Crise econômica não reduz interesse da Abertis pelo Brasil
Valor EconômicoO principal executivo do grupo espanhol de infraestrutura Abertis, Francisco Reynés, disse que o compromisso com o Brasil é de longo prazo e que há muitas oportunidades de investimentos em rodovias no país, onde está o principal negócio da companhia, a Arteris. Contudo, ponderou que a relação risco-retorno tem de levar em conta a escalada do risco de investir no Brasil, dada a deterioração econômica recente.
O grupo espanhol detém 51% das ações da brasileira Arteris, empresa de concessões rodoviárias que reveza com a CCR a liderança no volume de quilômetros administrados no país. Os outros 49% são da canadense Brookfield.
"Confirmamos nosso compromisso. Estamos ocupados, não preocupados", disse Reynés ao Valor esta semana, em um rápido intervalo na agenda antes de entrar em uma reunião de conselho na sede da Arteris, em São Paulo, onde o executivo desembarca regularmente a trabalho. Nos últimos anos, a Arteris investiu cerca de R$ 2 bilhões ao ano em suas concessões, cifra que deve se repetir neste exercício.
Questionado especificamente sobre as oportunidades no Brasil, Reynés disse que o presidente da Arteris, David Díaz, iria "nos explicar". Os planos da Arteris se assentam em três pilares. Além de investimento em melhorias previstas nos contratos que já administra, estuda realizar novos investimentos em concessões já existentes listados no PIL, o programa federal de investimento logístico. Dos R$ 15,3 bilhões que o PIL mapeou para esse fim, cerca de R$ 5,2 bilhões estão concentrados em quatro das cinco estradas federais sob gestão da Arteris.
Finalmente, a última frente de oportunidades são as novas concessões de estradas federais e estaduais, como o programa paulista, que destacou quatro lotes, alguns com sinergia com as autopistas da empresa. "Vai depender muito de como os editais sairão", disse Díaz, ressaltando que tanto o governo federal quanto o de São Paulo estão abertos a ouvir o mercado.
A Arteris é o mais relevante negócio sob o guarda-chuva da Abertis. As nove concessionárias da empresa brasileira somam 3,250 mil dos 8,400 mil quilômetros que a holding tem em 12 países. A seguir vem a França, com 2,036 mil quilômetros.
Segundo o executivo, apesar de o momento econômico atual não ser "nada parecido com o que se experimentou há três anos", pré-crise, o Brasil vai ultrapassar esse momento de dificuldade política-econômica e voltar a crescer.
Conforme balanço da Abertis de 2015 divulgado em fevereiro, o tráfego na Arteris, medido em veículos/dia, caiu 2,3% no exercício passado, impactado pela deterioração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O Brasil foi o único país onde a Abertis tem operação a registrar queda de tráfego. Mesmo num ano de números difíceis para a rentabilidade do negócio no Brasil, Reynés comemorou um indicado - o recuo de 21% nos acidentes nas concessões da Arteris, "motivo de orgulho", disse o executivo.