Dirigentes da FAPESP e da Università di Bologna dão início à FAPESP Week Itália
Evento visa fomentar parcerias entre pesquisadores e empreendedores de São Paulo e colegas italianos
FAPESPCerca de 70 acadêmicos do Brasil e da Itália reuniram-se nesta segunda-feira (14/10), na cidade de Bologna, para assistir à cerimônia de abertura da 22a edição da FAPESP Week. Organizado em parceria com a Alma Mater Studiorum - Università di Bologna (Unibo), o evento visa fomentar parcerias entre pesquisadores e empreendedores de ambos os países.
“É um grande prazer dar-lhes as boas-vindas à nossa universidade para uma nova edição da FAPESP Week. A Unibo construiu uma sólida relação com o Brasil, que começou há mais de 30 anos, com o estabelecimento da Cátedra de Literatura Brasileira. Desde então expandimos nossa colaboração acadêmica para muitos campos científicos”, destacou Giovanni Molari, reitor da Unibo, na fala de abertura do simpósio.
Ao apresentar os quatro eixos temáticos do evento – “Culturas, patrimônio imaterial e redes interdisciplinares”; “Sistema agroalimentar e desenvolvimento sustentável”; “Saúde e Meio Ambiente”; e “Tecnologia e Inovação” – Molari explicou que os painéis foram escolhidos de forma totalmente colaborativa e representam áreas de interesse mútuo das instituições.
E afirmou que, por meio da colaboração científica e de uma visão compartilhada, será possível criar um futuro mais sustentável, equitativo e inovativo, tornando as comunidades mais resilientes e sólidas. “Temos de lidar com problemas incríveis, por diferentes motivos, como guerras, crise energética, mudança climática. É importante trabalharmos juntos, pois sozinhos não conseguiremos alcançar os mesmos objetivos”, disse.
Na sequência, o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, lembrou que a primeira edição da FAPESP Week na Itália ocorre no ano em que se comemoram os 150 anos do início da imigração italiana para o Brasil. “Nessa grande onda meus quatro avós emigraram para o Brasil e eu sou muito orgulhoso de recordar aqui a imensa contribuição daquele período para o desenvolvimento do Estado de São Paulo.”
Zago explicou que a Fundação financia pesquisas em todas as áreas do conhecimento e apresentou as diferentes modalidades de apoio disponíveis, com destaque para os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), os Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) e o Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
“Todos os nossos programas estão abertos à colaboração internacional”, ressaltou Zago. “O sistema de ciência e tecnologia do Estado de São Paulo é bastante complexo. Somos responsáveis por mais de 40% da produção científica do Brasil. Portanto, esta é uma ampla oportunidade para desenvolver projetos conjuntos. Temos um acordo de cooperação com o CNR [Consiglio Nazionale delle Ricerche] e podemos apoiar projetos colaborativos de pesquisadores paulistas com qualquer instituição italiana”, sublinhou.
Embora o objetivo do evento seja fortalecer a colaboração entre pesquisadores paulistas e italianos, ponderou Zago, a performance conjunta já é algo impressionante. São Paulo responde por 53% de toda a colaboração entre Brasil e Itália.
“Espero que essa reunião seja uma oportunidade para pesquisadores e grupos de pesquisa se conhecerem melhor, não apenas durante as apresentações formais, mas também por meio de trocas informais”, finalizou
Líder em inovação
A mesa de abertura contou ainda com a presença de Gian Luca Baldoni, chefe de Internacionalização do Sistema Produtivo da Região Emilia Romagna, que abrange uma população de 4,5 milhões de habitantes, 400 mil empresas, 42 mil indústrias – incluindo nomes icônicos como Ferrari, Ducati e Maserati –, além de seis universidades com 166 mil estudantes.
Segundo Baldoni, Emilia Romagna é a região da Itália líder em exportação e com o maior número de patentes per capita. Mecânica e engenharia representam o mais importante setor da economia local, seguido por agroalimentar, construção civil, saúde e materiais cerâmicos e plásticos.
“Nossa região está comprometida a apoiar pesquisa e inovação, que são a chave para a competitividade e para o desenvolvimento sustentável. Também estamos comprometidos em apoiar relações internacionais não somente em termos de exportação/inovação ou investimentos, como também no âmbito da cultura, educação e pesquisa”, afirmou.
Encerrando a cerimônia, o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, Carlos Américo Pacheco, disse estar impressionado com os números da região de Emilia Romagna apresentados e destacou a influência italiana no Estado de São Paulo.
“Temos muitas coisas em comum. Notamos que metade dos brasileiros nesta sala são descendentes de italianos. A cidade de São Paulo compete com Buenos Aires e Nova York sobre qual é a mais importante em termos de herança italiana. Nós ganhamos de longe. Há lá mais de 3 milhões de descendentes, tanto que o símbolo da cidade é a pizza”, brincou. “À parte disso, penso que há muito que vocês podem fazer juntos. O reitor da Unibo ressaltou a importância da colaboração para lidar com desafios globais, em áreas como sustentabilidade, inteligência artificial e outras. Queria apenas ressaltar que a FAPESP deseja fomentar um relacionamento forte com a comunidade acadêmica italiana”, afirmou.
Cooperação histórica
O diretor científico da FAPESP, Marcio de Castro, lembrou que este ano foi realizado na Fundação o Italian Day, evento que reuniu representantes dos setores acadêmico e de inovação dos dois países. “Quando trabalhamos juntos somos mais fortes e o impacto da produção científica é muito maior.”
Dando sequência ao evento, Castro introduziu o primeiro palestrante da manhã, Roberto Vecchi, professor de Literatura Brasileira e Portuguesa e pró-reitor de Ensino da Unibo, que ressaltou a importância da atuação da FAPESP na organização do evento.
“Na verdade, minha história pessoal com a FAPESP é muito mais longa, pois fui professor visitante em algumas universidades de São Paulo e tenho uma cooperação bastante antiga e enraizada com esta fundação extraordinária e notável”, afirmou.
Segundo Vecchi, o diálogo que agora se inicia está ancorado em um profundo contexto histórico, que é a celebração dos 150 anos do primeiro desembarque de italianos em terras brasileiras.
“Foi no dia 21 de fevereiro de 1874, no Estado do Espírito Santo. Cerca de 300 italianos chegaram ao Novo Mundo dando início a um processo que durou um século e criou uma comunidade muito grande de descendentes. Cerca de 10% dos brasileiros têm descendência italiana e, se reconhecêssemos a cidadania de todos eles, daria uma cidade do tamanho de Bologna. Neste sentido, a Itália faz parte do processo de construção do Brasil e isso é um conceito-chave para a compreensão da complexidade e da modernidade de um país sul-americano tão impressionante”, comentou.
Vecchi enfatizou a importância dos estudos na área de humanidades para a compreensão das diferentes visões sobre o passado colonial brasileiro e sobre o futuro. “Esses estudos são muitas vezes considerados como um “plus” quando se trata de ciência e projetos de pesquisa. Na minha opinião, tal distorção acontece quando ignoramos que as relações científicas são relações humanas.”