20/06/11 10h42

Consumidor de baixa renda já frequenta academia de ginástica

Valor Econômico

Depois de encher a geladeira e comprar sua TV de tela grande, o consumidor de baixa renda está frequentando academias de ginástica - o que antes era considerado luxo, já cabe no orçamento. Empresas veteranas estão investindo nesse público. E, em favelas e bairros de periferia, moradores veem na prática da atividade física uma oportunidade de trabalho. "Está crescendo o número de professores de educação física na periferia, que trabalham como instrutores em três ou quatro empregos para conseguirem abrir suas próprias academias", diz Renato Meirelles, diretor da consultoria Data Popular. As classes C, D e E representam 66% dos 4,2 milhões de brasileiros que frequentam academias de ginástica, segundo estudo do instituto realizado no último trimestre de 2010. A fatia das classes D e E é de 14%. O preço, observa Meirelles, depende do perfil do usuário. "Pode ser entre R$ 40 e R$ 50 (US$ 25 e US$ 31,3), mas se for algo muito importante para a pessoa, ela pode pagar até R$ 150 (US$ 93,75), apesar de ficar apertado".

O mercado de academias foi construído no mundo para o público de alta renda. "Sempre foi coisa de rico", diz Waldyr Soares, presidente da Fitness Brasil, que acompanha o setor há 30 anos. "Na cabeça de muita gente não tinha importância e, na crise, a academia era a primeira a ser cortada do orçamento". Nos últimos anos, houve uma mudança cultural e a academia deixou de ser associada somente ao culto ao corpo. Passou a significar bem-estar. Segundo o Conselho Federal de Educação Física (Confef), o Brasil tem hoje 19.681 academias de ginástica registradas - um dos maiores mercados mundiais desse segmento. Nos últimos anos, a sociedade brasileira começou a perceber, diz Soares, que vai viver mais e quer viver melhor. E essa percepção já chegou à baixa renda, em especial às mulheres, que são maioria nas academias.

Quando se formou em educação física, há 20 anos, Gilson Clemente, morador da favela de Paraisópolis, na zona sul paulistana, se sentia um estranho no bairro. Naquela época, era difícil ter um universitário na comunidade. Um semestre após concluir a graduação, ele construiu um "puxadinho" de 30 m 2 junto ao mercadinho aberto pelo pai. Nascia a Gilson Clemente Academia (GCA). Hoje, funciona em um galpão nos fundos do terreno, tomou o espaço da garagem e ocupa dois andares. São 350 m2. A mensalidade do plano anual custa R$ 59 ou R$ 34 (US$ 36,9 ou US$ 21,3), para quem traz mais um aluno. De 2008 para cá, o número de alunos dobrou e atualmente é de 320. No primeiro semestre deste ano, o faturamento foi de R$ 105 mil (US$ 65,6 mil).

O grupo Bodytech, que nasceu para atender o consumidor de renda mais alta, vai segmentar suas marcas para chegar à classe C. As academias Fórmula, parte da rede Bodytech e agora abertas a franqueados, terão espaço físico médio de 600 m2 e mensalidade entre R$ 89 e R$ 149 (US$ 55,6 e US$ 93,1). Espaços como o do Shopping Eldorado, em São Paulo, onde se paga quase R$ 600 (US$ 375) mensais, estão sendo reformados para virar A!Bodytech, que continua voltada para a classe A. As "novas Fórmula" têm estrutura semelhante, com os mesmos equipamentos e aulas, mas sem sauna ou piscina, diz Mario Esses, presidente da Fórmula. O investimento no plano é estimado em R$ 50 milhões (US$ 31,3 milhões).

Em dois meses da operação, a nova marca já tem duas franquias em Copacabana, no Rio de Janeiro, vai abrir duas na Tijuca, na Zona Norte carioca e em cidades como São Gonçalo e Duque de Caxias. O ABC paulista e capitais como Curitiba, Florianópolis, Fortaleza e São Luiz vêm na sequência. Até o fim deste ano, a meta é ter 16 Fórmula franqueadas, 5 próprias e 34 A!BodyTech. A expectativa, segundo Esses, é chegar em 2015 com 120 franquias e 40 Fórmulas próprias.