17/08/09 11h20

Crise abre oportunidades para expansão das múltis brasileiras

O Estado de S. Paulo

A crise financeira global está abrindo espaços para o crescimento das multinacionais brasileiras. Protegidas por um mercado doméstico forte e "treinadas" para períodos difíceis, por causa das inúmeras crises regionais que já atravessaram, as múltis do País já começam a aproveitar as boas oportunidades que vêm surgindo. Segundo a espanhola Lourdes Casanova, professora da escola de negócios Insead e especialista em empresas latino-americanas, o desinvestimento realizado por multinacionais de países desenvolvidos - os mais afetados pela crise - já rendeu bons negócios no Brasil e também em outros países latino-americanos, como o Chile.

"Elas estão cortando gastos e investimentos em lugares mais distantes e difíceis de administrar", afirma Casanova. Um "desinvestimento" que beneficiou uma multinacional brasileira foi feito pela mineradora anglo-australiana Rio Tinto, que vendeu seus ativos em Mato Grosso do Sul para a Vale, em janeiro. Um negócio nos mesmos moldes foi fechado pelo banqueiro André Esteves, do BTG, que conseguiu retomar o comando de seu Pactual, anos depois de vendê-lo por US$ 2,5 bilhões ao suíço UBS. As brasileiras também saem ganhando em outra ponta. Com os preços de ativos no exterior relativamente baixos, apareceram oportunidades de expansão internacional. Na semana passada, o presidente da petroquímica Braskem, Bernardo Gradin, reafirmou o interesse em adquirir uma companhia nos Estados Unidos, e disse que um negócio pode ser fechado ainda este ano.

No ano passado, as multinacionais brasileiras tiveram forte avanço nos mercados globais, segundo estudo elaborado pela Fundação Dom Cabral. De acordo com o estudo, mesmo com a crise, as 20 maiores múltis brasileiras conseguiram aumentar seus níveis de internacionalização. A receita dessas companhias com operações no exterior passou a representar 25,3% do total em 2008, ante 24,1% em 2007. Os ativos estrangeiros responderam por 27% do total das múltis nacionais no ano passado, ante 24% no ano anterior.