27/04/18 11h14

Cresce interesse por empresas de base tecnológica

Valor Econômico

O mercado de capitais do Brasil, comparado a países como Estados Unidos e Israel, ainda oferece poucas opções de investimentos dedicados a empresas de base tecnológica com faturamento anual até R$ 20 milhões. Porém cresce o interesse de gestoras e investidores-anjos brasileiros por projetos com startups e incubadas. De sua parte, os empreendedores também são estimulados por casos de sucesso como a venda da startup 99 para o grupo chinês Didi Chuxing, anunciado em janeiro deste ano, com aporte acima de US$ 100 milhões.

Até o fim deste ano, a BNDESPar lançará o Fundo de Investimento em Participações Capital Semente de Coinvestimento Anjo, cujo gestor deve ser escolhido até o fim de junho. Desde o fim da década de 1990, o BNDES e sua subsidiária de participações acionárias, a BNDESPar, têm tido papel relevante no estímulo à participação do mercado privado em instrumentos como Fundos de Investimento em Participações (FIPs) voltados a empresas de base tecnológica.

Filipe Borsato, gerente do Departamento de Investimento em Fundos do BNDES, explica que o objetivo do novo fundo é estimular a participação de investidores-anjo. "Na prática, para cada R$ 1,00 do investidor-anjo, a BNDESPar entra com R$ 1,00. Os investimentos iniciais em startups serão de até R$ 500 mil, em parceria com investidores-anjo ou aceleradoras, na mesma proporção", diz Borsato.

Um dos primeiros investidores-anjos do país, Fábio Póvoa, líder do Smart Monye Ventures, fundo de investimento de R$ 15 milhões, focado em empresas em estágio inicial, diz que o interesse do capital privado em fundos que contemplem startups é crescente. "Com a queda da Selic, há uma busca maior para investimentos de risco. Olhamos para projetos de inteligência artificial como ponto de diferenciação competitiva quando decidimos por um aporte", conta.

O BNDES tem uma carteira de 15 fundos dedicados a projetos de inovação, incluindo inteligência artificial. O patrimônio comprometido do banco nesses fundos soma R$ 1,77 bilhão, sendo R$ 901 milhões da BNDESPar. O BNDES trabalha com venture capital desde o fim da década de 1990, mas a ênfase em inovação veio em 2007, com o lançamento do FIP Criatec I.

Depois de lançar o Criatec II, sob gestão da Bozano Investimento, e o Criatec III, gerido pela Inseed Investimentos, o BNDES prepara para 2019 o lançamento do Criatec IV. A exemplo dos outros três fundos, o Criatec IV receberá gestão profissional e aportes privados.

Primeiro fundo de capital semente do Brasil, gerido pela Antera Gestão de Recursos e pela Inseed Investimentos, o Criatec I captou R$ 100 milhões, sendo R$ 80 milhões aportados pelo BNDES. Em cinco anos, 36 empresas com fatureceita anual até R$ 1, 5 milhão, receberam investimentos do fundo.

Segundo Robert Binder, sócio fundador da Antera Gestão de Recursos, também gestora do FIP Primatec, no início da gestão do Criatec I pouco se falava sobre capital semente no Brasil. "Havia apenas alguns investimentos isolados por parte de investidores-anjos", diz.

Gustavo Junqueira, diretor da Inseed Investimentos, com três fundos sob gestão (Criatec I e Criatec III e FIMA), somando cerca de R$ 500 milhões, afirma que o Brasil está bem posicionado na nova onda de digitalização da economia real. Ele destaca o bom nível dos empreendedores. "Todas as empresas investidas no Criatec III são da área de inteligência artificial, Big Data, aprendizado de máquina etc. Há grande oportunidade de retorno com empresas de base tecnologia de menor porte, por isso conseguimos atrair mais investidores privados", afirma.

O estímulo à participação de investidores-anjos em startups também é objetivo da Finep, que lançou em 2017 o programa Finep Startup para empresas em fase final de desenvolvimento de produto, processo ou serviço. O investimento é de até R$ 1 milhão. Raphael Braga, gerente de empreendedorismo e investimento em startups da Finep, diz que candidatas podem ganhar até cinco pontos na fase classificatória ao apresentarem investidores-anjos.