Empresas ganham mercado com a burocracia
Startups simplificam processos e ajudam a desburocratizar outras organizações
O Estado de S.PauloNo final de 2016 foi divulgado o relatório “Doing Business 2017”, um documento do Banco Mundial que traz o ranking dos países onde é mais fácil empreender. No topo da lista, Nova Zelândia e Cingapura. Já no Brasil, a burocracia imposta aos empreendedores fez com que o País figurasse em 123º – em uma lista de 190 nações. O tempo que as companhias brasileiras gastam em média preenchendo papelada e lidando com impostos é de 2.600 horas por ano, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para alívio dos empreendedores brasileiros, algumas startups trabalham para mitigar esses contratempos. Elas sobrevivem simplificando, desburocratizando e agilizando os processos de outras empresas em áreas como gestão, organização, marketing e atendimento.
Uma dessas startups é a Arquivei. A empresa fornece uma plataforma de armazenamento, organização e consulta de informações de notas fiscais, e surgiu para suprir a necessidade de uma gestão mais eficiente dos dados fiscais das empresas. Feito o cadastro de determinada companhia na plataforma, o Arquivei se conecta à Secretaria da Fazenda e Prefeituras, permitindo o monitoramento e download das notas fiscais referentes àquele CNPJ.
O sócio-fundador da empresa, Christian De Cico, já trabalhou na administração de uma construtora e sentiu na pele os desagrados que o impulsionaram a elaborar a solução. “Sempre tínhamos que pedir as notas fiscais aos fornecedores diversas vezes. Eles esqueciam, ou e-mail com o documento não chegava, ou estava pesado demais. A própria construtora estava criando uma cultura de rigidez, com cada vez mais obstáculos, apenas para obter o comprovante”, diz ele. “Percebi que seria menos caro e menos trabalhoso criar uma solução para o problema do que repetir sempre todo aquele procedimento.”
Além de dar acesso a um arquivo com todas as notas fiscais, a startup também permite que a empresa analise cada dado do documento e possibilita ao usuário fazer pesquisas com critérios diversos. Assim, ajuda setores das companhias como o de compras, que pode conferir se os produtos entregues estão de acordo com os descritos na nota.
De Cico saiu da construtora em que trabalhava para ver seu negócio sair do papel, e afirma que é gratificante acompanhar as empresas que o Arquivei atende fazendo a transição de uma cultura burocrática para mais praticidade. E sonha alto. “Queremos abranger absolutamente todas as empresas brasileiras”, revela ele.
A ambição da Nama é semelhante. A empresa, fundada em 2014, desenvolveu um sistema próprio de inteligência artificial e criou uma ferramenta que automatiza as conversas das companhias com seus consumidores. São os chamados chatbots, espécie de robôs que se relacionam e interagem com os clientes da empresa de forma inteligente e natural. Eles compreendem a fala coloquial e regionalismos, e automatizam serviços como realizar agendamentos e tirar dúvidas, além de tarefas transacionais. Para facilitar, os chatbots se comunicam por canais diversos, entre eles o chat do Facebook, Telegram, o chat do portal da empresa etc.
“Muitas empresas, mesmo as aparentemente mais rígidas, estão abertas a esse tipo de inovação, e o próprio processo de implementação do sistema da Nama faz com que a companhia reveja alguns de seus processos”, afirma o CEO da startup, Rodrigo Scotti.
“Utilizar a Nama é, por si só, uma quebra de paradigma por parte da empresa, porque ela automaticamente elimina a necessidade de roteiros duros de atendimento – que muitos funcionários já têm decorado na cabeça. A máquina prescinde de tudo isso e vai direto ao ponto, solucionando exatamente aquilo que o usuário quer.”
A redução dos custos com atendimento ao cliente que a Nama proporciona é de 40% a 90%, segundo Scotti. A startup atende a grandes empresas, como Bradesco e Accenture e, no momento, está desenvolvendo uma plataforma que interage virtualmente com os usuários do Poupatempo.
Para o CEO da Nama, todos têm a ganhar. “A partir do momento que uma empresa adota essa automação, ela acaba se desburocratizando de dentro para fora. Isso é transmitido aos consumidores, que passam a enxergá-la como uma empresa mais moderna e acessível.”
O aplicativo PiniOn mudou a forma como as empresas recebem feedback sobre seus produtos e serviços. Se antes elas tinham que recorrer a pesquisas caras e demoradas, o aplicativo, fundado em 2013, quebra esse paradigma. A plataforma tem mais de 260 mil usuários cadastrados – os chamados Opiners – que são remunerados a cada missão que completam, ou seja, a cada tarefa solicitada pelo PiniOn que executam corretamente.
São dois tipos de missão. As virtuais são questionários sobre determinada marca ou produto, que podem ser respondidos em qualquer lugar. Já as presenciais são feitas de acordo com a localização de cada Opiner, e ocorrem quando é necessário avaliar algo específico, como conferir se o preço de determinado produto ou sua disposição numa gôndola de um supermercado estão corretos. Para participar dessas missões, o usuário tem de ir até o local – só assim o teste é liberado. A fim de constatar se o consumidor está realmente no estabelecimento, o aplicativo utiliza o sistema de geolocalização do smartphone.
“Fazer pesquisas do modo convencional demanda muitas etapas e muito dinheiro”, diz Theo Hamaoui, co-fundador do PiniOn. “Isso leva dias ou até meses. Com o PiniOn, mandamos uma notificação para os Opiners e, e em questão de horas, recebemos as respostas.”