15/06/10 10h49

Corrida acelerada pelo cultivo de eucalipto no Estado de São Paulo

Valor Econômico

A quase 900 metros de altitude, no topo do Morro Grande, na estrada das Rosas, em Salesópolis (SP), o aposentado José Renó do Prado se divide entre mostrar a sua área mais recente de cultivo de eucalipto, no cume da montanha, e o telhado da sua casa de campo, lá embaixo, no pé do morro. De cima, é possível avistar também uma imensidão de eucaliptos que ocupam praticamente 80% das áreas com alguma atividade produtiva no município, que se notabilizou por abrigar a nascente do rio Tietê onde as águas permanecem ainda límpidas, enquanto na capital paulista, distante apenas 100 quilômetros, jazem em meio aos detritos urbanos.

Com exceção de um sítio ou outro, já não há mais terra disponível em Salesópolis para expansões. O município já foi o maior produtor de eucalipto do Estado de São Paulo, mas há alguns anos perdeu espaço nas estatísticas oficiais para outras regiões novas, para onde a floresta plantada avançou. Economistas asseguram que, juntamente com a cana-de-açúcar, a cultura do eucalipto desponta como uma das mais dinâmicas do Estado, com rentabilidade igual e até superior à da cana-de-açúcar. Ocupa mais de 800 mil hectares e avança rapidamente nas áreas de pastagens. Com baixo investimento inicial e pouca necessidade de manejo, a floresta plantada vem se disseminando nas mãos de pequenos e médios agricultores que, além de vender parte da produção para o mercado tradicional de papel e celulose, têm sido atraídos também pelo crescimento dos mercados de energia e de construção civil.

Estar em áreas montanhosas e com baixa fertilidade ajuda a explicar o porquê de a atividade estar crescendo expressivamente entre pequenos e médios produtores. As áreas são mais baratas e menos disputadas pela agricultura tradicional. As propriedades acidentadas são pouco atrativas até mesmo aos grandes projetos de cultivo de eucalipto das gigantes de papel e celulose, que precisam de terras planas para mecanizar plantio, manejo e colheita, e obterem mais ganhos de eficiência. Em média, essas áreas acidentadas chegam a ter preços equivalentes a 40% dos valores de terras planas em uma mesma região, segundo levantamento da NAI Commercial Properties, especializada em mercado imobiliário.

Os pequenos e médios já detêm 20% da área total cultivada com eucalipto no Estado, confirmam os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo. Levantamento do órgão feito em 1995 mostrou que haviam 30 mil produtores de eucalipto no Estado - em 2008, já eram 44 mil. A diferença é basicamente explicada pelo avanço dos pequenos e médios, segundo Eduardo Pires Castanho Filho, pesquisador do IEA.