07/04/10 15h08

Demanda aquecida impulsiona setor de chip de rastreamento

Valor Econômico

No início da década, quando se falava que num futuro próximo as máquinas 'conversariam' entre si e que no mundo haveria mais equipamentos conectados por internet do que pessoas, tudo isso parecia uma realidade distante do mercado brasileiro. Mas a comunicação máquina a máquina (M2M) tomou corpo no país e deverá ter um crescimento explosivo a partir deste ano. A expectativa de empresas que produzem os dispositivos capazes de fazer essa conexão estimam um crescimento nas vendas de atuais 1 milhão de módulos para 6 milhões nos próximos três anos.

Essa perspectiva está levando as companhias do setor a ampliar a capacidade produtiva. A francesa Telit, que mantém fábrica em Hortolândia (SP), vai triplicar a capacidade de produção. "O mercado apresenta uma explosão de demanda, principalmente por conta da adoção de rastreadores pela indústria automotiva e de dispositivos para medição de eletricidade e gás", afirma o vice-presidente mundial de marketing e vendas da empresa, Felix Marchal.

A Telit já fechou acordo com as montadoras Renault, Kia Motors, Hyundai e com a empresa de autopeças Magneti Marelli (fornecedora da Fiat) para a produção dos dispositivos de rastreamento. Hoje, diz Marchal, o Brasil situa-se entre os dez maiores mercados na área de M2M mas, se as previsões forem confirmadas, poderá situar-se entre os cinco até 2013. Na área de energia, a companhia também já tem acordo com Ampla (do Rio), a paranaense Copel e a estatal mineira Cemig para o fornecimento de dispositivos que possibilitarão o monitoramento à distância do consumo de energia nas residências.

"A expectativa para este ano era alcançar 20% de participação de mercado e já chegamos a isso em março. A demanda cresce acima do esperado", afirma o diretor geral da Telit no Brasil, Marcos Kinzkowski. A empresa iniciou as operações no país em 2008 e encerrou 2009 com 15% de participação no mercado. A previsão para 2010 foi revisada para 25% de participação, com um elevação nas vendas de 100%.

A alemã Cinterion, que lidera o mercado com 60% de participação, projeta para este ano um crescimento de pelo menos 80%, também favorecido pela nova demanda do setor automotivo, afirmou o principal executivo da companhia, Norbert Muhrer. Com base nas encomendas fechadas, a Cinterion prevê a venda de 400 mil módulos para as montadoras. As indústrias de eletroeletrônicos também devem aumentar as encomendas de dispositivos de comunicação sem fio, segundo o executivo. Para atender a essa demanda crescente, a companhia investiu no segundo semestre de 2009 para também triplicar a capacidade de produção da fábrica que possui em Manaus. A Freescale Semicondutores do Brasil também aposta na expansão do mercado brasileiro, principalmente no segmento de rastreadores de veículos. O diretor geral da empresa, Armando Gomes da Silva Júnior, prefere, porém, não arriscar um número.

No Brasil, a principal causa para a explosão imediata da demanda é uma mudança na legislação no setor de transportes. A Resolução 245/2007 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabelece que, a partir de julho, as indústrias automotivas deverão instalar um dispositivo que permita o bloqueio e a localização do veículo em caso de roubo. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que o setor produzirá neste ano 3,14 milhões de unidades.