Do Trópico de Capricórnio para as xícaras mais nobres
Valor EconômicoQuando aceitou o convite para se associar à Capricornio Coffees, Edgard Bressani, ex-diretor executivo da O'Coffee, teve duas certezas: essa era a oportunidade de colocar a sua marca num projeto do qual seria sócio e de contribuir para fortalecer a produção de cafés de qualidade no cinturão produtivo da região do Trópico de Capricórnio, que corta os Estados de São Paulo e Paraná.
Após seis anos à frente da O'Coffee - empresa produtora de cafés especiais controlada pelo grupo SolPanamby -, Bressani se uniu a José Antônio Rezende, administrador de empresas, e ao agrônomo e produtor Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, que em 2015 fundaram a Capricornio. Uma exportadora de café que "não é apenas uma exportadora de café", como Bressani faz questão de frisar.
Com escritórios em Piraju (SP) e em Jacarezinho (PR), a empresa é especializada na exportação de cafés de qualidade produzidos no chamado cinturão cafeeiro do Trópico de Capricórnio. O cinturão compreende duas regiões, a Sorocabana, no Estado de São Paulo, e o Norte Pioneiro no Paraná, onde estão 69 cidades que produzem café. Essa área de terra roxa e com estações do ano bem definidas é apropriada à produção do grão.
Nas duas regiões, segundo Bressani, a produção de café arábica é estimada em 6 milhões de sacas por safra, sendo 600 mil a 650 mil de grãos de alta qualidade. A origem ainda é pouco conhecida no exterior quando se trata de cafés especiais brasileiros. Mas o trio de sócios quer mudar essa história.
E o desafio está só começando. Hoje, a empresa exporta cafés especiais produzidos principalmente em 11 fazendas, dentre as quais três pertencentes ao sócio Luiz Roberto Saldanha Rodrigues. Bressani explica que para que possam fornecer cafés de qualidades para exportação pela Capricornio, as fazendas têm de atender alguns requisitos fundamentais, como ter boas práticas agrícolas, produção sustentável do ponto de vista socioambiental, qualidade e ter certificação - ou estar em processo de - de entidades como a BSCA (Brazil Specialty Coffee Association), Rainforest Alliance e UTZ Certified.
Outra exigência é que todos os cafés, que têm como destino países como Austrália, Itália, EUA, Eslováquia, Japão, Coreia, tenham pontuação acima de 80, conforme os critérios do protocolo de avaliação da Associação Americana de Cafés Especiais.
A Capricornio também adquire cafés para exportação de outros produtores da região que atendem os mesmos requisitos, mas sem exclusividade. O objetivo é ampliar número de fazendas parceiras, segundo Bressani. No ano que passou, a empresa exportou 10 mil sacas de café. O número deve chegar a 30 mil a 40 mil sacas este ano. "Em sete anos, a meta é chegar a 150 mil sacas", afirma Bressani.
Na divisão de tarefas entre os sócios, o ex-executivo da O'Coffee ficou responsável pela estratégia de marketing, comercialização e exportação dos cafés, atividades nas quais tem grande experiência. Já os outros dois sócios, Rezende e Rodrigues, são responsáveis pela originação do produto e visita às fazendas.
O trabalho da Capricornio com os produtores fornecedores de café inclui um projeto chamado Quatro Estações, no qual as propriedades parceiras obtêm assistência técnica de agrônomos sobre boas práticas agrícolas e técnicas de pós-colheita, por exemplo. Há ainda um trabalho de controle de qualidade do produto realizado pelos provadores da Capricornio.
A empresa tem ainda uma iniciativa - a Brazilian Coffee Acadmy - para disseminar informações sobre o café, com cursos destinados a vários públicos.
"Nosso trabalho é muito mais amplo [do que o de uma exportadora]", reforça Bressani. O objetivo, acrescenta ele, é criar uma marca, um conceito, para "descommoditizar a commodity", com a oferta de cafés diferenciados dessa região. Isso garante a agregação de valor, diz.
No caso de determinados microlotes de café, isso pode significar prêmios de R$ 800 por saca em relação a cafés convencionais cotados a, em média, R$ 500 por saca atualmente.