12/11/12 11h11

Em Franca, emprego em alta nos calçados

O Estado de S. Paulo

Cidade registra 30 mil empregados no setor, nível só atingido 13 anos atrás

Na contramão de outras cidades que têm no calçado o principal eixo da economia, Franca (SP) viu crescer o número de empregos neste ano. No mês de setembro, o setor calçadista registrou perto de 30 mil pessoas atuando diretamente nas fábricas, quantidade alcançada somente 13 anos atrás. Empresários atribuem isso ao mercado interno, já que as exportações seguem em baixa.

Na estatística de janeiro a agosto, Franca superou as expectativas e previsões para 2012 ao apresentar uma alta na geração de vagas. Os números locais são diferentes do que se vê no setor em todo o País, que nesse período apresentou um saldo negativo de 2,8% no número de trabalhadores, enquanto só no Estado de São Paulo a queda nas contratações foi de 1,9%.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam ainda que outros Estados produtores apresentaram redução nas contratações. O Rio Grande do Sul teve um decréscimo de 4,8%, enquanto o Ceará apresentou declínio de 2%, e a Bahia de 10,5%. Minas Gerais e Paraíba foram exceções e nos oito primeiros meses de 2012 fecharam com desempenho positivo, de 1,1% e 9,5% respectivamente.

Em Franca o crescimento do nível de emprego gira na ordem de 4%, tendo o setor encerrado setembro com 29.643 funcionários. Essa quantidade somente foi atingida nos anos 90, auge da produção que, naquela época, era voltada em sua maioria para o mercado externo, que nos últimos anos viu as vendas desabarem. Por sinal, calçadistas garantem que, se não fossem as vendas internas, seria impossível aumentar o número de empregos, já que as exportações caíram 15% de janeiro a setembro.

Importados. José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, diz que o resultado poderia ser melhor se não houvesse também a concorrência externa dentro do Brasil. Ele diz que, entre os anos de 2008 e 2011, em média 4 milhões de sapatos de couro foram importados ao ano de países como a China. Mas as medidas adotadas pelo governo, que subiu a alíquota do sapato chinês, segundo ele, ajudaram um pouco a indústria nacional.

Brigagão, porém, fala que ainda é preciso que o governo faça mais, dessa vez para evitar as importações de cabedal e sola, partes que, juntadas, praticamente formam o sapato. A alegação é que os países asiáticos estariam utilizando o recurso de enviar as partes dos sapatos para montar no Brasil, deixando de gerar emprego e se livrando da alíquota de importação.

A alta do emprego em Franca esbarra na falta de mão de obra especializada, a ponto de algumas empresas enfrentarem dificuldade para contratar funcionários. Para preparar o trabalhador, algumas iniciativas estão sendo tomadas, incluindo a criação de uma escola técnica no interior do CDP (Centro de Detenção Provisória). Uma licitação foi aberta pelo governo para a aquisição de máquinas que serão usadas no treinamento dos presos que, além de trabalharem dentro da cadeia, terão a oportunidade de emprego quando deixarem a prisão.

Para treinar os detentos, foi firmada uma parceria entre governo, indústrias e Senai. Hoje, três empresas já atuam dentro do sistema prisional em Franca, e a expectativa com o treinamento é expandir a iniciativa.

José Carlos Brigagão diz que, além desse trabalho nas cadeias, está sendo colocado em prática um programa que consiste em preparar moradores de cidades da região para trabalhar nas fábricas de calçados de Franca. Segundo o presidente do sindicato, a maior dificuldade para as indústrias é na área de pesponto (costura), que exige um profissional já capacitado.