Em recuperação, Espanha aposta em negócios com o Brasil para crescer
Folha de S. PauloDepois de anos numa profunda crise econômica, a Espanha dá os primeiros sinais de recuperação –e aposta em negócios com o Brasil para ajudá-la a ampliar mercado, empregos e investimentos.
O Brasil já é o principal mercado para algumas empresas espanholas, como Telefónica, Santander e Indra. Agora, os 195 milhões de consumidores em potencial do país são uma das apostas da Espanha para crescer, já que o mercado interno minguou nos anos de crise.
O governo quer estimular a internacionalização de pequenas e médias empresas, além do fluxo contrário: o investimento de brasileiros na Espanha, que serviria como porta de entrada para o mercado europeu.
No trimestre passado, o país cresceu 0,5% –a quinta alta seguida. São os primeiros sinais de recuperação, depois de cinco anos em recessão.
Além de duras reformas fiscais e trabalhistas, que diminuíram salários e cortaram benefícios sociais, as exportações foram o motor de arranque da economia.
Hoje, a Espanha tem o dobro de empresas exportadoras do que há cinco anos. Em 2013, foi o segundo país que mais ampliou suas exportações, atrás apenas da China.
"Ou as empresas fechavam ou vendiam para fora", diz José María Blasco, diretor do programa de atração de investimentos do governo espanhol. O país diversificou seu mercado: se antes a União Europeia recebia 80% das mercadorias espanholas, hoje fica com 60%.
Caso o projeto dê os frutos esperados, a previsão agora é que a economia cresça 1,3% neste ano e 2% em 2015.
EL DORADO
O Brasil é um dos mercados mais cobiçados. A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no país, atrás apenas dos EUA.
Nos últimos cinco anos, quase € 10 bilhões (ou R$ 30 bilhões) foram investidos por espanhóis no Brasil.
Nem mesmo o frustrante desempenho da economia brasileira nos últimos tempos afugenta os espanhóis. "O Brasil é uma grande potência de projeção global", diz Pablo Bustinza, diretor para Iberoamérica do Ministério de Assuntos Exteriores. "O potencial continua enorme."
Na gigante Telefônica, com sede em Madri, costuma-se dizer que a América Latina (e o Brasil em especial) é responsável por "50% das receitas, 60% dos clientes e 100% do futuro" da empresa.
A expectativa é que os investimentos espanhóis no Brasil continuem elevados nos próximos anos.
Um deles é a Abertis, empresa que administra rodovias pedagiadas no Brasil. A previsão dela é aplicar R$ 1,4 bilhão no país somente neste ano e R$ 6,2 bilhões até o fim de suas concessões.
Na contramão, o Brasil ainda investe pouco, na avaliação dos espanhóis: foram € 2,6 bilhões nos últimos cinco anos –pouco mais de um quarto do fluxo contrário.
Empresários espanhóis dizem que esse montante é "nada", considerado o potencial.
O governo defende que a Espanha pode ser uma base de operações para o mercado europeu. Tem boa infraestrutura, aeroportos e rodovias estruturados e próximos dos grandes centros, baixo custo e mão de obra barata.