22/03/23 12h54

Economia criativa movimenta R$ 800 milhões por ano em Rio Preto

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município, os diversos segmentos que compõem o setor da economia criativa movimentam R$ 800 milhões ao ano, 4% do total do PIB

Diário da Região

Você já ouviu falar em economia criativa? Em resumo, economia criativa é a soma de economia - ciência que regula a produção, distribuição e consumo de bens e serviços - com criatividade - criação de algo novo ou a transformação de algo que já existe. Em Rio Preto, esse conjunto de atividades baseadas no capital intelectual movimenta R$ 800 milhões por ano, conforme a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Negócios do Turismo. Cifra que, de acordo com a pasta, representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade.

No mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os bens e serviços culturais produzem aproximadamente 7%, com expectativa de crescimento anual entre 10% e 20%.

Na conta da economia criativa, conceito criado pelo inglês John Howkins, em 2001, entram as expressões culturais tradicionais, como artesanatos, festivais e celebrações, os serviços criativos, como a cultura e recreação, mídias relacionadas com a indústria criativa, como softwares, jogos e conteúdos digitais, design, produções audiovisuais, como o cinema, trabalhos de publicidade e mídia impressa, artes dramáticas, como música, teatro e dança, além das artes visuais – pinturas, esculturas, fotografia, entre outros setores, inclusive, alimentados por recursos públicos de incentivos e fomentos.

Todos esses produtos e serviços com valores simbólicos embutidos movimentam uma fatia importante da economia, chamada de economia criativa. “O artesanato, uma atividade importante porque tem o que a gente pode chamar de menor renda comparado com outras atividades, mas tem um impacto e uma capilaridade muito grande em diversos segmentos da população”, afirmou o secretário de desenvolvimento econômico, Jorge Luiz de Souza.

O impacto, segundo Souza, é medido por toda a movimentação por trás de uma peça, pelo consumo de materiais, linha, couro, tecidos, adereços, pedraria, pintura, gravação, entre outros insumos. “Você olha para o artesão sozinho, você vai ver que ele vende uma bolsa a R$ 50 reais, mas não é só. É o que tem por trás disso, quanto desse R$ 50 teve de impacto para a empresa que vendeu a agulha, a linha e outros insumos. É assim que a gente mede o impacto, o quanto o produto gera de oportunidades para outros setores da economia”, explicou.

Festival Internacional

Na mesma lógica do artesanato, segundo o secretário, funcionam as outras atividades criativas. Um exemplo claro dessa fatia do PIB é a movimentação econômica gerada pelo Festival Internacional de Teatro (FIT) em Rio Preto. Segundo pesquisa contratada pela Secretaria, o FIT, em 2022, teve um investimento do município em torno de R$ 2,5 milhões e movimentou R$ 9,6 milhões na economia.

De acordo com Souza, os quase R$ 10 milhões gerados pelo festival são gastos com deslocamentos, alimentação, hospedagem e serviços, como transporte por vans e táxis. “Os espetáculos, por exemplo, movimentam os setores de prestação de serviços, seguranças, bombeiros civis, montagens dos cenários, som, luz. Nesses R$ 9,6 milhões não colocamos os investimentos da prefeitura, é um valor apenas do que foi gerado pelas demandas em outros segmentos da economia”, explicou o secretário.

Já neste ano, a economia criativa de Rio Preto ganhou a edição do OBA Festival. Os quatro dias do carnaval, segundo levantamento da Associação Comercial de Rio Preto (Acirp), gerou R$ 84,6 milhões para a cidade. “Um impressionante número do que foi movimentado na economia de Rio Preto e seus reflexos”, disse o secretário. (Colaborou Francela Pinheiro)

Demanda é maior do que recursos disponíveis

O ator e diretor Jorge Vermelho afirmou que os recursos vindos do fomento governamental são importantes, mas estão longe do ideal. Isso porque há muita demanda de trabalhadores das artes e da cultura. “O ideal é um aumento no investimento no setor cultural, pois assim alavancaremos a economia do setor e possibilitaremos o acesso da cultura à população, de forma abrangente”, analisou.

De acordo com Vermelho, para que a cultura se fortaleça, é necessário planejamento, como o Plano Municipal de Cultura de Rio Preto, em fase de construção e implantação. “Um instrumento que norteará as políticas públicas para os próximos dez anos. O Plano tem a função de ouvir os moradores e construir, coletivamente, um pensamento cultural para a cidade”, explicou.

O fotógrafo Victor Natureza foi contemplado duas vezes pelo ProAC ICMS, como curador de exposição e cobertura fotográfica. De acordo com ele, os fomentos são fundamentais para classe artística. “Gera contratações de profissionais de diversas áreas, até mesmo fora da cultura, uma vez que precisamos de diversos serviços, desde alimentação, técnicos de som e luz, estrutura para exposição, transporte, entre outros”, afirmou.

O fotógrafo Jorge Etecheber, premiado pelo ProAC Lab e preponente em projetos do ProAC Direto, disse que os fomentos abrem possibilidades de ações formativas e viabilizam projetos de pesquisa. Por outro lado, o fotógrafo afirmou que a demanda por incentivo é maior. “O ideal seria o aumento participativo na verba de arrecadação do município proporcionando o financiamento em valores e setores maiores das ações. A real transformação do valor de 3% da arrecadação de tributos do município em lei de direcionamento para a Secretaria Municipal de Cultura”, afirmou. (TP)

Estado tem leis de fomento

Os fomentos diretos aprovados pelo Estado também estão no contexto da economia criativa. Nos últimos quatro anos, o Estado autorizou R$ 18,9 milhões em projetos de Rio Preto, segundo a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado, divididos em quatro modalidades do ProAC, com 182 projetos, programa Juntos pela Cultura e destinações para eventos culturais, como o Mais Orgulho SP. O valor, aprovado pelo governo de São Paulo, entre os anos de 2019 e 2022, é considerado como importante para geração de emprego e renda, porém longe do ideal, segundo artistas.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Negócios de Turismo, Jorge Luiz de Souza afirma que, o impacto econômico dos fomentos diretos é importante para a economia do município. “Essas leis de incentivos, como o ProAC, o ProAC ICMS e a Lei Rouanet têm seus impactos financeiros. Essas pessoas que se apresentam estão sendo remuneradas e vão gastar no varejo, no comércio, vão pagar aluguel, vão alugar equipamentos, som, carro, usar serviços de transportes, de locação, então tem um impacto financeiro muito grande”, analisou.

A diretora de Economia Criativa da Acirp, Drica Sanches, afirmou que os fomentos diretos estimulam a economia do município e levam o poder de transformação da cultura no aspecto humano e social. “Para além dessa perspectiva, também promovem a sustentabilidade dos setores criativos que impactam toda uma cadeia produtiva - indústria, comércio e serviços -, pois, para a execução de um projeto cultural, da pré-produção até a entrega do produto cultural/criativo é necessário o envolvimento de muitos outros segmentos como hotelaria, alimentação, gráfica, comunicação, som, luz, estrutura, vestimenta, entre outros.” (TP)

 

Fonte: https://www.diariodaregiao.com.br/economia/riopretoeregiao/economia-criativa-movimenta-r-800-milh-es-por-ano-em-rio-preto-1.1057806