Estrangeiro vê oportunidades para investir
Desafios econômicos e políticos não desestimulam investidor que aposta na significativa demanda imobiliária reprimida no Brasil
Estado de S. PauloInvestidores estrangeiros avaliam o cenário atual da economia brasileira como “desafiador”, mas enxergam grandes oportunidades de investimento no setor imobiliário nacional. A numerosa população e uma importante demanda imobiliária reprimida, que deve ser retomada quando a economia voltar a crescer, colocam o País na rota do investidor estrangeiro.
“Há muitos desafios econô- micos e políticos no Brasil no momento, mas esse tipo de ambiente normalmente cria oportunidades”, disse Kenneth Caplan, diretor global de investimentos da Blackstone, maior fundo imobiliário do mundo, durante a segunda edição do Summit Imobiliário 2016, realizado pelo Estado, na terça-feira, em São Paulo, em parceria com o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP)
Aplicando recursos no Brasil desde 2012 em parceria com o fundo de private equity Patria, a Blackstone vai abrir neste ano um escritório no País. Globalmente, o fundo americano tem sob sua gestão US$ 94 bilhões em ativos imobiliários e mais US$ 23 bilhões disponíveis para serem investidos pelo mundo.
Caplan vê muitas oportunidades na América Latina e no Brasil, citando a demanda reprimida no setor imobiliário. Arthur D’Hauteville, sócio da Haritz Capital, destacou ainda que a atratividade do País tem aumentado principalmente pela perspectiva de que a pior parte do ciclo de mercado imobiliário está chegando ao fim, o que pode abrir caminho para novas possibilidades.
Apesar dos problemas macroeconômicos, como inflação e juros em alta, e os fundamentos enfraquecidos do mercado imobiliário, como a grande oferta de lajes de escritórios nos últimos anos, Caplan, da Blackstone, acredita que não se deve ficar parado. “Se observarmos uma boa oportunidade, vamos investir”, disse, ressaltando que não é intenção da companhia esperar melhorias na macroeconomia para dar esse passo. Recentemente, a empresa fez a aquisição de um espaço logístico em São Paulo.
O presidente da subsidiária local da Tishman Speyer, Daniel Cherman, tem uma avaliação semelhante à do executivo do grupo Blackstone sobre o mercado brasileiro. Há mais de 20 anos no Brasil, a empresa já passou por várias crises no País. Hoje o Grupo tem US$ 2 bilhões aplicados no Brasil e cerca de US$ 80 bilhões investidos na área imobiliária ao redor do mundo. “O Brasil não vai sair do mapa do investidor global”, disse o executivo, lembrando que o investidor também está lidando com ambientes adversos na China e na Europa. A Tishman Speyer é proprietária, desenvolvedora, operadora e administradora de fundos do mercado imobiliário de primeira classe no mundo inteiro.
Cherman lembrou que na crise de 2008/2009 a grande discussão era se existia uma bolha imobiliária. “Em 2008 e 2009, se discutia a bolha imobiliária, o importante era que não estourasse. Hoje, vemos que a questão era muito mais ampla, relacionada ao incentivo ao crédito generalizado na economia”, afirmou. Segundo ele, o setor não está alavancado de modo geral, mas há alguns investidores nessa situação, que estão sofrendo atualmente. “Os que não estão alavancados têm, ao contrário, oportunidade nesse ciclo”, destacou.
O executivo-chefe (CEO) da Brookfield Properties Group Brazil, Roberto Perroni, afirmou que este é um bom momento para se investir no País.“A nossa companhia está confiante na perspectiva de médio e longo prazos”, disse durante o evento. Ele acredita que no longo prazo o câmbio e a inflação “acabam se ajustando”. Segundo Perroni, empreendedores que fazem investimentos pensando num horizonte de apenas dois ou três anos encontram-se em situação mais complicada, o que não é o caso da sua empresa.
Diante da falta de crédito no mercado, a Brookfield tem oferecido uma saída para os empreendedores que precisam vender projetos, principalmente para as companhias que têm mais pressa em negociar seus ativos.
Diferentemente do que se pensava no mercado imobiliário, Perroni ressaltou que não há grande número de projetos com problemas de alavancagem. Na sua opinião, esse é um dos fatores que ajudam a fechar um bom negócio.