Entrevista com Ibrahim Salem Humaid Ali Alalawi, cônsul-geral dos Emirados Árabes Unidos em São Paulo
“Comercial e culturalmente, nosso futuro é brilhante”
InvestSPO Estado de São Paulo responde atualmente por 80% de tudo que o Brasil exporta para os Emirados Árabes Unidos. São produtos que vão desde minérios valiosos como o ouro, até commodities agrícolas e alimentos como açúcar e frango. Mas a pauta inclui itens como motores para aviões e, curiosamente, petróleo. Para Ibrahim Salem Humaid Ali Alalawi, cônsul-geral dos Emirados Árabes Unidos (EAU) em São Paulo, a relação entre árabes e paulistas tem imenso potencial para crescer e se diversificar abrindo espaço para artigos de maior valor agregado. “Os empresários brasileiros e paulistas têm muitas maneiras de ganhar dinheiro nos Emirados Árabes Unidos”, afirmou Alalawi, em entrevista à revista InvestSP.
Qual a importância comercial do Brasil e do Estado de São Paulo para os Emirados Árabes Unidos a médio e longo prazo?
O Brasil e o Estado de São Paulo não são apenas parceiros dos Emirados Árabes Unidos. São parceiros estratégicos. Construímos uma relação sólida. Nossos laços diplomáticos estão mais fortes do que nunca. Nossas trocas comerciais crescem constantemente e desenvolvemos interesse em saber mais uns dos outros. Vale lembrar que o jiu-jitsu brasileiro é muito popular nos Emirados Árabes Unidos, praticado em quase todas as escolas, assim como o futebol. Tanto é que o Emirado de Sharjah foi gentilmente convidado como participante de honra da 25a Feira Internacional do Livro de São Paulo, no ano passado. Não tenho medo de dizer que, comercial e culturalmente, nosso futuro é brilhante.
No momento, quais setores da economia paulista mais despertam o interesse dos Emirados Árabes Unidos?
De janeiro a outubro de 2019, os EAU importaram US$ 620 milhões do Estado de São Paulo. Em 2018, o valor total foi de US$ 590 milhões. Então, os Emirados estão comprando mais de São Paulo. Os cinco principais produtos que importaram de São Paulo em 2019 são: primeiro, ouro, com US$ 176 milhões. Segundo, o açúcar, em um total de US$ 113 milhões. Depois, foram motores turboélice para aeronaves, com contratos de US$ 108 milhões. Na lista, na quarta posição, está o petróleo, com US$ 54 milhões.
Emirados Árabes importando petróleo paulista?
Realmente, pode parecer estranho os Emirados Árabes Unidos importarem petróleo, mas isso está relacionado à capacidade de refino do país. Depois do petróleo, a carne de frango, com US$ 24 milhões. Esses cinco produtos representam quase 80% da quantidade total importada pelos Emirados em 2019.
A pauta de exportação é basicamente de commodities...
Sim, como podemos observar no ranking, com exceção dos turboélices, as commodities dominavam as exportações do Estado de São Paulo para os Emirados. Mas isso pode ser alterado. São Paulo tem capacidade para vender mais produtos com valor agregado, produtos manufaturados como tratores, veículos, fibras óticas, calçados, etc. De fato, esses produtos já foram exportados para os EAU, mas em pequenas quantidades. Há espaço para aproximação ainda maior, fazendo crescer e diversificar nossa relação comercial.
Como os empresários podem se aproximar dos Emirados Árabes Unidos e fortalecer as relações comerciais?
Os empresários brasileiros e paulistas têm muitas maneiras de ganhar dinheiro nos Emirados. O primeiro é explorar oportunidades em cada um dos sete Emirados, tanto de importação como exportação. A segunda maneira é usar a sofisticada infraestrutura jurídica e logística oferecida por suas zonas francas. Essas áreas, nas quais uma empresa pode ser configurada sem complicações em pouco tempo, podem ser usadas como um hub para empresas brasileiras. Uma vez estabelecidas nas zonas francas, essas empresas poderão alcançar mercados no Oriente Médio, Norte da África, Índia e Ásia.
Na sua opinião, a economia brasileira voltará a crescer em 2020?
É um consenso geral de que o PIB do Brasil crescerá em 2020 em torno de 2%, impulsionado pela modernização das relações de trabalho, ajustes das regras previdenciárias e reformas tributárias. Tudo isso vai ajudar a aumentar o consumo das famílias, que é a principal fonte de crescimento da economia brasileira. Com um pouco mais de investimento, o Brasil decolará novamente.
O empenho do governo do Estado de São Paulo de buscar negócios com China, Estados Unidos, União Europeia e nações árabes, é bem-visto pelos Emirados Árabes Unidos?
Definitivamente, é muito bem-visto. O Estado de São Paulo tem uma economia forte e diversificada. Responde por grande parte da riqueza do Brasil e tem competência para disputar globalmente com qualquer mercado. Então, São Paulo precisa tirar proveito disso tudo.
Atualmente, quais são as maiores barreiras que impedem o aumento do comércio entre o Brasil e os Emirados Árabes Unidos?
Na minha opinião, há espaço para melhorar o sistema tributário do Brasil. A boa notícia é que este governo está trabalhando nisso. Também vale lembrar que os Emirados Árabes Unidos e o Brasil assinaram, durante a recente visita do presidente Bolsonaro aos Emirados, um tratado que evita a dupla tributação. Isso é fundamental para destravar os negócios.
A tendência é que, gradativamente, a demanda mundial por petróleo, o principal produto de exportação dos Emirados, comece a cair nas próximas décadas. Como o Estado de São Paulo pode contribuir para que os países árabes diversifiquem suas economias e sejam menos dependentes do dinheiro do petróleo?
Antes de responder sua pergunta, gostaria de lembrar que a economia nacional dos Emirados Árabes Unidos é uma das mais diversificadas do Oriente Médio, nela, os setores não petrolíferos contribuem com mais de 70% para o PIB. De fato, é correto dizer que o petróleo é o nosso principal produto de exportação, mas, graças à nossa liderança, que norteou nossa economia desde a constituição do país, em 1971, os Emirados Árabes Unidos adotaram uma visão de desenvolvimento esclarecida que retrata um conhecimento global diversificado.
Atualmente, quais são as bases estratégicas da economia dos Emirados Árabes?
Somos baseados na economia competitiva e liderada por competências humanas nacionais. Para alcançar essa ambiciosa visão, os esforços de todos os setores governamentais nos níveis federal e local, em parceria com o setor privado, foram combinados para acelerar o crescimento econômico e garantir sua sustentabilidade.
Como São Paulo pode ajudar nessa diversificação?
Sim, voltando à pergunta, fico feliz em dizer que São Paulo já contribui para a diversificação de nossa economia. Por exemplo, a DP World opera em Santos, a Emirates Airlines voa diariamente para São Paulo, há investimentos dos Emirados em hotéis e telecomunicações. A Câmara de Comércio e Indústria de Dubai tem um escritório aqui e, por último, mas não menos importante, o Primeiro Banco de Abu Dhabi possui uma filial na capital paulista.