01/08/10 16h37

Cresce o interesse chinês pelo Brasil

O Estado de S. Paulo – 01/08/10

Se o pouco mais de US$ 11 bilhões de investimentos chineses no Brasil anunciados desde o início do ano se concretizar, o antigo Império do Meio vai encostar no Japão no ranking das nações com maior estoque de recursos para atividades produtivas no País. Com os negócios divulgados até agora, a China já assumiu o primeiro lugar entre os investidores estrangeiros no Brasil em 2010, posição ocupada no ano passado pelos Países Baixos, com US$ 6,52 bilhões. Quando se considera a soma dos recursos colocados por empresas estrangeiras no Brasil ao longo dos anos - o chamado estoque -, a China pode passar neste ano da 42.ª para a 9.ª ou 10.ª posição, sempre na hipótese de os anúncios dos últimos meses se confirmarem. É uma mudança espetacular para um país que até o ano passado pautava seu relacionamento com o Brasil pelo comércio, mas continuava virtualmente ausente do investimento em atividades produtivas.

Embaixador do Brasil em Pequim desde 2008, Clodoaldo Hugueney diz que esse novo cenário ficou evidente em 2010. "Desde que cheguei aqui vi uma mudança muito grande. Antes era basicamente comércio. Agora há um movimento intenso de empresas que querem se estabelecer e produzir no Brasil." No fim do ano passado, o estoque de investimentos chineses no País era de US$ 254 milhões, o equivalente a 0,1% do total ou a 0,4% dos US$ 64,85 bilhões detidos pelos Estados Unidos, líderes no ranking. "É natural que os investimentos da China no exterior aumentem. O país já é a segunda maior economia do mundo e o porcentual dos investimentos externos em relação ao PIB ainda é muito baixo", pondera a conselheira Tatiana Rosito, responsável pelo setor econômico-comercial da Embaixada do Brasil em Pequim. Segundo Tatiana, a soma dos investimentos da China em outros países só ultrapassou a marca dos US$ 10 bilhões em 1993. Entre 2000 e 2009, saltou de US$ 30 bilhões para US$ 228 bilhões.

O movimento apontado por Hugueney é um indício de que a cifra de US$ 11 bilhões anunciada desde o início de 2010 poderá ser superada. "Não é difícil que se chegue aos US$ 15 bilhões", acredita Roberto Dumas Damas, representante do Itaú BBA na China. Os US$ 11 bilhões representam mais de um terço dos US$ 31,7 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED) que o Brasil recebeu em todo o ano passado. Se todos os anúncios se concretizarem, a China passará a ter um estoque de investimentos no Brasil maior que o de países como Portugal, Canadá, Itália e Reino Unido. A construção do Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Campinas, São Paulo e Rio, por exemplo, é vista por Pequim como uma ótima oportunidade de exportação de tecnologia e de equipamentos fabricados na China - o país já confirmou que participará da licitação para escolha do responsável pela obra, marcada para o fim do ano.