16/11/10 11h49

Delphi planeja elevar nacionalização para 78% no país até 2012

Valor Econômico

A Delphi, uma das maiores fabricantes de autopeças do mundo, estabeleceu uma meta desafiadora para a operação brasileira: ampliar de 70% para 78% o índice de nacionalização dos componentes que saem das fábricas instaladas no país até 2012, o que representará um adicional em encomendas a fornecedores brasileiros de US$ 50 milhões ao ano. Para cumprir o objetivo, a despeito do câmbio que nos níveis atuais estimula importações e do direcionamento de produção excedente em outras regiões para mercados emergentes, com destaque para o Brasil, a multinacional reforçou a aposta na capacitação de seus fornecedores e no trabalho conjunto em busca de competitividade.

"Queremos comprar ainda mais itens localmente para suportar nosso negócio. Essa é a diretriz global da companhia", disse ao Valor o vice-presidente mundial de compras da Delphi, Sid Johnson. Foi essa a mensagem que o executivo, que esteve pela quinta vez no país, passou aos fornecedores da companhia - são cerca de 530 somente na América do Sul - na semana passada, durante convenção anual da companhia.

A aposta na região, onde a Delphi opera 12 fábricas, 11 delas no Brasil e uma na Argentina, reflete o novo mapa mundial da indústria automobilística, desenhado após crise financeira que se agravou no fim de 2008, a partir do surgimento de novos e promissores mercados consumidores, de um lado, e do fortalecimento das montadoras asiáticas, de outro. A própria Delphi foi afetada pela crise e enfrentou quase quatro anos de concordata. Reestruturada, contou Johnson, a companhia está pronta para retomar o crescimento.

Conforme Johnson, embora a desvalorização do dólar faça surgir oportunidades de importação de componentes e seja crescente a oferta de itens mais baratos por companhias asiáticas, ainda é mais estratégico, considerando-se o médio e longo prazos, estruturar uma cadeia de fornecedores globais. Ainda assim, a direção da Delphi admite que é grande o desafio lançado. Somente neste ano, o déficit na balança comercial do setor nacional de autopeças deve alcançar US$ 4,5 bilhões, um recorde, e a expectativa é a de que o saldo negativo seja ainda maior em 2011. Dólar desvalorizado e excedente produtivo no exterior são apontados como principais impulsionadores da importação de componentes automotivos pelo setor.

De fato, reconheceu o diretor de compras e logística da Delphi para a América do Sul, Edelcio Genaro, há produtos com selo brasileiro que deixaram de ser competitivos ante similares importados. Contudo, ao implementar programas de melhoria de produtividade, entre outros, juntos aos fornecedores, é possível reduzir custos e, consequentemente, o preço final. O fim gradual do redutor de 40% que incide sobre as alíquotas de importação de autopeças, compradas por montadoras e sistemistas, deve beneficiar os planos da Delphi. A partir de maio, voltam a valer as tarifas plenas, de 14% a 18%, o que deve reduzir a vantagem dos componentes importados ante os itens nacionais considerando-se o câmbio atual. Anualmente, o total de compras, incluindo diretas, indiretas e logística, da Delphi no país chega a US$ 800 milhões. Em 2009, as receitas geradas na América do Sul totalizaram US$ 1,03 bilhão, 94% dos quais provenientes do Brasil e da Argentina.