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Empresa recupera vendas e paga dias parados na crise

O Estado de S. Paulo – 25/07/10

Célio Dias Guimarães, 24 anos, e Valter Lima das Flores, de 43 anos, souberam da crise econômica mundial pelo noticiário. Mas rapidamente o problema cruzou os portões da MWM International (pertencente a americana Navistar), fabricante de motores instalada na zona sul de São Paulo, onde os dois trabalham.

Flores, técnico de operação, casado e pai de três filhos, tinha acabado de comprar uma casa financiada quando recebeu a notícia, em fevereiro do ano passado, de que a empresa precisaria reduzir a jornada de trabalho. Durante três meses, sempre às sextas-feiras, os empregados ficariam em casa, com redução de 20% da jornada. O problema estava no fato de que teriam de abrir mão de 17,5% do salário. "Cortei despesas porque tinha assumido a responsabilidade de pagar o financiamento. Não atrasei nenhuma prestação." A situação do montador Guimarães era menos desconfortável. Como morava com os pais, ele tinha uma sobra de caixa e costumava aplicar pelo menos 50% do salário na caderneta de poupança. A queda no rendimento o obrigou a reduzir gastos e um pouco das aplicações. E, é claro, alimentou um clima de incertezas. "Só se ouvia falar de crise o tempo todo, seja no noticiário, seja entre amigos e parentes que perderam o emprego, como o meu irmão", lembra.

Recentemente, a crise voltou a ter destaque nas conversas. Mas desta vez a notícia era boa. Flores, Guimarães e outros 3.300 trabalhadores conseguiram bater a meta acertada entre a empresa, a Força Sindical, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e de Canoas (RS), onde está a outra fábrica da empresa. Como resultado, uma remuneração extra.

No fim de abril, os empregados da MWM começaram a ser informados que haviam cumprido a primeira parte da meta. E acabam de saber que muito provavelmente baterão a meta por completo. Se isso acontecer, em janeiro de 2011, mês em que é pago o Programa de Participação nos Resultados Operacionais (PRO), os funcionários embolsarão um adicional de 52,5% sobre o contracheque (soma dos três meses em que foram descontados os 17,5%).

O ritmo de crescimento do mercado de motores está tão forte que a MWM fará o maior investimento da história. Serão US$ 345 milhões de 2010 a 2015 para, entre outras demandas, atender ao início da produção de motores da Man, dona da Volkswagen Caminhões e Ônibus, e a dois contratos de exportação fechados recentemente: um com a sul-coreana Daewoo e outro com a turca Otokar. Agora, com a certeza do dinheiro extra, os trabalhadores fazem planos. Flores promete finalmente investir na reforma da casa. Já Guimarães planeja fazer faculdade e se tornar engenheiro.