21/05/07 11h32

Eficiência, avanço e concentração, os legados do etanol

Valor Econômico - 21/05/2007

O agronegócio brasileiro está de volta ao trilho do crescimento. Puxado por uma locomotiva agora movida a álcool e com perspectivas de aumento da demanda global para a produção de energia e alimentos, o setor tem pela frente, segundo especialistas ouvidos pelo Valor, uma oportunidade valiosa de romper de vez com um passado marcado por administrações familiares e pouco transparentes, crises financeiras e rolagem de dívidas, e consolidar um processo de fortalecimento que ganhou fôlego principalmente após o fim da paridade entre real e dólar, em 1999. Em um ambiente onde gestão e investidores (nacionais e estrangeiros) profissionais buscam conferir uma nova dinâmica, colaboram para alavancar as vantagens do país e transformá-lo no grande fornecedor de produtos agropecuários do mundo neste século o potencial de expansão da produção, a produtividade das principais cadeias e preços atraentes em mercados internacionais com forte presença brasileira - como suco de laranja, soja, etanol e carnes. No país, há cerca de 90 novas usinas sucroalcooleiras em fase de instalação e quase 200 em estudos - destas, metade com participação de investidores estrangeiros -, conforme a Dedini Indústrias de Base, que fornece equipamentos para quase todos os projetos. Nas contas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), apenas as usinas que estão sendo instaladas e entrarão em operação até 2009 reúnem aportes de US$ 17 bilhões. Com isso, observa Guilherme Dias, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP), mais 1 milhão de hectares de canaviais estão prestes a se unir aos mais de 6 milhões em produção no país e mesmo as mais ambiciosas previsões quanto ao futuro da demanda por etanol não parecem assustá-lo. Segundo a Unica, na safra 2006/07 foram produzidos no Brasil 17,7 bilhões de litros de álcool. Do total, 14 bilhões foram consumidos internamente e 3,7 bilhões foram exportados, sobretudo para os EUA. Fabio Silveira, da RC Consultores, projeta que a demanda doméstica, movida pelos carros flex fuel, poderá atingir 28 bilhões de litros em 2015, e que até lá o Brasil contará com um excedente exportável de pelo menos 5 bilhões de litros. Muitos crêem que o excedente poderá ser maior, mas para este volume a demanda é incerta, apesar do compromisso do presidente George Bush de reduzir em 20% o uso de gasolina nos EUA até 2017, que deflagrou aportes bilionários também naquele país. Se cumprida a meta, serão necessários 132,2 bilhões de litros de combustíveis alternativos adicionais, a maior parte de etanol. Independentemente de eventuais obstáculos no curto prazo, é quase consenso que a cana, puxada pelo álcool, tem todas as condições de se tornar a cultura com maior renda agrícola ("da porteira para dentro") do país nos próximos anos. Em 2007, segundo o Ministério da Agricultura, a renda dos canaviais deverá atingir R$ 21,528 bilhões (US$ 10,58 bilhões), ou 18,9% do total esperado para os 20 principais produtos agrícolas brasileiros.