08/08/23 13h57

Cultivo de especiarias, como a baunilha, é incentivado na região de Rio Preto

Pesquisadores estão cultivando a baunilha e outras especiarias como pimenta-do-reino e canela para impulsionar a produção de um mercado que vem crescendo no Brasil e é bastante valioso em outros países

Diário da Região

Segunda especiaria mais cara do mundo, a baunilha pode ser cultivada em pequenas áreas de uma propriedade e envolve além da rentabilidade ao produtor, a beleza da orquídea que origina o produto. Uma pequena fava de baunilha, com dimensão de 18 centímetros e pesando quatro gramas, pode ter custo médio de R$ 60 cada unidade no mercado ou R$ 5 mil o quilo para o agricultor.

No Noroeste do estado de São Paulo, pesquisadores estão cultivando a baunilha e outras especiarias como pimenta-do-reino e canela para impulsionar a produção de um mercado que vem crescendo no Brasil e já é bastante valioso em outros países. Pesquisadores explicam que o brasileiro adotou a pimenta-do-reino como a mais consumida, sendo o País o segundo maior exportador mundial dessa especiaria.

Segundo dados da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a exportação brasileira arrecadou mais de US$ 300 milhões com a venda da pimenta-do-reino no ano de 2021. O agrônomo e pesquisador em plantas tropicais e especiarias, Victor Paulo de Oliveira, de Rio Preto, diz que o produtor pode ter uma possibilidade estratégica com a produção de especiarias, um nicho de mercado que vem crescendo bastante em solo brasileiro.

Victor e a professora da Faculdade estadual de Tecnologia (Fatec) de Rio Preto Maria Vitória Gottardi Costa, estão cultivando as especiarias para incentivar alunos e produtores rurais na escolha de produtos que podem ter rentabilidade, e ainda, diversificar as culturas da região. Para isso, a professora Vitória plantou 40 orquídeas em áreas distintas na escola técnica (Etec) de Monte Aprazível.

“É um mercado muito valoroso, o das especiarias, e a baunilha tem alcançado bom espaço no Brasil, ainda que as orquídeas sejam pouco produzidas. Hoje, a fava de baunilha é a segunda mais valiosa, perdendo em termos de valor apenas para o açafrão, que é a especiaria mais cara do mundo”, conta a professora, lembrando que a especiaria de açafrão não é a mais conhecida do mercado, aquela em pó, e sim de uma planta bastante rara. Um quilo pode chegar a custar R$ 70 mil.

Plantios

A professora Vitória começou a colher as primeiras favas de baunilha e já fez os experimentos com a planta, que exige muitas etapas para chegar ao mercado consumidor. Em Monte Aprazível, ela plantou 20 orquídeas (espécie Vanilla planifolia) em um sistema de área coberta por telado, e outras 20 orquídeas em sistema agroflorestal, entre seringueiras e cacau, com a intenção de observar como o desenvolvimento das plantas se daria melhor.

Em outra área da escola, o pesquisador Victor plantou algumas mudas de especiarias como pimenta-do-reino, cravo-da-índia, canela-do-ceilão, pimenta-da-jamaica, noz-moscada, guaraná e louro. “É difícil encontrarmos uma coleção de especiarias como essa no estado de São Paulo. Por isso, importante para os alunos, já que muitos são filhos de agricultores, conhecerem as plantas e esse nicho de mercado”, diz Victor.

Fazenda de especiarias

O produtor Marcos Melo afirma que produzir especiarias na região é um desafio, já que as plantas precisam de umidade, e o clima seco do Noroeste pode prejudicar as lavouras. Ele conta que em Onda Verde cultivou a maior plantação de urucum - uma especiaria muito usada para dar coloração aos alimentos - do estado de São Paulo. “Hoje tenho uma pequena área de urucum e de outras especiarias, mais para colaborar com as pesquisas do Victor”.

Há 15 anos, ele plantou mais de 50 mil pés de urucum e cultivou apenas a especiaria por muito tempo, nos 170 hectares da fazenda. Atualmente, Marcos cultiva cana-de-açúcar e diz que foi impossível não se render à cultura canavieira, por estratégia de produção, já que a propriedade está localizada em área próxima a uma usina. “Muitos alimentos industrializados adotam o urucum, eu investi bastante na cultura, naquela época”, diz Marcos.

Amigo de Victor, Marcos diz que na época o pesquisador ainda atuava no Instituto Agronômico (IAC), e o ajudou a entender melhor sobre o plantio de urucum. “Hoje contribuo com as pesquisas, tenho aqui cúrcuma, cravo-da-índia, canela, entre outras”, acrescenta o produtor. (CC)

Baunilha exige conhecimento

A cadeia produtiva da baunilha exige técnica e conhecimento do produtor. De acordo com a pesquisadora Maria Vitória, as mudas das orquídeas precisam ter boa procedência, ou seja, o produtor deve buscar orquidários com certificação de sanidade das plantas. “O cultivo também exige técnica para a polinização, que é feita manualmente, flor a flor”.

Vitória acredita por ser um trabalho minucioso, com a produção das plantas que originam a baunilha, ainda poucos produtores se interessam pelo mercado dessa planta. “A demanda é alta pela baunilha e países como os da União Europeia e Estados Unidos apreciam muito a especiaria, principalmente o setor de sorvetes. A baunilha é o sabor de sorvete preferido do europeu”, explica.

A baunilha é uma planta da família da orquídea, originária do México. Porém, Vitória aponta que há mais de 15 espécies da planta no Brasil, sendo Madagascar, o principal produtor da espécie que origina a fava de baunilha. “Para o produtor da nossa região, que possui uma pequena área, é uma alternativa para a produção em cobertura com telado”.

Vitória diz que nos dois sistemas em que produz a orquídea, o que possui a cobertura com o telado, resultou em bom desenvolvimento das plantas. Também após as flores se desenvolverem, ela conta que fez o processo de desidratar e secar os frutos. “É o processo de cura, que deve ser feito para manter o sabor e aroma da baunilha”, finaliza. 

 

Fonte: https://www.diariodaregiao.com.br/economia/agronegocio/cultivo-de-especiarias-como-a-baunilha-e-incentivado-na-regi-o-de-rio-preto-1.1259681