15/05/23 15h04

Descarbonização a partir do biometano é oportunidade para a indústria

Combustível tem grande potencial no estado de São Paulo, que é grande produtor de cana. Tema foi debatido em reunião na Fiesp

Fiesp

O biometano no setor sucroalcooleiro oferece oportunidades ao Brasil e, especialmente ao estado de São Paulo, ao possibilitar a conexão das áreas com demanda às produtoras. A observação foi feita por André Rebelo, diretor executivo do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Fiesp, ao apresentar dados de estudo da entidade em reunião realizada nesta terça-feira (9/5), no Conselho Superior de Infraestrutura (Coinfra).

Para dar a dimensão do potencial do biogás, as 311 milhões de toneladas de cana moída no estado de São Paulo (safra 2022/2023) podem se converter em um total entre 42 milhões de m3/dia e 50 milhões de m3/dia de biogás e entre 20 milhões de m3/dia a 35 milhões de m3/dia de biometano. E ainda há espaço para ganhos de produtividade de conversão com as novas tecnologias de equipamentos.

O processo de produção da cana tem como subproduto a vinhaça reaproveitada na produção do biogás que, além do metano, possui outros componentes. O biogás, em seu processo de purificação, resultará em 60% a 80% de biometano, um substituto limpo ao gás natural.

O potencial de produção está concentrado nas áreas Norte e Oeste do estado, enquanto a demanda potencial, pelas indústrias petroquímica, química, fertilizante, vidro, cimento, cerâmica, metalurgia/siderurgia, têxtil e celulose, se encontra a Leste do estado. Portanto, é preciso alinhar oferta e demanda, o que implica também investimento no setor de infraestrutura, superando esse descasamento espacial.

Quanto à sazonalidade da produção de biometano, com safra entre maio e novembro, a complementação pode se dar com o gás natural, na entressafra, ou alternativamente com a torta de filtro estocada, sendo que esta representa 3,5% do total da moagem e, como subproduto, é utilizada na fertilização do solo. Essa alternativa se encontra em estudo.

Para Rebelo, a integração entre os sistemas de gasoduto das distribuidoras é essencial para atender a indústria na entressafra. O transporte é um ponto de atenção, pois ele tem de se dar de forma limpa, a fim de superar pequenas distâncias sem o uso de rodovias.

Estudo da Fiesp indica que são necessários 1.213 km de gasodutos para conectar os principais pontos potenciais de biogás às redes de distribuição mais próximas, com investimento estimado de R$ 2,3 bilhões. O estudo aponta a existência de complexidades regulatórias cujo arcabouço precisa de ajuste.

Na avaliação de Rebelo, as oportunidades passam pelo adensamento da cadeia que envolve a atração de fabricantes, mais indústrias e investimentos para São Paulo, além da geração de emprego, renda e arrecadação. Com infraestrutura de conexão, regulação adequada e linhas apropriadas de financiamento verde – com prazo e juros adequados – será possível viabilizar projetos de biometano com preços competitivos para a indústria. Vale ressaltar ainda que se trata de energia renovável.

Ele pede atenção à velocidade de adaptação, pois é mais rápido construir uma planta produtora de biometano do que um gasoduto. Outro fator apontado, em termos de política pública, é que o biometano pode ter seu volume adensado com a inclusão de aterros sanitários.

André Rebelo, ao concluir a exposição, enfatizou o amplo aproveitamento do biometano por parte da indústria.

Potencial das usinas de biogás

Gabriel Kropsch, representando a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), traduziu a oportunidade em números: 811 plantas de biogás, 755 delas em operação, 102 novas desde 2021 e, em São Paulo, 46 plantas com produção de 1,7 milhão de m3 dia que fazem o aproveitamento econômico e produção crescente de biometano.

Até 2029, há a previsão de entrada em funcionamento de mais 21 novas usinas de biometano no estado, concentradas em Paulínia, Piracicaba, Caieiras, Guarulhos, Olímpia, Várzea Paulista e Elias Fausto. Com potencial de quase 200 mil m3 dia, nos próximos anos poderá alcançar 2 milhões de m3 dia. A demanda de investimentos para a infraestrutura de escoamento é da ordem de R$ 2 bilhões.

Kropsch lembrou que o biometano é matéria orgânica em decomposição com produção constante, diferente do gás natural que precisa ser extraído, e sua utilização evita emissões de gases de efeito estufa e particulados contribuindo para a descarbonização da indústria. Ele é aproveitado por setores-chave, integra a Economia Circular e possibilita a flexibilidade no uso entre energia elétrica e biocombustível. “Se se o gás natural é o combustível de transição, o biometano é o destino”, afirmou ele.

Outra vantagem é o fato de áreas de tratamento de esgoto estarem próximas aos centros urbanos, segundo ele, além de 100% da tecnologia do gás natural e do biometano já estar consolidada.

Nessa agenda, a Abiogás defende forte estrutura de certificação, simplificação do licenciamento ambiental, estabelecimento de corredores sustentáveis, uso do biometano no transporte público e privado, marco regulatório, aperfeiçoamento do programa Paulista do biogás e atenção às cargas tributárias tanto na produção como no consumo.

Para Alessandro Gardemann, que preside a Abiogás, os munícipios têm de integrar a destinação final de resíduos orgânicos com a oferta de gás e, apesar do desafio de infraestrutura de se casar oferta e demanda, é possível equilibrar a modicidade tarifária e construir uma política pública. O que não pode escapar é a oportunidade, inclusive porque mais à frente haverá barreiras tarifárias europeias e será preciso se posicionar no âmbito internacional, disse, em sua conclusão.


Fonte: https://www.fiesp.com.br/noticias/descarbonizacao-a-partir-do-biometano-e-oportunidade-para-a-industria/