Estrangeiros mantêm aquisições no país
Impulsionado por companhias de fora do Brasil, volume de fusões e de compras de empresas no 1º trimestre chega a 193 transações
Brasil EconômicoResponsável em parte pela volatilidade no mercado brasileiro de ações, o cenário eleitoral e econômico não diminuiu o apetite das empresas estrangeiras por fusões e aquisições neste ano. Levantamento da empresa de auditoria e consultoria KPMG mostra que no primeiro trimestre de 2014 foram registradas 193 transações no país, o segundo melhor resultado para o período desde 1994, quando teve início a pesquisa. Desse total, 46% das operações tiveram companhias internacionais na ponta compradora, contra 41% nos três primeiros meses de 2013.
“O país ainda é alvo de investimento estrangeiro”, resume Luís Motta, sócio da KPMG no Brasil e responsável pela pesquisa. A diminuição no ritmo dos brasileiros, em termos de fusões e aquisições, foi compensada pelo aumento na participação dos estrangeiros no período. O estudo da KPMG mostrou recuo das transações envolvendo somente companhias nacionais. Foram 81 operações domésticas no primeiro trimestre de 2014 contra 92 em igual período do ano passado. “Em um cenário com mais incertezas em relação ao ritmo de crescimento econômico brasileiro e o aumento das taxas de juros já era esperado que as empresas brasileiras ficassem um pouco mais cautelosas com relação aos investimentos com retorno no longo prazo”, diz Motta.
Dentre os 43 setores pesquisados, o que concentrou a maior parte das fusões e aquisições (F&A) foi o de tecnologia da informação, com 27 transações entre janeiro e março de 2014. O setor de TI vem se mostrando atrativo para os investidores devido à existência de um grande estoque de companhias, ressalta Motta. “O mercado está muito pulverizado e a tendência das empresas é de se juntarem”, avalia o responsável pela pesquisa.
O segundo setor com mais operações foi o de empresas de internet, que somou 20 transações. Com muitas companhias pequenas, o segmento tem atraído investimentos de venture capital (capital de risco), o que explica a segunda posição no ranking brasileiro elaborado pela KPMG. Outros segmentos de destaque na pesquisa foram os de energia (3º colocado), alimentos, bebidas e tabaco (4º), além dos de serviços e de óleo e gás (empatados na quinta posição).
“O ano de 2014 tem tudo para ser forte”, diz Motta. Nem mesmo a possibilidade de reeleição da presidente Dilma Rousseff parece diminuir o ímpeto dos players. “O cenário eleitoral não está assustando os investidores”, afirma o sócio da empresa de auditoria e consultoria.
Historicamente, o período de janeiro a março é marcado por uma desaceleração acentuada no volume de fusões e aquisições. “É um período em que as empresas estão iniciando a elaboração do orçamento e do plano estratégico”, explica Motta. Nos primeiros três meses de 2014, a queda foi muito pequena em relação ao quarto trimestre do ano anterior. Entre outubro e dezembro de 2013, o total de operações de F&A foi de 196 — apenas três a mais do que no primeiro trimestre deste ano.
Na série histórica da pesquisa, o melhor primeiro trimestre foi em 2012, quando foram registradas 204 fusões e aquisições. Apesar do início vigoroso, aquele ano terminou em queda, com apenas 176 operações no último trimestre. “A partir do fim de 2012, houve um ajuste na expectativa de preço”, lembra Motta. O mercado voltou a se aquecer em 2013.
Energias alternativas são destaque no quadrimestre
Dentro do setor de energia, foram as empresas que lidam com fontes alternativas que mais atraíram a atenção dos investidores, em termos de fusões e aquisições, nos primeiros quatro meses deste ano, segundo estudo da Merrill DataSite & Mergemarket. A companhia, parte de um grupo provedor de serviços de informação e documentação, identificou quatro transações no segmento de energias alternativas entre janeiro e abril, envolvendo as empresas Dobreve Energia, Rio Pardo Termoelétrica, Usina Hidrelétrica de Candonga e CLWP Brasil III Participações.
Apesar da ênfase dos investidores nesse segmento, ainda é difícil afirmar que essas quatro operações delineiam uma tendência para o mercado brasileiro em 2014, esclareceu a Merrill DataSite. Isso porque as estratégias envolvidas em cada um desses negócios foram distintas. Candonga foi um desinvestimento de um ativo não essencial por parte de uma empresa focada na produção de alumínio, informou a Merrill DataSite por e-mail.
Já a CLWP Brasil III Participações abrange um portfólio de projetos de energia eólica de 300MW (megawatts) que se encaixam na estratégia da GDF Suez para ampliar a sua presença no segmento de energia renovável em toda a região. De acordo com a Merrill DataSite, a Dobreve foi vendida para a CPFL Renováveis, controlada da CPFL Energia, que está ansiosa para se tornar líder neste mercado, aumentando a participação da energia limpa na sua capacidade total de geração.
No caso da aquisição pela Albioma da Rio Pardo Termoelétrica, a produtora independente de energia baseada na França aposta na retomada do crescimento no setor brasileiro de álcool. Conforme explicou a Merrill DataSite, a Albioma planeja adicionar 15MW aos 60MW de capacidade de geração já existentes na usina de cogeração de Rio Pardo, que produz energia a partir da queima do bagaço da cana de açúcar gerado na produção de etanol.