24/06/15 15h40

Estrangeiras trazem oportunidades

Corporações internacionais chegam ao país em busca de apoio nas áreas societárias e tributárias, além de parcerias com fornecedores locais

Brasil Econômico

Os investimentos na organização os jogos ou na preparação das cidades para sediar os grandes eventos esportivos no Brasil tem gerado negócios em vários setores da economia ainda até o inicio das Olimpíadas, afirmam os especialistas. Na Entertainment Sports Management (ESM), empresa de consultorias e planejamento de projetos na área de marketing esportivo, o movimento de companhias que querem vincular suas marcas aos esportes por causa dos jogos de 2016 começa a crescer, diz Fernando Maroni, diretor de operações da ESM. “Já estamos desenvolvendo muitos projetos e fechando outros com empresas que já são nossos clientes e outras que estão chegando, a demanda é variada, vai desde o patrocínio de atletas a eventos e compra de ingressos corporativos para o evento”, diz, mantendo os números em sigilo.

Conforme Alexandre Rangel, sócio de consultoria e especialista em megaeventos da Ernst & Young (EY), o pico de contratação de bens e serviços, especialmente para o Comitê, será no segundo semestre. E a demanda pelos serviços da EY, que atua na área de auditoria e consultoria, tem aumentado significativamente, diz. A procura maior é de empresas estrangeiras dos mais diversos portes que querem disputar os contratos de fornecimento de soluções para os Jogos Olímpicos e precisam de apoio em questão societária e tributárias, por exemplo, para operar no Brasil, explica. “E esses fornecedores também estão contratando e a tendência é de aumento dos negócios em várias áreas. É a cadeia de valor dos jogos”, afirma, acrescentando que algumas companhias estão vindo em intenção de ficar no país.

E já tem muitas empresas usufruindo desse valor há algum tempo, como é o caso da New Forms, que desenvolve sistemas construtivos para o setor da construção e é especializada na produção de banheiro pré-fabricado, que entrega pronto e completo, com sistemas hidráulico, de iluminação e louças. A companhia, de origem italiana, iniciou as atividades no Brasil em 2012, por meio de uma oint venture com a brasileira TSE Automação. “Pesquisamos, vimos que o mercado hoteleiro está em forte desenvolvimento e decidimos procurar um sócio”, diz Roberto Storti, sócio da New Forms, fábrica erguida em Aparecida de Goiânia (GO), com investimento de R$8 milhões e capacidade para produzir 250 banheiros.

Grande parte do sucesso da carteira, além da redução de custos e de até quatro meses no prazo de construção dos empreendimentos que o banheiro pronto possibilita, é atribuída às encomendas da Odebrecht. A empresa conquistou contratos para fornecer perto de 2,1 mil banheiros para três hotéis que a empreiteira brasileira está construindo, entre eles o que abrigará os jornalistas durante as Olímpiadas no Rio. “Não são penas os jogos, O Brasil é um país cheio de oportunidades. Na Itália, não tem esse volume de encomendas de uma vez só”, diz Storti, acrescentando do que a New Forms já encerrou as atividades na Itália, onde foi fundada em 1986. “Lá as encomendas mal chegava, a 500 ou 600 unidades por ano. Aqui fizemos esse volume nos primeiros sete meses.” A New Forbs, que compra no país 90% dos materiais que utiliza na fabricação dos banheiros emprega diretamente 85 pessoas, estima mais que dobrar o faturamento este ano, para cerca de R$ 20 milhões, ante os R$ 9,5 milhões de 2014.

Outra empresa que diz que veio para ficar é a chinesa Honav, que pela terceira Olimpíada consecutiva participa do licenciamento de produtos com a marca do jogos. Nos do Rio, são 50 categorias de produtos, que englobam desde pins, mascotes de pelúcias, porta-retratos, chaveiros e souvenirs, brinquedos até almofadas, diz Bruno Correa, gerente de empresa, que abriu filial no Brasil há cerca de 18 meses e estima faturar R$ 100 milhões até o final dos jogos. “É uma meta mínima. A Honav veio por causa das Olimpíadas, mas já viu que tem muita oportunidade na área de licenciamento, pretende continuar aqui e será bastante competitiva porque vai oferecer produtos melhores com preços menores”, observa Correa.

Grande parte dos produtos, que podem alcançar um volume total dentre 4 milhões e 5 milhões de unidades, está sendo fabricada na China, em companhias certificadas pelos organizadores e que já foram fornecedoras para outros Jogos Olímpicos. Mas a Honav vai terceirizar para as indústrias brasileiras, afirma Correa, entre 5% e 10% da produção, especialmente as que levam a marca Abraça, símbolo de sustentabilidade do evento e os produtos devem ser confeccionados com insumos sustentáveis ou recicláveis ou ambos. “Já estamos buscando esses parceiros no mercado. A ideia é lançar essa linha no ano que vem, mais próximo dos jogos”, afirma o gerente da empresa chinesa, que também contratou os serviços de três escritórios brasileiros de design para auxiliar no desenvolvimento dos produtos, além de auditoria, escritório de contabilidade e companhias de logística para a colocação de toda a sua linha no varejo do país.

Assim como a New Forms ou as companhias que produzirão para a Honav, as oportunidades ao longo da cadeia são incontáveis, principalmente para as pequenas e médias empresas, como fornecedoras de bens e serviços para as grandes. O alto fluxo de investimentos do Rio de Janeiro nos últimos anos, em diversas áreas e nem sempre diretamente relacionados aos jogos com o setor de óleo e gás, gerou aos menos 430 oportunidades de negócios para micro e pequenas, segundo estudo feito pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae – RJ) a partir de 80 projetos de obras ou de atuação de grandes empresas no estado do Rio.

Entre os projetos está o que Sebrae denomina Encadeamento Produtivo Odebrecht, que está à frente sozinha ou por meio de consórcios em várias obras no Rio, no qual a entidade aproxima as pequenas empresas da construtora, há cerca de dois anos. São uma média de 20 empresas por programa e a Odebrecht tem várias obras em andamento, diz Renato Regazzi, gerente de Grande Empreendimentos do Sebrae/RJ. “Essas são parcerias extremamente eficientes: as pequenas ampliam o mercado de atuação e as grandes ganham em produtividade e em fornecedor qualificado”, afirma o executivo.