19/02/10 09h41

Demanda doméstica pode fazer Brasil crescer 7% este ano, diz criador do Bric

Valor Econômico

O Brasil pode alcançar um crescimento próximo a 7% em 2010, devido à força "excepcional" da demanda doméstica, avalia o chefe de pesquisa econômica global do Goldman Sachs, Jim O'Neill. "O Brasil está se aproveitando das políticas fortes adotadas durante a crise e dos benefícios acumulados por ter mantido a inflação baixa nos anos recentes", disse O'Neill, criador do conceito do Bric (que reúne também Rússia, Índia e China). O economista inglês não considera motivo de grande preocupação a recente turbulência no mercado internacional, causada pelo temor de um calote da Grécia e de seus efeitos sobre outros países da Europa, mantendo as previsões de que a economia global terá um crescimento robusto em 2010, puxada pelo Bric.

Em entrevista concedida por e-mail na quinta-feira, dia 11, O'Neill disse ver como "altamente provável" um crescimento na casa de 6% neste ano, "possivelmente próximo de 7%". Formada pelo consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento, a demanda doméstica será o grande motor da expansão brasileira neste ano, segundo ele. O'Neill participará da abertura do seminário "Uma agenda para os Brics", que vai ocorrer no Rio nos dias 22 e 23, organizado pela prefeitura carioca.

O'Neill disse que o principal motivo para o seu otimismo em relação às perspectivas econômicas do Brasil nos próximos anos é a inflação baixa e estável. "Esse é realmente um fenômeno novo para o Brasil e está transformando as vidas de 200 milhões de pessoas no país. É algo que tem levado ao desenvolvimento de uma classe média rapidamente em ascensão." O economista minimizou a volatilidade que tomou conta dos mercados nas últimas semanas. "Acho que o que vai ocorrer com a política monetária chinesa e com a economia americana é muito mais importante para os mercados globais do que a questão do calote grego. A Grécia é apenas 2,5% da zona do euro. A questão do contágio é importante para União Monetária Europeia, mas não tão importante para o mundo como as políticas chinesas e os EUA."

Para O'Neill, a valorização do dólar e depreciação do euro em curso não têm muita importância para o Bric. Deve ocorrer alguma saída rápida de dinheiro das moedas e mercados desses países, o que, para ele, abre "oportunidades para comprar". Ele aponta outro ponto que lhe parece mais importante. "Acho que a China pode estar perto de permitir alguma valorização de sua moeda." Se isso ocorrer, pode ser positivo para o Brasil e os mercados do Bric de dois modos, avalia O'Neill. Primeiro, pode fazer o aperto monetário na China acabar mais cedo - afinal, a valorização da moeda ajuda a segurar a inflação - e é positivo para os consumidores chineses, ao aumentar o seu poder de compra.

O Goldman Sachs prevê expansão global de 4,4% em 2010 e de 4,5% em 2011, nos dois casos acima do que o banco considera o nível de crescimento potencial do planeta (aquele que não leva à aceleração da inflação), de 4%. O'Neill disse que, no período de volatilidade nos mercados das últimas semanas, surgiram "vários indicadores globais excepcionalmente fortes". Se há alguma possibilidade de mudança nas previsões do Goldman Sachs no momento, é para cima, e não para baixo, afirmou ele.