22/08/14 15h59

Empresa deve manter seu próprio time de pesquisa

Valor Econômico

Para aproveitar todo o potencial de inovação que uma parceria entre empresa e universidade pode oferecer, é preciso ser um bom intermediário. A conclusão é de Luis Cassinelli, diretor de inovação da Braskem. Segundo ele, a academia concentra os conhecimentos técnicos em áreas muito específicas e domina, com eficiência, a pesquisa nas bancadas. "Cabe às empresas decodificar as demandas do mercado e buscar nos laboratórios os estudos necessários para seus projetos. É preciso habilidade para entender a universidade e, ao mesmo tempo, encontrar as soluções certas para os clientes", explica.

Entre os pontos necessários para o sucesso, Cassinelli aponta o de manter centros internos de pesquisa e desenvolvimento. "A relação com a universidade não elimina a necessidade de uma estrutura mínima de inovação." O time corporativo é, na visão dele, mais adaptado à dinâmica de entregas, investimentos e conceitos de custo. "Na universidade as análises costumam ser feitas com paixão, porque essa é a essência do pesquisador acadêmico. Mas o direcionamento ao mercado exige visão empresarial, competência que é adquirida dentro da companhia."

O desenvolvimento conjunto, com a Unicamp, da resina de propeno verde foi, na opinião de Cassinelli, o grande divisor de águas para a estratégia de inovação da Braskem. "Aprendemos a estabelecer uma relação produtiva com a universidade, a partir da interação entre nossos profissionais e os pesquisadores do laboratório de biologia da Unicamp", explica. Durante o projeto, a Braskem manteve seus técnicos dentro da instituição de ensino, acompanhando cada passo da equipe acadêmica. "Conseguimos treinar pessoas para montar as bases de biotecnologia que utilizamos hoje em nossos centros." O laboratório que a empresa mantém em Campinas surgiu deste acordo. "Saímos da Unicamp, mas ficamos próximos para aproveitar a sinergia com a academia", comenta Cassinelli.

A Braskem investe anualmente R$ 200 milhões em projetos de inovação e, até abril deste ano, contabilizou 774 patentes depositadas. O direcionamento estratégico à inovação garante bons resultados nas vendas. "Os produtos lançados nos últimos três anos já respondem por 19% do volume comercializado de resinas de polietileno e polipropileno (as poliolefinas)", comenta Cassinelli.

Para lançar constantemente produtos, a Braskem mantém uma equipe com 333 pessoas dedicadas à inovação. São três centros de pesquisa: um em Triunfo (RS), um em Campinas (SP) e outro em Pittsburgh (EUA). As parcerias com universidades englobam 14 instituições - entre nacionais e internacionais - e incluem, entre outras, pesquisas para o desenvolvimento de polímeros e química renovável. Na lista de alianças, a Braskem destaca universidades nos EUA (como Stanford, Pittsburgh e Massachusetts) e Canadá (Universidades de Toronto e Waterloo). No Brasil, os projetos envolvem Unicamp, USP e Unesp.

Segundo o executivo, a relação entre empresas e universidades brasileiras evoluiu bastante nos últimos anos, mas ainda faltam transparência nos contratos e entendimento sobre a real contribuição da entidade de ensino e pesquisa nos projetos de inovação. "A contratação de serviços técnicos é mais fácil no exterior. As universidades estrangeiras colocam um preço e pronto", diz. No Brasil, mesmo com contrato, as universidades questionam participação no valor gerado pela inovação.