11/10/24 14h55

Copersucar investe em biometano para impulsionar a transição energética

Foco em biocombustíveis de baixo carbono derivados da cana-de-açúcar

Portal do Agronegócio

A Copersucar, uma cooperativa que há 65 anos se destaca na comercialização de açúcar, etanol e energia, está se preparando para avançar na descarbonização da economia. A empresa está apostando em biocombustíveis de baixo carbono, especialmente biometano, para promover a transição em setores de transporte leve, aéreo e marítimo.

Segundo Tomás Manzano, CEO da Copersucar, a companhia vê oportunidades concretas para acelerar o desenvolvimento de novos mercados relacionados à cana-de-açúcar, incluindo biogás, biometano e combustíveis sustentáveis de aviação. "Estamos focados em integrar esses produtos ao nosso portfólio", afirmou o executivo em entrevista.

O biometano, que serve como substituto do gás natural fóssil, é produzido a partir da biodigestão de matérias orgânicas e da purificação do biogás gerado. Essa fonte de energia pode ser utilizada em veículos, indústrias e residências. Manzano observa que a Copersucar pode atuar na comercialização do biometano, semelhante ao que já faz com outros produtos das usinas.

O CEO acredita que, assim como há 20 anos o setor investiu na cogeração de energia elétrica a partir do bagaço da cana, agora é hora de as usinas colaborarem na produção de biogás e biometano a partir dos resíduos industriais.

Em um futuro próximo, a Copersucar projeta que todas as 38 unidades industriais tenham plantas de biometano com capacidade para fornecer 2 milhões de metros cúbicos de gás por dia, utilizando tecnologias de biodigestão que empregam vinhaça e torta de filtro. Já estão em andamento testes de biodigestão de resíduos agrícolas, como bagaço e palha de cana, que poderiam ampliar essa capacidade.

A Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) prevê que, em dez anos, a produção nacional de biometano alcance 7 milhões de metros cúbicos diários. Nesse contexto, Manzano estima que a Copersucar poderá representar cerca de 30% dessa oferta.

Entretanto, o executivo ressalta que nem todo esse volume será destinado ao mercado. A empresa consome anualmente uma quantidade significativa de diesel para transportar 6 milhões de toneladas de açúcar entre as usinas, terminais e clientes. "Internamente, temos demanda para cinco a seis fábricas exclusivas de biometano apenas para substituir o diesel na nossa frota", observa.

As usinas também devem empregar biometano para reduzir seu próprio consumo de diesel nas operações agrícolas. Manzano calcula que, se o biometano das empresas associadas for utilizado para substituir todo o diesel consumido pela Copersucar e 40% do diesel utilizado nas operações das usinas, a demanda total por diesel poderia ser reduzida em até 240 milhões de litros anualmente.

Além do mercado interno, há espaço para a comercialização de biometano no exterior, embora isso exija a criação de uma logística de liquefação do produto. Manzano sugere que o mercado de biometano funcionará de maneira similar ao de geração distribuída de energia, atendendo à demanda local, dada a infraestrutura de dutos de gás ainda limitada no Brasil. Atualmente, apenas metade das usinas de cana tem acesso a esses dutos, mas o executivo acredita que "a infraestrutura de dutos no Brasil deve se desenvolver ao longo do tempo".

Uma planta de biometano poderia ter um portfólio diversificado, incluindo vendas por dutos, fornecimento a postos de combustíveis, uso na frota própria e geração de energia. Outro aspecto considerado pela Copersucar é utilizar o biometano como insumo para a fabricação de biofertilizantes, substituindo adubos químicos nos canaviais.

A adoção do biometano não só reduz custos, mas também diminui a pegada de carbono da produção de etanol, potencializando a sustentabilidade do biocombustível brasileiro. "O etanol de baixa intensidade de carbono tem múltiplas aplicações, e no médio a longo prazo, a baixa intensidade de carbono será um diferencial valioso na transição energética", destaca Manzano.

O etanol é considerado uma potencial matriz para a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), e a Copersucar firmou, em junho, uma parceria com a Geo para desenvolver essa tecnologia a partir do biometano, uma área ainda inexplorada na aviação. Os derivados da cana também estão sendo estudados como soluções para a descarbonização do transporte marítimo. Manzano acredita que, em três a cinco anos, estarão disponíveis tecnologias prontas para testes, com alternativas que incluem biobunkers feitos de etanol, o próprio etanol e biometano líquido.

De acordo com Manzano, tanto as novas tecnologias quanto a utilização do etanol em veículos devem garantir uma demanda crescente por esse biocombustível no mercado global, mesmo diante do avanço dos carros elétricos. "Metade dos carros flex no Brasil ainda não abastece com etanol", enfatiza.

Por fim, há expectativas de elevar a mistura de etanol anidro na gasolina para 30%, conforme previsto na Lei do Combustível do Futuro, embora essa mudança dependa de testes adicionais.

 

Fonte: https://www.portaldoagronegocio.com.br/energias-renovaveis/outros/noticias/copersucar-investe-em-biometano-para-impulsionar-a-transicao-energetica