DSM reforça aposta na América Latina e investe em ampliação
Valor EconômicoA multinacional holandesa de especialidades químicas DSM está reforçando a aposta na América Latina, a despeito do momento difícil que atravessam algumas economias da região, em especial o Brasil. Além de investir na ampliação da capacidade produtiva na área de nutrição animal, o grupo, que também atua em nutrição humana, insumos para cosméticos, plásticos de engenharia, resinas para tintas e fibra de polietileno, pretende desenvolver no país novos negócios na área de biocombustíveis e de químicos produzidos a partir de fontes renováveis.
Com investimentos de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões, a DSM vai iniciar neste ano as obras de expansão da fábrica da Tortuga, líder no mercado brasileiro de nutrição animal para bovinos, em Mairinque (SP). A expectativa é de que a ampliação esteja operacional em 2017. O grupo também está instalando em Campinas (SP) um laboratório de pesquisas com vistas a desenvolver uma tecnologia economicamente viável para produção de etanol de segunda geração, a partir do bagaço da cana-de-açúcar, e mais adiante, de biomateriais.
"A DSM decidiu que não vai participar da crise. A operação na América Latina vai crescer neste ano, apesar dos grandes desafios enfrentados por Brasil, Argentina e Venezuela", disse ao Valor o novo presidente da DSM América Latina, Maurício Adade. Recém-chegado ao país, após mais de duas décadas ocupando cargos de comando em multinacionais no exterior, o executivo respondia, até pouco tempo atrás, pela direção global de Marketing da DSM, posto para o qual foi nomeado em 2010. Antes disso, liderava globalmente a divisão de produtos nutricionais do grupo na Basileia, Suíça.
No segmento de biocombustíveis, a DSM já participa do mercado brasileiro como fornecedora da levedura industrial utilizada pela GranBio na primeira usina brasileira de etanol obtido a partir da palha da cana, inaugurada em Alagoas. Nos Estados Unidos, a própria DSM, em parceria com a americana Poet, colocou em operação a primeira usina de biocombustível em escala comercial daquele país, produzido partir de resíduos da colheira de milho.
"Agora, estamos trabalhando no desenvolvimento de uma tecnologia viável para a cana", disse ao Valor, referindo-se a uma das prioridades da operação latino-americana neste momento. "Se você começa a falar sobre biocombustíveis, não há como estar fora do Brasil", acrescentou. A estratégia, contou Adade, é se associar a algum parceiro para iniciar a produção local. "A expectativa é a de que isso aconteça nos próximos três a cinco anos", afirmou.
A chegada do executivo ao comando da operação latino-americana coincide com o encerramento do último plano quinquenal do grupo, que começa a ser redesenhado agora para os próximos cinco anos. Após uma série de aquisições, que se refletiram em maior presença no Brasil e no realinhamento do portfólio, reduzindo a exposição a commodities e ampliando o peso das especialidades químicas, o foco agora é consolidar a integração das empresas adquiridas, com consequente desaceleração do ritmo de compras. "O foco agora está na mudança de cultura e na geração de valor", afirmou o executivo.
No ano passado, a DSM faturou globalmente € 9,18 bilhões, com expansão de 5% nas vendas em relação a 2013. Na América Latina, o faturamento alcançou US$ 1,25 bilhão, dos quais entre 70% e 80% provenientes da operação brasileira. O crescimento no país foi impulsionado pelas aquisições, sobretudo a da Tortuga Companhia Zootécnica Agrária, por R$ 1,16 bilhão, em transação concluída em abril de 2013. Com o negócio, a DSM, que já tinha presença importante nos mercados de vitaminas e aminoácidos para aves e suínos, se consolidou como a maior empresa de nutrição animal da América Latina.
Em 2015, segundo Adade, é improvável que as vendas da Tortuga, principal negócio do grupo no país, repitam o ritmo de expansão de dois dígitos verificado no passado recente, diante da desaceleração da economia doméstica e da forte base de comparação. "Mas será um ano de expansão", garantiu.