23/10/07 11h28

Estoque de investimento já supera a dívida externa

Folha de S. Paulo - 23/10/2007

O maior interesse das multinacionais em aplicar seus recursos no Brasil já provocou uma mudança no perfil das contas externas: o saldo dos investimentos estrangeiros diretos superou a dívida externa do país. Esse interesse contribuiu para o ingresso de US$ 30,3 bilhões de investimentos estrangeiros neste ano, dos quais US$ 1,54 bilhão em setembro. Segundo levantamento feito pelo Banco Central a partir de dados de março, o estoque de investimentos é de US$ 257,6 bilhões, ante endividamento total (incluindo governo e setor privado) de US$ 182,1 bilhões. Ou seja, em termos de fluxos financeiros, o Brasil já depende mais das multinacionais do que de credores internacionais para fechar suas contas externas. Isso pode ser observado no aumento das remessas de lucros, que contrastam com uma queda nos pagamentos de juros da dívida externa. Entre janeiro e setembro, os gastos com juros foram de US$ 6,1 bilhões, valor 29% menor que o dos primeiros nove meses de 2006. Já as remessas de lucros cresceram 19% e já somam US$ 13,8 bilhões. Esse movimento reflete o fluxo recorde de investimentos que o Brasil tem recebido. A expectativa do BC é que, em 2007, o ingresso de capital externo seja o maior já registrado. Até agora, já foi registrada a entrada de US$ 30,3 bilhões, segundo dado parcial fechado ontem. Na média das previsões de cerca de cem analistas consultados pelo BC na sexta passada, esse valor deve ficar em US$ 30 bilhões -ou seja, o resultado apurado até agora já ultrapassou a expectativa do mercado. A estimativa oficial é que o ingresso fique em US$ 32 bilhões neste ano, mas o próprio BC diz que esse número deve ser ultrapassado -nesse caso, o número seria recorde, ultrapassando até os valores vistos na época das privatizações. Até agora, o recorde foi em 2000, quando, impulsionado pela venda do Banespa, o fluxo de capital externo para o país chegou a US$ 32,8 bilhões. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o maior volume de investimentos "reflete a consolidação do processo macroeconômico, com inflação sob controle, economia crescendo e perspectiva de obtenção do ‘grau de investimento'".