28/06/18 14h14

Cresce uso de tecnologias digitais no país, mostra pesquisa da CNI

Valor Econômico

Mesmo em descompasso com as economias mais avançadas em termos de adoção de tecnologias para digitalização das cadeias produtivas dentro do conceito de indústria 4.0, nos últimos anos houve um aumento significativo no número de indústrias brasileiras que usam sistemas digitais para aumentar a eficiência do processo de produção e melhorar a gestão dos negócios. O percentual de grandes corporações que usam ao menos uma das 13 tecnologias digitais disponíveis ampliou de 63% para 73%, entre o início de 2016 e o de 2018, é o que mostra pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria, baseada na de Investimentos na Indústria 2018, que levantou dados entre 632 grandes corporações dos segmentos de transformação ou extrativa.

Até o fim do ano, a intenção de quase metade dessas empresas é ampliar os investimentos em tecnologias digitais que já utilizam. "Isso indica que as indústrias estão em processo inicial de digitalização das fábricas. Fez um pedaço, deu certo e agora estão fazendo outras", diz Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI.

Automação industrial com sensores para controle de processos é a tecnologia mais utilizada por 46% empresas, em segundo está sistemas integrados de engenharia para desenvolvimento e manufatura de produtos. Os tipos de sistemas adotados confirmam o estágio inicial na transição para o ambiente de indústria 4.0, que prevê o uso de um conjunto de tecnologias digitais, de forma isolada ou em conjunto, para criar um ambiente cíber-físico, em que máquinas e sistemas conversam entre si para tornar linhas de produção autônomas, flexíveis e customizáveis. As tecnologias que permitem linhas com essas características são pouco utilizadas, só 23% usam automação digital com sensores com identificação de produtos e condições operacionais, linhas flexíveis, de acordo com a pesquisa.

Entre as empresas que planejam investir em sistemas digitais, 70% delas pretendem manter o foco na tecnologia já usada, mas também querem, em alguma medida, avançar na adoção de sistemas menos empregados, como as voltadas para produto e novos modelos de negócios, o que inclui coleta, processamento e análise de grandes quantidades de dados (big data) e monitoramento do uso dos produtos pelos consumidores. Atualmente, essas tecnologias são usadas por 33% das empresas, mas a intenção de 40% das indústrias que querem investir está conectada a essas tecnologias.

"Quando se compara a utilização das tecnologias pelas indústrias com a intenção de investimentos pelas mesmas, vê-se uma distribuição melhor, que é nada mais do que a evolução natural para o ambiente 4.0", afirma Renato da Fonseca. O economista destaca, no entanto, que esse processo precisa se acelerar, pois em relação a outros países, o "Brasil está muito atrasado nisso".

Fazer a transição para práticas "4.0" pode depender do tamanho da empresa. Os grandes grupos estudam maneiras de dar o salto, enquanto pequenas e médias ainda nem conhecem os conceitos.

Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com 227 companhias mostrou que 59% nunca usaram o "lean manufacturing", caraterístico ainda da terceira revolução industrial. Das entrevistadas, 85% eram pequenas e médias. A disparidade fica clara na hora de separar pequenas e grandes: no primeiro grupo, só 24% adotaram a prática, contra 76% do segundo.

É pior ainda a situação da indústria 4.0 no Brasil, pois 32% das entrevistadas nem conhecem o termo. São 40% das pequenas e 32% das médias, ante apenas 3% das grandes. Quem conhece, contudo, sofre para adotar os conceitos. Pelo estudo da Fiesp, quem conhece a quarta revolução industrial se divide entre baixo e alto otimismo - 41% e 43%, respectivamente - sobre a implantação em sua companhia. O problema é que 23% não se sentem "nem um pouco" preparadas para tal, contra 5% que se enxergam muito preparadas.

Quando questionadas sobre a adoção em todo o setor, as respostas negativas aumentaram. Segundo a pesquisa, 60% estão pouco otimistas. O maior problema apontado é a falta de dinheiro, com 32% respondendo que o grande desafio é captar recursos.