01/10/19 14h01

Empreendedorismo: é preciso sonhar para virar unicórnio

No último USP Talks, o cofundador da 99 e da Yellow, Renato Freitas, disse que “pitada de sonhador” é necessária para chegar ao sucesso

Jornal da USP

A ambição é um ingrediente essencial para se se criar uma startup de sucesso. Mas atenção: ambição não é sinônimo de ganância. O objeto final não deve ser o dinheiro, mas a realização de um sonho — palavra de quem já chegou lá, e agora quer ajudar outros a fazerem o mesmo.

“Você passa tanto perrengue na vida para empreender que, se não tiver alguma coisa dentro de você querendo te levar para aquele sonho, você desiste”, diz o empreendedor, nerd e sonhador Renato Freitas, cofundador das empresas 99, Yellow e Ebah. “Se você estiver pensando em dinheiro, vai fazer outra coisa”, completa ele, lembrando que a grande maioria das startups dá errado. “As que dão certo é porque o cara não larga o osso; e para você não largar o osso, tem que ter alguma coisa mais do que dinheiro.”

As declarações foram dadas durante o debate do último USP Talks, dia 24 de setembro, que discutiu o tema do Empreendedorismo. Freitas contou a história de como ele e outros dois egressos da Escola Politécnica (Poli) da USP – Ariel Lambrecht e Paulo Veras – fundaram, em 2012, a empresa de aplicativo de táxis 99, que seis anos mais tarde se tornaria o primeiro “unicórnio” brasileiro — startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

Depois da 99, Freitas ajudou a criar a Yellow — empresa de micromobilidade urbana, baseada no compartilhamento de bicicletas e patinetes elétricos —, e agora se coloca como investidor anjo, disposto a ajudar outros jovens obstinados como ele a transformar seus sonhos em realidade. Todo bom empreendedor, segundo ele, tem essa “pitada de sonhador”; um desejo de mudar o mundo, e muita força de vontade para fazer isso acontecer.

Lembrando, porém, que nem sempre é preciso abrir uma empresa — muito menos virar um unicórnio — para ser um empreendedor. Pesquisadores nas universidades, por exemplo, podem empreender de diversas formas, sem precisar deixar seus laboratórios nem abrir mão de fazer ciência básica, destaca Daniel Pimentel, diretor da Iniciativa Emerge, que busca, justamente, apoiar o empreendedorismo na academia.

As figuras do cientista na universidade pública e do empreendedor são muitas vezes vistas como antagônicas, mas podem (e devem) conviver em harmonia e fazer parcerias de sucesso, afirma Pimentel. Segundo ele, o Brasil é um país cheio de bons cientistas e de gente criativa, interessada em empreender, mas que “não consegue converter de forma sistemática” essa ciência e esse empreendedorismo em inovação e competitividade.

“A gente acredita muito que uma forma de alavancar esses resultados, e não só melhorar muito a qualidade de vida da nossa população, mas proporcionar o desenvolvimento econômico que a gente espera, é fazer com que cada vez mais a ciência saia das bancadas e chegue nos mercados, das mais diversas formas”, disse o jovem, de 26 anos, mestre em modelagem de sistemas complexos pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.