Crise não altera plano de expansão da Verallia no país
valor econômicoSegunda maior fornecedora de embalagens de vidro para alimentos e bebidas no Brasil, a Verallia manteve os planos de investimento no país, apesar do agravamento da crise econômica doméstica. A confiança na evolução do mercado no médio prazo e o potencial de crescimento, diante do baixo consumo per capita em comparação ao de países desenvolvidos, explicam essa aposta.
Nos dois últimos anos, a multinacional investiu cerca de R$ 150 milhões para ampliar e modernizar fábricas brasileiras e, há pouco mais de um mês, consolidou sua estratégia de presença nacional, com a inauguração da fábrica da Indústria Vidreira do Nordeste (IVN), em Estância (SE).
Joint venture com a Ipiaram Empreendimentos e Participações, a IVN recebeu R$ 300 milhões em investimentos. Embora com participação minoritária na fábrica, a Verallia fincou os pés no mercado nordestino, onde sua presença ainda não era tão significativa quanto no Sul e no Sudeste. Agora, a meta é ampliar a participação na região.
Em entrevista ao Valor, o francês Hugues Denissel, diretor-geral da Verallia América do Sul, afirmou que a multinacional, que no ano passado foi vendida pela Saint-Gobain para a gestora de fundos Apollo Global Management LLC e para o Bpifrance, tem um projeto de crescimento no país, porém sem prazo pré-determinado de execução.
"Imediatamente, estamos olhando mais a possibilidade de expansão na Argentina", afirmou o executivo. O país vizinho sedia a maior fábrica da empresa na América do Sul, instalada em Mendoza, maior região produtora de vinhos da Argentina - a Verallia é líder nos mercados global e latino-americano de garrafas para vinho.
Para Denissel, em volume, o mercado brasileiro de embalagens de vidro para alimentos e bebidas deve recuar neste ano, diante do maior impacto da crise econômica no consumo. "Mas vai voltar a crescer moderadamente já no ano que vem", afirmou. Por outro lado, em valores, o crescimento deve ser mais forte, em razão da mudança no mix de produtos que já vem ocorrendo no mercado brasileiro.
No ano passado, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) produzido para a Associação Brasileira de Embalagem (Abre), a produção física de embalagens caiu 4,31%, mas o valor bruto dessa produção subiu 4,76%, a R$ 57,2 bilhões. Em volume, as embalagens de vidro registraram a segunda menor retração da indústria no ano passado, com 3,3%, e em 2014 corresponderam ao único segmento com desempenho positivo, com alta de 1,9%.
Um dos grandes desafios da indústria no ano passado, contou o executivo, veio da linha de custos de produção, com destaque para os gastos com energia. "Fizemos um trabalho que não havia sido feito no passado: focar em ser mais eficiente", disse.
Na fábrica de Campo Bom (RS), exemplificou, a ampliação de capacidade feita recentemente foi executada com tecnologias que permitem menor consumo de energia - a empresa tem ainda uma unidade de produção em São Paulo (SP) e outra em Porto Ferreira (SP), que foi modernizada há pouco tempo.
No Brasil, cerca de 85% do faturamento da Verallia é gerada pelas embalagens para bebidas - os demais 15% se referem ao negócio de alimentos, que engloba também garrafas para azeite e leite de coco. De acordo com o executivo, cada vez mais, alimentos saudáveis migram para as embalagens de vidro, o que abre uma perspectiva positiva para os fabricantes instalados no país. "Há um movimento forte de retorno para as garrafas, que está relacionado com a identidade da marca", afirmou.