19/11/10 15h37

Contrail faz mega-acordo com MRS em contêineres

Valor Econômico

Para abocanhar uma expressiva fatia do negócio de transporte de contêineres que hoje é realizado em caminhões até o porto de Santos e "roubá-los" para o meio ferroviário, a MRS Logística acaba de firmar com a Contrail uma parceria comercial que deverá se tornar o maior contrato de movimentação desse tipo de carga no Brasil. O objetivo é transferir para os trens cerca de 45% do movimento atual de contêineres em Santos por ano. Atualmente, apenas 3% chegam pela ferrovia. "Essa parceria vai mudar a cara do transporte de contêiner", diz, convicto, Guilherme Quintella, acionista controlador da Contrail. Segundo ele, trata-se de um modelo inovador que será adotado no Brasil para esse tipo de operação, com uso de vagões especiais. Outra vantagem, aponta ele, é que serão tirados das estradas rumo a Santos e de várias cidades, como a capital paulista e outras da região metropolitana, mais de 1 milhão de caminhões por ano.

A previsão do empresário é que a Contrail, a plena capacidade, com movimentação anual de 1,2 milhão de TEUs , fature cerca de R$ 800 milhões (US$ 470,6 milhões) ao ano. O negócio está formatado em três fases, no prazo de cinco anos, e prevê investimentos totais nesse período de R$ 600 milhões (US$ 352,9 milhões). Esses recursos serão usados na construção de terminais de captação e distribuição de contêineres, em frotas de caminhões e equipamentos diversos. À MRS caberá ainda investir no aumento da frota de locomotivas e na fabricação de vagões especiais, do tipo "double stack", que permitem o empilhamento de até dois contêineres.

A primeira etapa, informa Quintella, será implementada em um ano e o planejamento é que alcance movimentação de 300 mil TEUs por ano. Ela compreende a construção do Terminal Intermodal do Porto de Santos-TIPS em uma área de 300 mil metros quadrados, pertencente à MRS e que fica em Cubatão (SP). "Esse terminal terá a função de ser um grande 'hub', o qual vai operar como regulador e ordenador do fluxo ferroviário de contêineres para os vários terminais no porto de Santos", informa Quintella. Ele destaca que o TIPS será um terminal "bandeira branca", ou seja, irá operar com contêineres de todos os armadores e de todos os terminais na Baixada Santista. A operação no TIPS já começará usando vagões "double stack" e já está prevista pela MRS a encomenda de cerca de 100 desses vagões.

Na segunda fase - num prazo de três anos -, a Contrail vai instalar quatro terminais intermodais ao lado da malha da MRS em vários pontos: uma na região central de São Paulo, outro no ABC paulista, um terceiro na zona leste da região metropolitana da capital e um quarto no vale do Paraíba. Quintella informa que esses terminais, juntos com o TIPS, de Cubatão, terão condições de movimentar 700 mil TEUs por ano. Essa fase do negócio está vinculada aos investimentos de R$ 230 milhões (US$ 135,3 milhões) que a MRS está realizando na Grande São Paulo e na descida da Serra para Santos para agilizar o fluxo de cargas da ferrovia.

A terceira etapa do contrato MRS-Contrail na operação de contêineres depende muito de uma ação de governos (federal e estadual) sobre a transposição de cargas, pelo meio ferroviário, dentro de São Paulo e municípios vizinhos da capital. Cada vez mais o compartilhamento de trilhos onde trafegam trens de passageiros e cargas torna-se inviável e o problema tende-se a agravar com a expansão do fluxo de passageiros e produtos. A solução passa pela segregação de mais trechos das linhas operadas pela CPTM, na malha que pertence à MRS, e pela criação de um anel ferroviário na capital, dando passagem em direção a Santos. Para este último, há duas opções: uma ao norte, entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, que tem a simpatia da MRS, e outro ao sul da cidade. A definição depende de um estudo encomendado ao Banco Mundial e que deve ficar pronto no próximo ano. Isso resolvido, informa Quintella, a Contrail vai construir pelo menos mais dois terminais ao longo da linha da MRS. Um no bairro da Lapa (região oeste da capital) e outro em Jundiaí, a 60 km de São Paulo. Com isso, a empresa adiciona capacidade de transportar 500 mil TEUs ao ano, totalizando 1,2 milhão de TEUs.