Em 4 anos, Unesp reúne quase R$ 1 bi em recursos para pesquisa
Levantamento ProPe aponta momento histórico de captação de recursos em projetos e bolsas
UnespUm levantamento da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unesp revela que na atual gestão reitoral, iniciada em 2021, a Universidade ultrapassou o patamar dos R$ 900 milhões em recursos destinados a pesquisas científicas. Esse montante foi alcançado por meio de captações de projetos aprovados por agências de fomento, além de investimentos próprios, contabilizados até setembro deste ano.
O dado leva em consideração a soma dos valores captados nos últimos quatro anos na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e na Finep. A quantia captada nessas três importantes instâncias financiadoras da ciência e tecnologia no país representa cerca de 90% do total levantado.
Compõem os 10% restantes dos recursos captados os investimentos executados por meio do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Unesp, as contrapartidas institucionais executadas em grandes projetos de pesquisa, o programa institucional que deu incentivos a trabalhos de pós-doutorados, ações realizadas na chamada Unesp Presente, voltada a projetos de infraestrutura para apoiar o retorno às atividades presenciais no pós-pandemia, um projeto captado via fundação e a reestruturação do projeto do Instituto de Estudos Avançados do Mar (IEAMar).
Para a Pró-Reitoria de Pesquisa (ProPe), é possível comparar os recursos obtidos de 2021 a 2024 com outros períodos exitosos da história recente da Universidade, como, por exemplo, os valores alcançados de 2009 a 2012 via Finep (cerca de R$ 34 milhões) e de 2013 a 2016 via Fapesp (cerca de R$ 550 milhões). Mas o conjunto dos dados, com a totalidade dos recursos aplicados em infraestrutura e recursos humanos para pesquisa científica próxima a um patamar bilionário, faz do atual momento um ponto de convergência ímpar entre altas somas captadas em várias frentes de financiamento, recursos injetados pela administração central para a pesquisa e engajamento da comunidade universitária na produção científica.
"Observamos que, após a pandemia, tivemos um grande engajamento de nossa comunidade científica para aprovação de projetos e bolsas, principalmente na Fapesp e no CNPq. Estas ações individuais de nossos pesquisadores contaram com apoio significativo da administração central, principalmente envolvendo recursos da Chamada Unesp Presente, PDI da ProPe e contrapartidas institucionais", afirma o pró-reitor de pesquisa Edson Cocchieri Botelho. "Os resultados já são sentidos pela comunidade interna e refletidos positivamente nos rankings de avaliação de universidades. Acredito que, como fruto destes investimentos, a Unesp passou para um outro patamar em suas pesquisas", diz.
Segundo o pró-reitor, a captação junto à Finep, que atingiu R$ 31,1 milhões até setembro, seguiu um novo modelo que envolveu o estabelecimento de uma parceria estratégica entre a ProPe, a Propeg (Pró-Reitoria de Planejamento Estratégico e Gestão), a Fundunesp (Fundação para o Desenvolvimento da Unesp) e a Auin (Agência Unesp de Inovação).
Outras ações de gestão, tomadas no nível da pró-reitoria, também fizeram a diferença para o "destravamento" de recursos outrora captados, como ocorreu no IEAMar. O instituto sediado inicialmente no litoral paulista foi "reinaugurado" em 2023 e teve o seu modelo de funcionamento adaptado à estrutura multicâmpus da Universidade, com equipamentos multiusuários descentralizados e articulados com estudos desenvolvidos em seis câmpus universitários diferentes, o que viabilizou nova infraestrutura para pesquisa.
"Nossa ideia foi sempre manter a Unesp como referência em instituição de pesquisa e esses recursos estimulam pesquisas mais refinadas, com equipamentos que geram resultados mais confiáveis. A tendência é a pesquisa ficar mais competitiva e inovadora", afirma o professor Sérgio Felisbino, assessor da ProPe, para quem o comprometimento da comunidade científica unespiana foi fundamental. "Houve engajamento dos docentes, que quiseram se envolver em projetos de captação e abrir frentes de trabalho em pesquisa", diz.
Até setembro de 2024, só na Fapesp foram captados R$ 519,8 milhões nos últimos quatro anos, além dos R$ 47,8 milhões referentes à soma dos valores envolvidos nas 24 propostas da Unesp contempladas na chamada para equipamentos multiusuários de pequeno e médio porte, cujo resultado foi divulgado recentemente. Os equipamentos multiusuários incluídos nas 24 propostas são destinados a 16 unidades unespianas diferentes, distribuídas por 12 câmpus.
A professora Manuela Berto Pucca, que ingressou em 2023 como docente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do câmpus de Araraquara, foi uma das contempladas na chamada com três equipamentos multiusuários e afirma que as novas instalações impulsionarão a pesquisa científica na sua unidade universitária e também na região. Uma delas, por exemplo, faz a análise da interação entre biomoléculas, importante no trabalho com alvos terapêuticos para a produção de novos fármacos. "Os EMUs (equipamentos multiusuários) vão impactar muito nossas produções científicas", diz a docente. "Vai haver também retorno desses recursos para a Universidade à medida que houver a geração de novas propriedades intelectuais e a oferta de serviços porque os equipamentos poderão ser usados por empresas, principalmente startups. Vai estimular a produção de inovação", afirma a pesquisadora.
Cepid e INCT
No âmbito da Fapesp, a Unesp conseguiu também nos últimos anos a aprovação de propostas de Centros de Ciência para o Desenvolvimento e a criação de seu primeiro Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), programa que estimula pesquisas na fronteira do conhecimento com impacto social. O Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima) está sediado no Instituto de Biociências do câmpus de Rio Claro e prevê de 5 a 11 anos de projetos, com um aporte de R$ 40 milhões, sendo ao menos 40% investidos em bolsas. Possui uma coordenadora, um vice-coordenador, cinco pesquisadores principais e dezenas de outros cientistas envolvidos nos trabalhos desenvolvidos pelo centro --a última parcial listava 114 pesquisadores ligados a atividades do centro, da iniciação científica ao pós-doutorado.
"Vamos poder renovar laboratórios, comprar equipamentos, ter estrutura para ir para o campo e, como há bolsas, cria uma demanda de estudantes que estava reprimida, tinha decaído muito na pandemia e no pós-pandemia", afirma a professora Patricia Morellato, coordenadora do CBioClima. "E como fazemos pesquisa sem ter pós-graduandos? Essa é uma roda que precisa de estímulos para mexer. Não consigo fazer pesquisa sozinha na minha sala ou indo sozinha para o campo. Os estudantes são a alma do que fazemos aqui. São pesquisadores pós-doutores, de mestrado, doutorado e alunos de iniciação científica que movem essa cadeia de pesquisa. Eles aprendem e geram conhecimento junto com a gente. As pessoas estavam desalentadas e, em um projeto como esse, começo a ver os olhos delas brilharem de novo, porque cria um ambiente de trabalho que vai atraindo cada vez mais pessoas", diz a docente.
Em um ano e meio de funcionamento, o CBioClima contabiliza 73 papers publicados. "Outro ponto importante são as conexões que a gente cria com outros pesquisadores, que não existiam. Isso gera uma ciência que é superior àquela ciência que cada um fazia antes disso e um ambiente mais criativo e colaborativo que melhora tudo o que está no entorno dele. Gera uma ciência melhor", afirma Patricia Morellato.
O espírito colaborativo gerado com o envolvimento em grandes projetos de pesquisa também é ressaltado pelo professor Leonardo Fraceto, que coordena a área de inovação do CBioClima e assumiu a coordenação de um INCT em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável. Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) são centros de pesquisa multicêntricos financiados pelo CNPq que estimulam a atividade científica Brasil afora. Na Unesp, os recursos para pesquisa captados via CNPq de 2021 a setembro de 2024 chegaram a R$ 194,1 milhões.
"O impacto (dos recursos captados para pesquisa) sempre é coletivo. Estou como coordenador (do INCT), mas a proposta foi construída de forma coletiva. Para mim, esse é o segredo de conseguir bons financiamentos: você ter boas redes de relacionamento", diz Leonardo Fraceto, docente do Instituto de Ciência e Tecnologia do câmpus de Sorocaba.
Fraceto afirma que um marco importante de sua trajetória foi o projeto temático da Fapesp que obteve em 2018 para estudar agricultura e nanotecnologia. "O papel da pesquisa na universidade é ser colaborativa. Se você não fizer pesquisa colaborativa, está isolado. O grande diferencial para mim foi o (projeto) temático. A partir dali, a cultura da colaboração foi ampliada dentro de uma rede de pesquisadores", afirma. "Se você está acostumado com este tipo de cultura, são formados novos líderes, novos pesquisadores e as coisas caminham."