigará" para atingir entre 5,33 milhões e 6,8 milhões, o eucalipto poderá alcançar de 1,4 milhão a 2,7 milhões e as seringueiras, de 300 mil a 400 mil hectares. Ou seja, a área de cana poderia aumentar até 38,8%, a de eucalipto até 214% e a de seringueiras, até 419,5%, sempre considerando-se as tendências de alta das demandas no período.

Mais importante do que suas estimativas numéricas - que certamente serão revistas com o passar dos anos, a depender também do desenvolvimento de novas tecnologias nas respectivas cadeias de produção -, o estudo mostra que o campo paulista não ficará estagnado apesar de o Estado quase não contar mais com áreas virgens passíveis de serem abertas. É verdade que laranja e café, ainda expressivos em São Paulo, hoje não aparecem com força para brigar pelas áreas de pastagens que tendem a ser abertas. Mas haverá dinamismo e, assim, dificilmente haverá espaço para acomodações.

"Não acabou a fronteira agrícola paulista", afirma Mário Olivette. Para Felipe Pires de Camargo, o estudo demonstra que a eficiência do uso da terra pode aumentar. E como a rentabilidade média da pecuária ainda é baixa em algumas regiões do Estado e tem tudo para crescer, é nessas áreas que a disputa entre as diferentes atividades será mais acirrada. O raciocínio vale para outros Estados, sobretudo do Centro-Oeste e do Norte, e embasa projeções de que há no Brasil pelo menos 70 milhões de hectares de pastagens degradadas substituíveis por lavouras.

Diferentemente de outros Estados, lembra Eduardo Castanho, em São Paulo a pecuária se expandiu em áreas anteriormente ocupadas por lavouras. Como no passado mais distante não havia adubos químicos, afirma, quando a fertilização natural do solo acabava os rebanhos o ocupavam. "Hoje temos o processo inverso, e as culturas estão voltando a terras aptas a elas próprias", diz. Olivette nota que o rebanho bovino de São Paulo, que é o maior produtor de carne do país, alcançava, em 2008, 11 milhões de cabeças, distribuídas por pouco mais de 8 milhões de hectares. A pecuária de corte é mais presente no oeste do Estado, enquanto a leiteira está mais para o centro e para o leste.