29/01/18 14h07

Crescimento deve voltar a todos os ramos da indústria pela primeira vez desde 2011

Valor Econômico

Este ano será o primeiro desde 2011 em que todos os quatros ramos do PIB da indústria vão crescer juntos. Nos últimos seis anos, pelo menos um deles - transformação, extrativa, construção civil e serviços industriais de utilidade pública (SIUP) - terminou em queda.

Em 2017, nos 12 meses até o terceiro trimestre, embora a indústria extrativa e SIUP tenham ido bem, a indústria de transformação e, principalmente, a construção civil exibiam sinal negativo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Estimativas colhidas pelo Valor Data mostram que o PIB industrial deve crescer 3,6%, após três anos de queda. A indústria de transformação subiria 4,7%, beneficiada pelo aumento da demanda doméstica e das exportações, embora as vendas externas devam ocorrer em menor magnitude do que em 2017. O setor extrativo deve crescer 3,9%, com o aumento da produção de petróleo e minério e, os serviços de utilidade pública, 3,6%, com a melhora da oferta de energia e do próprio aumento da atividade econômica. Por fim, a construção deve ter uma alta tímida de 2%, após quatro anos em queda.

Claudio Considera, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), diz que a atividade industrial "certamente" será melhor do que em 2017. O destaque será a transformação, com um "crescimento maior do que o do produto". Segundo ele, a liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) "detonou o gatilho" e, desde então, a retomada vem ganhando força. A baixa base de comparação tem dado sua parcela de contribuição para os números mais positivos.

Os efeitos defasados da queda de juros serão mais sentidos pela indústria neste ano, beneficiando o crédito e os investimentos, acredita o economista da FGV. Bens de consumo duráveis, como o automobilístico e a linha branca, devem ir melhor.

Considera vê um movimento positivo na modernização do parque produtivo. "As empresas recompondo as máquinas desgastadas e modernizando equipamentos" afirma. O principal risco à retomada industrial, segundo ele, é a evolução do quadro eleitoral.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), vê a definição do cenário político como fator decisivo para um desempenho mais consistente do setor. "A agenda econômica que sairá das eleições é fundamental para a formação de cenários no setor privado. Até que isso se defina, as empresas vão tomar decisões mais tímidas, que envolvam menos gastos", afirma o economista.

Ele pondera que muito da melhora da indústria de transformação vista no ano passado se deveu a fatores excepcionais, como a liberação das contas inativas do FGTS e a super safra agrícola. Esta também beneficiou a política monetária ao derrubar os preços dos alimentos e a inflação. A queda dos juros decorrente disso ajudou as famílias a reduzir suas dívidas.

Outro elemento excepcional, segundo ele, foi o comércio exterior, que afetou algumas cadeias industriais por meio especialmente do segmento automotivo. "O desempenho da indústria automobilística foi fantástico. Houve demanda, mas isso também tem a ver com decisões de alocação de produção dentro da cadeia mundial das montadoras", diz Cagnin. Nas contas do Iedi, a indústria automotiva contribuiu sozinha por metade (1,2 ponto percentual) da alta de 2,3% da produção do setor industrial no ano.

O setor externo e safra devem continuar ajudando a indústria em 2018, mas em menor magnitude, diz. E a grande ociosidade ainda é uma pedra no caminho. "Se não melhorar, não dá para esperar uma reação mais forte do investimento", diz.

Na produção, entre as categorias econômicas, os melhores números devem ser vistos em bens de capital e duráveis, beneficiados pela queda de juros. Os bens intermediários - que respondem por 60% da atividade industrial - também são candidatos a um melhor desempenho. Semi e não duráveis vão depender da continuidade da recuperação do emprego e da renda. 

Os outros dois ramos da indústria no PIB devem ter desempenho positivo com o aumento da produção de petróleo e minério (extrativa) e por causa do regime hídrico favorável (SIUP).

No primeiro caso, há expectativa de aumento de produção da Petrobras e de outras operadoras, assim como de minério da Vale. Nos serviços industriais de utilidade pública, em que a eletricidade é o principal segmento, a retomada da transformação e da atividade tende a puxar o setor, afirma Ricardo Nishida, economista da LCA Consultores.