Economia criativa cresce e gera emprego e renda em Campinas
Setor vem ganhando cada vez mais adeptos na cidade; negócios também contribuem para o desenvolvimento sustentável e humano
Correio PopularCampinas segue os passos do desempenho nacional e vê a expansão da economia criativa, termo criado para nomear modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e renda. Um dos projetos locais é o programa da Feira da Mulher Empreendedora, desenvolvido pela Prefeitura, que cresceu 12,5 vezes em apenas um ano e meio. Lançado em março de 2022, "o programa nasceu como projeto, começou com 80 mulheres e agora são mais de mil. Temos agora as feiras descentralizadas e duas lojas colaborativas. A importância não é só de geração de renda, mas também a superação social", diz a secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecleya Moro.
Um levantamento do Observatório Nacional da Indústria (ONI) , núcleo de inteligência e análise de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), indica que, até 2030, a economia criativa criará 1 milhão de novos empregos no país, atingindo a marca de 8,4 milhões de trabalhadores. A previsão é de um em cada quatro novos empregos criados nos próximos anos seja em setores e ocupações desse setor. Grande parte dessas atividades vem dos segmentos de cultura, moda, design, música e artesanato, tecnologia e inovação, desenvolvimento de softwares, jogos eletrônicos e aparelhos de celular. Também estão incluídas as atividades de televisão, rádio, cinema e fotografia, além da expansão dos diferentes usos da internet, desde as novas formas de comunicação até seu uso mercadológico, por exemplo.
Na segunda-feira (11), Andressa dos Passos Mira, Ângela Gomes, Jussara Moraes e Rosana Domingues Torres dos Santos iniciaram a exposição de seus produtos na loja colaborativa Mulheres do Bem. Mais do que se um local de venda, trata-se de um espaço de inovação, troca de experiências e crescimento para as empreendedoras. "É uma oportunidade para apresentar seu produto para um público maior, com muitas encomendas sendo feitas depois", diz Andressa Mira, que deixou o trabalho de 19 anos com carteira registrada para atuar com a produção de semijoias de pedras e velas aromáticas.
Os seus itens estão expostos ao lado de outros, como brinquedos educativos, bolsas de diferentes materiais, trabalhos em crochê, roupas, sabonetes artesanais e bonecas de pano. Atrás de cada um deles está uma história de crescimento pessoal, superação, orgulho do que faz e alegria por novas oportunidades estarem surgindo. "Essa participação será uma vitrine para mim. Outras duas lojas vão vir aqui para conhecer meus produtos e ver como ficam expostos ao lado de outros", diz Jussara Moraes, que faz terrários.
Novos espaços
"Isso também enriquece nosso portfólio. É um diferencial mostrar em nossas redes sociais que nossos trabalhos estão em uma loja como esta", completa. Além de uma nova atividade, o artesanato ajudou Jussara a superar a depressão que surgiu ao parar de trabalhar após 27 anos para ser mãe. Ela conseguiu, por esse meio, conciliar o que gosta, administrar melhor o tempo e se dedicar à família.
As lojas das Mulheres do Bem começaram a ser abertas este ano, funcionando em dois shoppings centers de Campinas, que cedem os espaços para o projeto da Prefeitura. As participantes são escolhidas por sorteio e há um rodízio de expositoras a cada 15 dias para dar oportunidade de um maior número apresentar suas criações.
"Nós começamos participando de ações de saúde, com a arrecadação de absorventes para mulheres carentes, e expandimos nossa colaboração agora com esse programa voltado para a economia. Nós entendemos que é preciso cuidar da mulher como um todo", explica a gerente de Marketing de um shopping onde uma das lojas está aberta, Thaís Sperancini Gomez. Esse envolvimento com as ações levou o empreendimento a ganhar o Selo de Amiga da Mulher concedido pela Prefeitura.
Avanços
A coordenadora da Política Pública para as Mulheres da Secretaria de Assistência Social, Grazielle Coutinho Moreno, explica que o Programa Mulheres Empreendedoras, além de incentivar mulheres que investem em seu próprio negócio, abre oportunidades para vítimas de violência doméstica. Elas fazem cursos oferecidos pela pasta para que tenham uma fonte de renda e conquistem a independência financeira que permita se afastar do agressor. "Não é só um trabalho de geração de renda, de desenvolvimento de cursos, de incentivo à autonomia, mas também é uma ação social de fortalecimento dessas mulheres", afirma.
"A economia criativa é responsável por promover o desenvolvimento sustentável e humano e não apenas o crescimento econômico. A cultura, a criatividade e o conhecimento são matérias-primas da economia criativa e os únicos recursos que não se esgotam. Quanto mais utilizada, mais ela se multiplica e se renova", diz Ana Carla Fonseca Reis, economista especializada no tema. Para o gerente do Observatório Nacional da Indústria, Márcio Guerra, é preciso estar atento aos desafios impostos pela transformação digital da indústria criativa.
"Quem quiser crescer, é preciso investir em qualificação de habilidade relacionada à pesquisa de mercado, marketing e branding [conjunto de ações alinhadas ao posicionamento, propósito e valores da marca], design de sites, logística, pagamentos, marketing digital e atendimento ao cliente, por exemplo", afirma. Domênica Odila Fidelis Andrade busca participar do maior número de oportunidades que surgem para apresentar seus trabalhos nas áreas de bordado e costura, seja em Campinas ou outras cidades, e também se especializar em como administrar o próprio negócio.
Há três anos, ela passou a se dedicar somente ao artesanato, buscando fazer algo do que realmente gostava, após trabalhar por 21 anos em grande rede supermercadista. De lá para cá, ela conquistou 40 certificados de conclusão de cursos oferecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que vão desde aprender a definir o preço de seus produtos, como cuidar da parte administrativa e financeira e até como diferenciar seu trabalho. "Pano de prato todo mundo faz. Eu procuro fazer algo criativo, levar alegria, diversão para a cozinha", diz Domênica.
O pano de prato, carro-chefe de seu trabalho, traz frases bem-humoradas associadas a um personagem de meme, o Flork. O próximo curso já está agendando, o de atendimento ao cliente. Ela aponta que o caminho não é fácil, já pensou em desistir, mas a persistência e a dedicação a levou hoje a conseguir empatar os ganhos com o salário que recebia anteriormente. "Antes eu era uma executora, fazia o que empresa mandava. O trabalho com a costura, o pano de prato me ensinou a sonhar com o céu, porque isso é possível", explica Domênica.
Ela conta orgulhosa que seu trabalho já chegou ao exterior. "Eu vendi panos que foram dados de presente para uma pessoa que mora na França. Depois, essa pessoa que foi presenteada me procurou para fazer nova encomenda", conta. A artesã se define como "aprendiz de microempreendedora" e terceirizou a confecção das barras do pano, para se dedicar mais à produção, e busca atrair a filha Rayssa, de 21 anos, a trabalhar com ela, principalmente para ajudar na divulgação nas redes sociais.
Esses canais são uma ferramenta poderosa para quem atua com economia criativa, ajudando a mostrar as criações e atrair clientes de outras regiões. Esse mercado sem limites geográficos representa hoje 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e empregava 7,4 milhões de pessoas no 4º trimestre de 2022, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dos 117.122 estabelecimentos da economia privada, 86.127 são microempresas, o equivalente a 74,21% do total. Se incluir as 24.381 pequenas empresas, o índice sobe para 95,02%.
Um projeto nessa área desenvolvido pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo envolve 4 mil empreendedores e outros profissionais impactados nos segmentos de artesanato, artes cênicas, criação audiovisual, ações culturais e gastronomia. Um dos incentivos para a expansão foi para a Feira Hippie, que em 2023 completa 50 anos e há um passou a ter edições nos bairros, além da tradicional no Centro de Convivência.
Nos próximos dias, será lançado também o Guia Turístico com Sugestões de Roteiro nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio. "Além de mostrar os artistas, também vamos ter um calendário de eventos", explica a assessora do Departamento de Cultura, Maria Cecília Campos. A ação envolve setores de diferentes pastas da Prefeitura e associação de hotéis e eventos de Campinas. Outro estímulo para a economia criativa será o lançamento em breve dos editais para eventos culturais a receberem incentivos da Lei Paulo Gustavo.