Estudo do BNDES mapeia oportunidades
Valor EconômicoOs desafios tecnológicos que cercam a exploração de petróleo e gás em águas profundas podem servir de incentivo para o aumento da produção de químicos para este segmento no Brasil. Os produtos - hoje em sua maioria importados - ajudam a estender a vida útil tanto dos campos de petróleo, aumentando sua produtividade, como dos equipamentos, atuando na redução do efeito corrosivo do mar.
Pesquisa coordenada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e realizada pelo consórcio formado pela Bain e a Gas Energy, está mapeando oportunidades no setor químico, e já identificou que o mercado nacional de químicos para exploração e produção (E&P) de petróleo e gás vai crescer 19% nos próximos anos. Velocidade maior do que o avanço esperado para o E&P de óleo e gás, de 9% ao ano.
A grande questão é que a expansão da demanda nacional por insumos químicos é atendida por importações, que causam desequilíbrio à balança comercial brasileira. O saldo negativo para o setor foi de US$ 32,1 bilhões ano passado. Somente em químicos para E&P, por exemplo, o Brasil importou US$ 84,9 milhões em 2012, e exportou apenas US$ 8,9 milhões.
Com orçamento de R$ 8 milhões, o estudo vai sugerir políticas públicas para ajudar no desenvolvimento do setor químico como um todo. Se bem executado, o país poderá aproveitar oportunidades como a existente em E&P, cujo mercado deve movimentar US$ 2,8 bilhões em 2021. Em 2011 esse segmento movimentou US$ 600 milhões.
Outras áreas que o estudo definiu como prioritárias foram defensivos agrícolas, com déficit na balança comercial de US$ 5,4 bilhões; óleos químicos, importantes para a produção de produtos de limpeza e cosméticos e que tiveram US$ 232 milhões importados em 2012, contra US$ 179 milhões exportados; e óleos lubrificantes, que em 2012 importou US$ 1,1 bilhões e exportou apenas US$ 200 milhões.
O estudo, iniciado em maio do ano passado, tem previsão de conclusão em agosto, e o resultado preliminar indicou 18 segmentos químicos de alta prioridade a serem desenvolvidos, e 12 segmentos de prioridade média.
Entre os critérios observados pelo consórcio, estão o tamanho do mercado consumidor e da demanda, o desequilíbrio na balança comercial, a existência de matéria prima local, a formação de mão de obra, capital, o valor agregado do produto, a oportunidade de criação de hubs e o desenvolvimento de tecnologias.
Também será feita análise quantitativa das barreiras de entrada em segmentos. Neste sentido, será avaliado qual incentivo o governo pode dar para estimular cadeias que, sozinhas, não conseguem se desenvolver.
O chefe do departamento de indústria química do BNDES, Gabriel Lourenço Gomes, e o engenheiro Martim Francisco, do mesmo departamento, não descartam a hipótese de que a pesquisa gere novas consultas ao banco. "São esperados investimentos ao fim do estudo. Empresários, inclusive internacionais, tem vindo com frequência ao banco se interar sobre os avanços do mapeamento", disse Francisco. Apesar da expectativa de aumento de consultas para o setor, o desembolso não irá, necessariamente, crescer muito.
"Nos nichos identificados os investimentos são relativamente mais baixos, e variam de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões. Os setores são mais lucrativos, empregam mais, e demandam mão de obra qualificada", continuou.
Hoje, o banco apoia algumas iniciativas em áreas mapeadas como prioritárias pelo estudo. Em químicos de renováveis, por exemplo, o BNDES apoia a Rhodia no desenvolvimento tecnológico para a produção de n-butanol a partir de bagaço de cana de açúcar e do melaço. O valor do financiamento é de R$ 4,8 milhões. Em outra área, o banco apoia a Solazyme na instalação de fábrica de óleos especiais obtidos por processo de fermentação com uso de algas, cujo financiamento será de R$ 245 milhões.
Na área de defensivos agrícolas, o BNDES financia a construção de fábrica de herbicidas da Iharabras. O valor do financiamento é de R$ 15 milhões. Por fim, em lubrificantes o banco de fomento financia R$ 123 milhões à LWART. O projeto é de construção de uma unidade de rerrefino de óleos lubrificantes.
Não serão mapeados pela pesquisa segmentos maiores, como o de medicamentos, fertilizantes, e resinas plásticas. O consórcio e o banco entenderam que já há grandes grupos operando nesses segmentos, além de afirmar que os entraves a esses setores são amplamente conhecidos.
Não há dúvidas que o estudo é importante para o fortalecimento da indústria química. A incerteza que se impõe, no entanto, diz respeito à responsabilidade de colocar o estudo em prática. "A principal questão a ser discutida é de quem será a governança deste estudo", disse Carlos Lopes, responsável da Gas Energy pelo estudo. Rodrigo Más, responsável da Bain pela pesquisa, concorda. "Deve envolver agentes, universidades, BNDES e governo."
A questão também tira o sono da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). "Estamos organizando um 'road show' por Estados para apresentar o estudo, mas o movimento precisa ser coordenado a nível federal", afirmou o presidente da Abiquim, Fernando Figueiredo.
Para Figueiredo, deveria ser recriado o grupo de execução da indústria química, coordenado pelo ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e integrado por representantes dos ministérios que se interessarem. "A minha sugestão é a recriação do grupo, desta vez sob coordenação do BNDES, exatamente com o propósito de que o estudo produza resultados concretos."
Más, da Bain, explica que um grupo integrante do plano Brasil Maior, do governo federal, já está discutindo uma agenda para o setor químico. "Eles devem receber o estudo e continuar a discussão com mais embasamento técnico. A expectativa é que o nosso trabalho seja usado para impulsionar o setor", afirmou. Segundo Más, é antiga a preocupação do governo com o setor químico, que vem sofrendo queda sistemática de competitividade.
Dados da Abiquim mostram que a demanda por produtos químicos no país nos últimos 15 anos cresce 8% ao ano. A notícia ruim é que o avanço está se dando por meio de importações. No ano passado o crescimento da importação foi de 17% e o da produção nacional, 1,5%.
"Favorece à importação o alto custo de matéria prima e de energia no país, a infraestrutura precária e a taxa de juros elevada", disse Figueiredo. Para que surta resultados, o estudo precisa começar a ser desenvolvido logo. O prazo de construção de uma unidade química varia de 36 meses a 48 meses. Qualquer investimento feito hoje, só será sentido após 2018.