27/04/18 11h35

Crédito dá sinais de recuperação com juro menor

Valor Econômico

Depois de um começo de ano mais morno, o mercado de crédito bancário voltou a responder aos estímulos monetários em março. Dados divulgados pelo Banco Central mostram crescimento nas concessões de empréstimos e no estoque dessas operações, além de queda nos juros e spreads bancários.

O estoque de crédito bancário na economia cresceu 0,6% em março, na comparação com fevereiro, depois de dois meses seguidos de recuo. O ritmo de expansão em 12 meses ainda é muito lento, com avanço de apenas 0,1%, mas essa é a primeira vez desde agosto de 2016 que o crescimento interanual dos empréstimos entra no terreno positivo.

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, destacou que a expansão em março ocorreu de forma um pouco mais equilibrada, envolvendo empresas e pessoas físicas. Ambos os segmentos apresentaram expansão de 0,6%.

O crescimento do saldo em março se concentrou basicamente no crédito livre, que responde de forma mais direta à política monetária, com avanço de 1,3%. O crédito direcionado teve uma leve retração, de 0,1%, em virtude sobretudo do desempenho mais fraco do BNDES, que teve queda na demanda depois da recessão e adotou uma nova taxa de juros com menos subsídios oficiais.

Segundo Rocha, além dos volumes de crédito, o alívio monetário está surtindo efeito também na redução dos juros bancários médios do sistema, que recuaram de 26,9% ao ano em fevereiro para 26,2% em março. Uma parte dessa queda é o repasse direto aos clientes do corte na taxa básica de juros pelo BC, refletida na queda do custo de captação dos bancos, que passaram de 6,5% ao ano para 6,2% ao ano. Outra parte é a queda da margem bruta dos bancos, o chamado spread, que recuou de 20,4% ao ano para 20% ao ano.

A queda no custo de crédito foi mais pronunciada, em especial, no crédito livre. A taxa média caiu de 42,2% para 41,4% ao ano entre fevereiro e março. O spread do crédito livre recuou de 34,1% ao ano para 33,7% ao ano no período. "O crédito vem respondendo ao ciclo de distensão monetária", disse Rocha. "Daqui para frente, a despeito das incertezas normais de projetar o futuro, a tendência é que os juros continuem a cair."

Nos últimos dias, intensificou-se o debate entre especialista sobre se a baixa de juros patrocinada pelo Banco Central desde outubro de 2016, que derrubou a Selic de 14,25% para os atuais 6,5%, está surtindo efeitos em estimular a economia. Alguns economistas sustentam que os juros bancários não estão caindo como o esperado.

O BC divulgou um estudo em março que sustenta que os juros caíram e as concessões de empréstimos subiram da mesma forma que nos quatro ciclos anteriores de distensão monetária, feitos a partir de 2002. O fraco desempenho do mercado de crédito no primeiro bimestre, ao lado de dados econômicos que mostram uma recuperação mais frágil, são citados por alguns analistas para sustentar que a transmissão monetária por meio do crédito está bloqueada.

Rocha disse que, em boa medida, o desempenho no mercado de crédito em janeiro e fevereiro foi influenciado por fatores sazonais - que em março já estavam se dissipando, reafirmando a trajetória de recuperação do crédito. Em dezembro, argumentou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, clientes tipicamente usam parcela do 13 º salário para quitar dívidas mais caras, como cheque especial e cartão de crédito, o que faz com que os juros médios do sistema caiam. Em janeiro e fevereiro, voltam a tomar financiamentos nessas linhas, o que aumenta o juro médio do sistema.

Apesar da leve reação do crédito a pessoas jurídicas, os dados divulgados pelo BC relativos a março mostram que esse mercado ainda está longe de operar a pleno vapor. As linhas de capital de giro, que respondem por cerca de metade dos financiamentos com recursos livres a empresas, tiveram recuo de 0,3% no mês. Rocha destacou o avanço das operações de desconto de duplicatas (alta de 11,1% no mês) e antecipação de faturas do cartão (expansão de 5%).

A queda no estoque de linhas de capital de giro só não foi mais expressiva porque, no mês, os bancos renegociaram um volume expressivo de operações. Isso fez com que as concessões de operações de capital de giro tivessem alta de 32,4% no mês, chegando a R$ 14,282 bilhões, mas o estoque essas operação ficassem praticamente estáveis no período.

Analistas econômicos têm afirmado que a frágil situação financeira de boa parte das empresas, sobretudo entre as grandes corporações, e os altos índices de capacidade não utilizada nas linhas de produção têm segurado a procura por financiamentos, apesar da queda dos juros.

A taxa de inadimplência nos empréstimos com as empresas caiu de fevereiro a março, de 3,1% para 2,9%, mas há ainda um volume alto das chamadas operações problemáticas - que incluem também empréstimos renegociados e com notas de classificação de risco mais baixas. Nos dados divulgados nesta quinta-feira, não há informações sobre os ativos problemáticos. Eles são divulgados semestralmente no Relatório de Estabilidade Financeira (REF).