29/07/10 11h42

Dispara venda de esmalte e falta vidro

Valor Econômico – 29/07/10

A disparada na venda de esmaltes no Brasil tem gerado uma situação, até então, inusitada nesse setor. Faltam embalagens, especificamente aqueles pequeninos vidros de esmaltes, de não mais de 10 mililítros, cruciais para a venda - visto que não há uma embalagem substituta. A solução das empresas foi importar o produto da Índia, um dos maiores fabricantes no mundo desse vidrinho. A combinação de demanda aquecida e falta de embalagem pressiona os preços dos esmaltes nos últimos meses - alta que varia de 5% a 10% em redes de farmácias. O vidrinho do esmalte no atacado custa cerca de R$ 1 (US$ 0,56), quase 50% do preço final, que em 2009 era de R$ 1,80 (US$ 0,91), em média, e subiu neste ano para algo entre R$ 2,20 (US$ 1,22) e R$ 2,30 (US$ 1,27). Grandes fabricantes conseguem pagar até R$ 0,30 (US$ 0,17) pelo vidrinho.

No Brasil foram vendidos 169 milhões de esmaltes em 2009. Neste ano deve ser superada a marca de 180 milhões - um esmalte para cada brasileiro. O Brasil é o maior mercado do mundo em esmaltes. As vendas, em valor, subiram neste ano 33% até março, segundo dados da Nielsen. "Todo mundo no setor tem percebido a falta [dos vidros]. A solução é trazer o produto de fora. Temos contrato com fornecedores na Índia há algum tempo, mas eles também só atendem se o volume pedido é grande", diz a diretora-geral da área de cuidados pessoais da Impala, Luciana Marsicano. "Existe a falta porque os fornecedores não estavam preparados para esse crescimento", diz Marcelo Nogueira, dono da agência Extreme Global Licensing, responsável pela marca Ana Hickmann.

O aumento nas vendas também teve outro novo efeito no mercado. Tornou-se mais complexo o plano de lançamento. Secretamente, as grandes companhias têm buscado criar novas cores em parcerias com fornecedores de insumos e empresas terceirizadas - que têm se comprometido, muitas vezes em contratos por escrito, a não dar detalhes do plano de fabricação das empresas. Os nomes dos esmaltes, criados pela área de produto das companhias, são mantidos a sete chaves até a distribuição ao varejo. "Após o lançamento, as cópias feitas por empresas menores aparecem, até porque a fabricação é algo simples. Mas até lá, nada pode vazar", diz Nogueira.

Mesmo sob risco de gargalo, os lançamentos batem recorde. A indústria tem criado novos produtos dentro das tendências de cores da moda, num movimento iniciado em 2007. Na Risqué, marca da Hypermarcas, serão oito novos produtos para a coleção primavera/verão - foram cinco nas mesmas estações em 2009. A Big Universo, que distribui ao pequeno varejo, deve dobrar o volume de lançamentos - oito neste ano contra quatro em 2009. Na Ana Hickmann, a produção, de 400 mil unidades em outubro, pulou para 800 mil ao mês neste ano. E para manter o ritmo de vendas o ano todo, a Impala criou até minicoleções (lançadas entre cada estação, como faz a indústria de roupas) para não parar de colocar produto nas lojas. "São doze itens a cada nova coleção neste ano e mais cinco ou seis novos esmaltes nas intercoleções", diz Luciana. Segundo dados da Nielsen, o volume de vendas cresceu quase 14,5% em 2009. Em valor, a alta chegou a 32% no ano passado.