Trust reforça aposta no agronegócio
Empresa amplia foco em inovação e fortalece estratégias para o setor, que deve responder por 25% da receita em 2016
Brasil EconômicoResponsável por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o setor de agronegócios é hoje um dos mais novos campos férteis de atração para as empresas de tecnologia no mercado nacional. Desde 2007, quando adquiriu a Softfácil, fornecedora de sistemas de gestão para o setor, a brasileira Trust – companhia de software e serviços de tecnologia da informação (TI) – vem investindo nesse filão. Agora, a Trust dá mais um passo para fortalecer essa estratégia, com a aquisição da BIO TI, empresa de software com sede em Araçatuba, interior de São Paulo, e atuação concentrada no segmento de bioenergia e de usinas de cana de açúcar. Os termos financeiros do acordo não foram revelados.
Com a aquisição, a Trust manterá, a princípio, a marca da BIO TI, que irá operar como uma unidade de negócios da empresa. “O setor de agronegócios é um dos motores econômicos do Brasil. Por outro lado, o segmento vive um desafio por trabalhar com commodities cujos preços não são definidos pelos fornecedores, e sim pelo mercado, o que achata as margens”, afirma Cesar T. Alves, vice-presidente executivo da Trust. Num primeiro momento, esse cenário fez com que as empresas do setor investissem em sistemas administrativos e de gestão para profissionalizar suas operações, vertente para a qual a Trust já tinha um portfólio disponível. “Agora, o setor está entrando em um novo ciclo de tecnologias para ter um controle mais efetivo dos negócios. Com a BIO TI, vamos somar um componente de inovação à nossa oferta, que vai ao encontro dessas novas demandas”, acrescenta.
Fruto de um projeto que já consumiu pouco mais de um ano de trabalho, a solução Agrodrone, desenvolvida pela BIO TI, sintetiza o foco em inovação da Trust para ganhar participação nesse mercado. A tecnologia consiste em um software embarcado em um drone, que é controlado por um tablet e capta imagens georreferenciadas para monitorar e analisar grandes extensões de terra. A partir de uma rota previamente traçada, o sistema fornece e envia mapas em tempo real, com dados de latitude e longitude de uma determinada ocorrência na área de plantação.
A solução trabalha com o padrão de fotografia RGB, que divide as imagens nas cores vermelho, verde e azul, e também com a captação de imagens térmicas em infravermelho. É possível, por exemplo, identificar com detalhes as falhas de plantio. “Hoje, o processo tradicional é feito por amostragem, a olho nu. Os apontamentos no campo e o envio das informações para as usinas envolvem milhares de cadernos e processos manuais. A ideia é agilizar esse processo e, ao mesmo tempo, ter mais assertividade e controle da produtividade. O gestor passa a ter em mãos uma forma de direcionar sua equipe para o foco dos problemas”, diz Gustavo Nogueira, diretor de tecnologia e operações da BIO TI.
Outro recurso é a possibilidade de destacar a presença de ervas daninhas e as áreas específicas para a aplicação de herbicidas. “O maior gasto de uma usina é com herbicidas. A partir do momento que você tem os dados exatos de localização, é possível reduzir os custos dessas aplicações”, acrescenta. Responsável pelo software, a BIO TI mantém uma parceria com a Dronestore para o fornecimento dos equipamentos aos clientes.“Esse tipo de inovação vai ao encontro do novo modelo de agricultura de precisão. A partir dessa ferramenta, é possível ter uma visão diferenciada da relação dos custos e da produtividade”, diz Valter Yogui, diretor-presidente do Grupo Trust.
Um primeiro projeto-piloto do Agrodrone já vinha sendo tocado pela BIO TI na Usina São Fernando, localizada em Dourados (MS). Com a aquisição, no entanto, a Trust enxerga a possibilidade de expandir a adoção da tecnologia para outros dois clientes que já trabalham com outras soluções da BIO TI: a Cosan/Raízen e a Tonon, que juntas somam 34 usinas no país. “Ao mesmo tempo, vamos investir em uma estratégia de vendas cruzadas, tanto do portfólio da BIO TI para nossa base instalada de 35 clientes de agronegócios, como na extensão da nossa oferta para os clientes atendidos por eles”, diz Alves. “Em outra frente, já estamos conversando com clientes de outras culturas do agronegócio e temos planos de levar essa oferta a outras indústrias, além desse mercado”.
A equipe da BIO TI será incorporada ao time da Trust focado em pesquisa e desenvolvimento para o setor de agronegócios, que é formado por 20 pessoas e está baseado em Ribeirão Preto (SP). Essa operação contará ainda com o suporte de toda a Trust, que possui hoje 220 profissionais. Outro reflexo será a ampliação dos investimentos em P&D. A Trust, que fechou 2013 com uma receita de R$ 41 milhões, vai elevar esse patamar a 5% do faturamento. Hoje, esse índice é de 1,5% da receita. “Nossa meta é atingir, em dois anos, uma receita de R$ 100 milhões e a projeção é de que o setor de agronegócios represente 25% do faturamento ao fim desse período”, afirma Alves.