28/09/11 18h41

Empreiteiras da China planejam entrada no mercado brasileiro

Valor Econômico

Depois de décadas de forte crescimento das operações na Ásia e na África, empresas de construção da China agora estão de olho no mercado brasileiro, e do resto da América Latina, para expandir os negócios. Chunhe Diao, presidente da China International Contractors Association (Cica), que reúne empresas do setor com contratos de US$ 134 bilhões no exterior em 2010, disse ontem que várias empresas chinesas examinam operações de fusão ou aquisição no Brasil, visando especialmente projetos de infraestrutura.

"O Brasil é um dos mercados que vamos explorar para crescer, e temos interesse também em construção de usinas, estradas e petróleo", afirmou o executivo ontem em Genebra. Ele participou de um seminário focado na estratégia internacional chinesa e avisou que os investimentos chineses no exterior "estão apenas no começo".

Nada menos de 800 empresas sócias da Cica participam de projetos internacionais, apoiadas pelo crédito barato que Pequim fornece para ganharem licitações. Os contratos externos das empreiteiras chinesas passaram de US$ 2,5 bilhões em 1990 para US$ 134,4 bilhões no ano passado e provavelmente US$ 150 bilhões este ano.

O plano chinês procura combinar comércio e investimentos. Diao afirmou que a China tem excesso de produção de aço, cimento e outros produtos, sugerindo indiretamente que quer ter mais companhias operando no exterior pode ajudar a escoar esse excesso.

No Brasil, um dos projetos que interessa aos chineses é o do trem-bala, estimado em R$ 33 bilhões, para o qual Pequim está disposto a entrar com financiamento.

Qitao Liu, presidente da China Communications Construction Company, confirmou que a empresa continua interessada em participar do leilão do trem-bala. Em relação ao financiamento da obra, disse que isso estava sendo tratado "no mais alto nível", indicando que a participação poderia vir de decisão política.

O China ExIm Bank financia, por exemplo, 85% da construção de ponte sobre o rio Danúbio, na Sérvia. Dois terços da construção de um cassino nas Bahamas, também nas mãos de construtoras chinesas, são financiados por Pequim.

Para Changgi Wu, professor da Universidade de Pequim, o interesse da China pelo Brasil "é enorme". Conta que, no ano passado, acompanhou alunos empresários ao Rio, todos interessados no país. Segundo ele, um empresário, que foi seu aluno, produz pisos de madeira no Brasil e está ficando cada vez mais rico. "Ele agora comprou terreno na floresta", disse.

Os investimentos diretos estrangeiros (IDE) da China pularam de US$ 1 bilhão em 2000 para mais de US$ 60 bilhões no ano passado. Cerca de 70% foram na Ásia, outra fatia importante na África. O plano estratégico de Pequim prevê aquisições e fusões no exterior de pelo menos US$ 100 bilhões por ano, nos próximos cinco anos. É uma maneira de usar as reservas internacionais, de US$ 3,2 trilhões, e que podem duplicar até 2013.
Empresas como China National Machinery e China Railway Construction também participaram do seminário em Genebra, todas interessadas em expansão nos mercados emergentes. A mensagem principal dos chineses, trazida pelo vice-ministro de Comércio, Jian Chen, foi para os governos deixarem Pequim investir e não levantarem barreiras, sob o pretexto de segurança nacional.

Na Europa em crise, o primeiro contrato de uma gigante chinesa da construção na Europa terminou em fiasco. A empreiteira Covec está bem implantada na Ásia, tem operações na África, mas faltava a Europa. Ganhou licitação para a construção de uma estrada ligando a fronteira alemã a Varsóvia, para a Eurocopa de 2012.

A proposta chinesa era imbatível, bem mais barata que o previsto pelo governo polonês. Empresários poloneses reagiram, denunciando dumping e, na prática, um preço político, para que a Covec entrasse no mercado europeu. O grupo chinês disse que o preço era baixo em razão dos métodos de trabalho. Só que, depois de iniciar a obra, viu que não daria conta da tarefa. Quis renegociar o contrato, o que foi rejeitado pelo governo polonês, e teve que voltar para Pequim."