08/09/15 14h25

Detectar problema rende ideias para negócios criativos

Valor Econômico

Muitos brasileiros gostariam de abrir uma empresa nos Estados Unidos por causa do crédito farto, do acesso a grande centros de pesquisa e das chances de ver seu produto ganhar escala global. Mas há quem faça o caminho contrário. Em 2011, Matthew Kligerman trocou Nova York por São Paulo, depois de conseguir uma transferência no Citibank, onde trabalhava. Um ano depois, deixou o banco e abriu seu próprio negócio no país, a Escale SEO. Por que o Brasil? "A economia é gigante e a população, tão grande e diversificada como a americana, mas enquanto lá só existe espaço para melhorias incrementais, aqui ainda há grandes problemas para resolver", diz Kligerman.

Como a Escale SEO, uma nova geração de empresas está surgindo da observação de que resolver problemas típicos de um país emergente pode estimular negócios potencialmente rentáveis - e a escolha pode recair tanto em questões estruturais como em dores de cabeça do dia a dia.

Em alguns casos, a ideia aparece depois de episódios ocorridos com os próprios empreendedores. Em 2012, depois de enfrentar problemas para encontrar uma passagem de avião, Max Oliveira decidiu criar um sistema para que o usuário pudesse vender suas milhas aéreas via internet, emitindo passagens no nome do comprador. "Hoje, 80% das milhas vêm de cartão de crédito, e não de outros voos", diz Oliveira. Por isso, muitas delas não são resgatadas. Só no ano passado, 53,4 bilhões de milhas de programas de fidelidade não foram usadas e acabaram perdendo a validade, segundo uma pesquisa do Banco Central.

Atualmente, a MaxMilhas, como a empresa foi chamada, faz a intermediação de 6 mil a 7 mil transações por dia. O software faz uma pesquisa comparativa para mostrar as melhores opções para o comprador. Uma comissão é cobrada sobre cada transação. A princípio, a empresa só fazia a conexão entre as pessoas - o comprador tinha de cuidar, sozinho, da emissão da passagem no nome de terceiros. Agora, em 70% dos casos o processo é feito diretamente pela MaxMilhas, como um serviço adicional.

Kligerman, cofundador da Escale SEO, também sentiu na pele as dificuldades de morar no Brasil quando tentou assinar serviços como internet, TV paga e celular. "Foi uma das experiências mais frustrantes que já tive", conta. Os sites das operadoras não funcionavam direito e os atendentes de call center não demonstravam muito interesse. "Parecia que as empresas não queriam meu dinheiro."

A tarefa da Escale SEO é atrair clientes que já estão buscando um serviço específico na internet. Primeiro, algoritmos da empresa ajudam a colocá-la nos primeiros lugares de uma busca. Depois, entra em ação o call center da empresa, com a missão de ir muito além do tratamento padrão. Por exemplo, se o cliente demonstra interesse em um canal de luta e o atendente treina muay thai, ele é estimulado a compartilhar essa experiência. "Queremos estabelecer uma conexão humana. São 10 ou 15 segundos importantes, que outras empresas consideram um custo", diz Kligerman.

Na Geekie, o foco é a educação. Os algoritmos da empresa captam informações sobre como o aluno aprende. Depois é possível usar esses dados para personalizar o plano de aula de cada estudante.

"Nosso modelo educacional remonta à época da revolução industrial, com alunos enfileirados, aulas de 45 minutos e um sinal para mudar de aula", afirma Claudio Sassaki, cofundador da Geek. "Ninguém mandaria o filho para um hospital do século XIX, mas fazem isso com a escola."

Nos últimos 12 meses, cerca de 3 milhões de alunos, de 20 mil escolas, usaram o sistema. O produto é vendido para escolas particulares e para os próprios estudantes. Muitos deles usam o material para preparar-se para exames como o Enem. Acordos com fundações e ONGs estão ajudando a levar o sistema para escolas públicas. Neste ano, por exemplo, todos os 415 mil alunos do terceiro ano do ensino médio das escolas estaduais de São Paulo ganharam acesso à tecnologia. Além do sistema, a Geekie fornece conteúdo, como videoaulas, textos e exercícios.

As escolhas feitas pelos estudantes e os resultados obtidos com cada interação são determinantes para definir o caminho pedagógico a seguir. "Se um aluno tem dificuldade em porcentagem, então o problema dele na verdade é fração", diz Sassaki.

A Cerensa escolheu como campo de atuação o próprio ambiente. A empresa, que nasceu como uma consultoria, acabou se transformando numa fornecedora de software, que também presta serviços relacionados a processos de produção sustentáveis. Cada software funciona como um módulo específico que se integra a outros. O mais antigo deles, usado para medir e controlar gases do efeito estufa, já funciona em 200 instalações, em 20 países.

"Os softwares começaram a ser desenvolvidos em 2011", diz Anibal Wanderley, cofundador da empresa. "Não contratamos fábrica de software. Todo o desenvolvimento é próprio."