01/11/09 10h57

Crédito, estímulo e gosto pelo consumo turbinam compras

Folha de S. Paulo

Apesar da crise econômica internacional, o país atingiu em 2009 níveis inéditos de consumo. Entre setembro do ano passado, início da fase aguda das turbulências, e setembro deste ano, muitos brasileiros compraram seu primeiro carro e melhoraram a qualidade de vida da família por meio da aquisição de confortos domésticos, revela pesquisa realizada pelo Datafolha. Dos 13 tipos de bens duráveis pesquisados, em 9 casos aumentou a parcela da população que possui esses itens. De 2008 para 2009, passou de 34% para 36% a fatia dos que têm carro; de 59% para 65% a dos que contam com máquina de lavar roupa; e de 77% para 79% a dos que dispõem de aparelho de DVD.

A auxiliar de serviços gerais Maria Lucia Souza da Silva, 34, é um exemplo. Equipou a casa toda. O passaporte de Maria Lucia para o mundo dos eletrodomésticos modernos foi um cartão de crédito emitido por uma grande rede varejista. Assim como na sua situação, para boa parte dos consumidores, esse tipo de instrumento é bem mais acessível que os empréstimos bancários e acabou se tornando uma das únicas formas de gastar no momento em que os financiamentos convencionais secaram com a crise.

O aperto do crédito começou nos últimos três meses de 2008, quando o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu. A queda da atividade ainda se repetiria no trimestre seguinte, caracterizando uma recessão. A partir de dezembro, o governo Lula lançou medidas de estímulo ao consumo, como o corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis, material de construção e itens da linha branca. Aos poucos, a oferta de crédito foi aumentando, acompanhada de uma diminuição de juros, embora em ritmo lento. Para impulsionar as compras, a esses dois fatores somou-se o gosto que as classes mais baixas tomaram por um padrão de consumo melhor.

O levantamento realizado pelo instituto mostrou ainda que a crise fez se desacelerar a velocidade da ascensão social no país. Se antes o encolhimento das classes D e E ocorria a um ritmo de cinco a seis pontos percentuais por ano, entre 2008 e 2009 passou a apenas um ponto. A parcela da população que pertence à faixa mais pobre (classe E) caiu de 3% para 2% e a da classe D diminuiu de 21% para 20%.

A classe C (média baixa) recuou de 51% para 50% da população, enquanto a B (média alta) avançou de 23% para 26%. A classe A ficou igual, com 2%.