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Economistas e BC veem crise transitória

Valor Econômico - 02/03/2009

Predomina entre os economistas de instituições financeiras a certeza de que a crise brasileira é transitória. A queda fulminante da produção industrial no último trimestre do ano passado resultou de um processo já encerrado de desestocagem feroz. Logo o país voltará a crescer. E é aí que mora o perigo. O retorno da demanda doméstica a um patamar pré-crise permitirá o repasse aos preços da disparada ocorrida no preço do dólar. A depreciação cambial não foi esquecida, permanece reprimida à espera de uma oportunidade futura. É por esta razão que o Copom do Banco Central não fará movimentos radicais de corte na taxa Selic. Deve fazer mais dois cortes de um ponto nas reuniões de março e abril e, então, proceder a uma parada técnica de avaliação. De acordo com relatos de participantes, esta foi a síntese dos encontros realizados na quinta e na sexta-feira entre o BC e economistas do mercado. Tais reuniões, fechadas à imprensa e ao público em geral, fazem parte do arcabouço legal do sistema de metas de inflação. Entre as peças fundamentais desse regime fazem parte as reuniões do Copom, a ata desses encontros, o Boletim Focus e o Relatório Trimestral de Inflação. E é para colher subsídios do mercado para a posterior redação do Relatório que os diretores do BC se reúnem com representantes de bancos, assets, corretoras e consultorias. As reuniões têm, por isso, a mesma periodicidade trimestral do Relatório ao qual se vinculam. E, nelas, os representantes do BC mais ouvem do que falam. Nos encontros de sexta-feira ocorridos em São Paulo, o BC foi representado unicamente pelo diretor de Política Econômica, Mário Mesquita. Ele fez perguntas aos analistas em três assuntos: atividade, setor externo e inflação. E as respostas foram, em sua maioria, otimistas em relação à atividade e pessimista relativamente à inflação, na linha de raciocínio desenvolvida por ex-diretores do BC, hoje no setor privado. A análise que prevalece é a de que os efeitos primordiais da crise americana sobre a economia brasileira se materializaram sob a forma de uma contração do crédito e de uma acentuada queima de estoques. Esses dois impactos são transitórios. Por isso, o governo deve se preparar para uma fase de repique inflacionário futuro, quando as empresas se sentirem confortáveis para repassar aos preços a alta do custo de produção decorrente do câmbio depreciado. São poucas as vozes discordantes deste cenário. Uma delas pertence ao economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo da Silveira. Para ele, há uma componente da crise que não é transitória. Trata-se do investimento. Este item, por afetar variáveis fundamentais (como construção, estoques, capital de giro e emprego), reveste a crise de um caráter mais permanente. Para o economista, o Brasil atravessa agora uma recessão severa. E o PIB deste ano irá cair 0,5%. Na visão de Silveira, nem o mercado, nem o BC precisam estar preocupados com o pass-through cambial. O preocupante é a inércia para 2010 da redução do investimento. Coerente com seu diagnóstico, Silveira defende corte da Selic maior do que o consenso. Para ele, o Copom deveria ampliar a velocidade de baixa para 1,5 ponto já na reunião do dia 11.