Estre tem plano de investir R$ 1,5 bilhão
Valor EconômicoApós um período de crescimento acelerado, a partir da aquisição da Cavo Ambiental, em pleno Carnaval de 2011, e de outros ativos, a Estre Ambiental vive desde novembro uma fase de reestruturações operacional, financeira e na gestão executiva. Com atuação em resíduos sólidos, a empresa fundada pelo empresário Wilson Quintela Filho, que é o maior acionista com 50% do capital, tem como principal sócio o BTG Pactual. O banco entrou pouco antes da compra da Cavo e tem participação de 28%.
As mudanças, que introduziram nova governança na empresa, com gestão profissional, começaram com a promoção de um dos diretores, Fernando Bau, a presidente executivo. Quintella, desde então, assumiu a presidência do conselho administrativo e passou a cuidar de decisões estratégicas.
Formado em engenharia civil na Universidade Federal do Paraná (Curitiba), além de administração de empresas, Bau está na Estre há cinco anos. O executivo acompanhou a agressiva fase de expansão dos últimos três anos. Antes, ele passou pela fabricante de bebidas AmBev, HSBC e Global Invest.
A Estre, segundo disseram Bau e Quintella em entrevista ao Valor, tem o objetivo de investir R$ 1,5 bilhão no prazo de cinco anos, dentro de um plano de expansão e fortalecimento dos atuais negócios. Ao mesmo tempo, tem como missão reduzir o pesado endividamento, de R$ 1,8 bilhão, grande parte oriunda da fase de aquisições. Para isso, conta com venda de alguns ativos, como terrenos e a participação de 50% na Essencis, que deverá passar ao domínio da Solví. Somente com os terrenos, vê potencial de embolsar pelo menos R$ 150 milhões.
Para o programa de investimentos, desenhado para ser executado em cinco anos, a Estre entrou no ano passado com pedido de um aporte de R$ 500 milhões do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). No momento, essa solicitação está em fase de avaliação nos comitês de investimentos do fundo.
Grande parte desse pacote de investimento vai ser destinado a parques geradores de energia, máquinas recicladoras e motores. A empresa começou a gerar energia a partir de biogás em Guatapará (SP), em maio, em uma unidade que recebeu R$ 15 milhões de investimento, com potência instalada de 4,5 MW. O objetivo da Estre é chegar a 80 MW com a capacidade atual de resíduos e, no futuro, até 120 MW, diz Bau, com a expansão. Também está nos planos da empresa a compra de novos aterros.
Em sua fase de expansão, com a parceria do BTG e mais dois aumentos de capital dos sócios, a Estre comprou diversas empresas do setor, além da Cavo: Resicontrol, GeoVision, Viva Ambiental, CTR Itaboraí e uma participação na americana Star Atlantic. As ações da Star foram vendidas no fim do ano passado a fundos do BTG, pelos mesmos US$ 100 milhões que foram adquiridas.
Com as aquisições, a companhia passou a atuar não apenas em destinação final de resíduos, que era sua atividade original, mas também em valorização (reciclagem), e coleta, em dez estados no país - de Santa Catarina, São Paulo, ao Pará. De 1,2 mil funcionários e faturamento de R$ 400 milhões que tinha em 2010, a Estre passou a 15 mil funcionários no ano passado e uma receita bruta e R$ 1,9 bilhão.
Um dos principais desafios decorrentes da expansão foi a integração de diferentes culturas. "Tínhamos três contabilidades completamente diferentes e três culturas completamente diferentes - Estre, Resicontrol e Cavo", afirma Quintella. "Agora, temos unidade de processos e de sistemas e uma contabilidade unificada".
De algumas empresas adquiridas, a Estre herdou também problemas, como recebíveis não quitados. No processo de limpeza do balanço, no fim de 2013 a empresa contabilizou esses recebíveis como perdas, com expectativas de recuperar uma parte disso no futuro, como ganho direto. Com isso, resultado final foi um prejuízo de R$ 458 milhões.
O impacto dos movimentos agressivos da Estre também se refletiu em seu alto endividamento, que se aproximou dos R$ 2 bilhões. Segundo a empresa, atualmente sua dívida líquida corresponde a quatro vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A meta para um futuro próximo, asseguram Bau e Quintella, é chegar a duas vezes, fruto da melhora de resultados operacionais, crescimento e venda de ativos não operacionais.
A venda de metade da Essencis é decorrente da disputa com a concorrente Solví desde 2011 na Câmara de Arbitragem da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A Estre entrou no capital da Essencis com a aquisição da Cavo, que era da Camargo Corrêa. Na disputa arbitral, a Solví passou a ter o direito de preferência na aquisição da empresa.
Além de ter sido a escolha da Estre para tocar os projetos de investimento da Estre, Bau também é a aposta para ajudar a deixá-la pronta para abrir o capital no Novo Mercado. Isso, no entanto, vai depender do apetite dos investidores e da reorganização da empresa.
No conselho administrativo, Quintella conta com Wilson de Lara, acionista da ALL e também da Estre (5%), Sérgio Pedreiro (ex-ALL e ex- Coty), Carlos Fonseca e Octávio Lazcano, ambos pelo BTG, e Marcelo Fonseca, da Angra Partners, dona de 8% do capital da Estre. Ainda integra o grupo a acionista Gisele Moraes, que tem 9%.