16/05/11 14h41

Consumidor avesso à água atrai atenção da indústria

Valor Econômico

"Não suporto a ideia de tomar algo que não tenha gosto", diz o engenheiro elétrico de Campinas (SP), Guilherme Orlando Luchini. A frase é polêmica, ele próprio admite. "Quando digo isso, muita gente acha super esquisito e começam a me doutrinar, falando dos benefícios da água", conta Luchini. Mas ele não está sozinho. Embora muitos não admitam, há um grande percentual de consumidores que simplesmente aboliram a água de seu dia a dia. "No meu caso, substituo com H2O!, refrigerantes com pouco gás ou sucos", acrescenta o engenheiro. É nessa substituição que a indústria de bebidas enxerga uma oportunidade de mercado.

Não há estatísticas de quantos consumidores não bebem água. Mas existem indícios de que sejam muitos. Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam), o brasileiro bebe em média 45 litros de água ao ano. Na Argentina, por exemplo, essa média é de 75 litros anuais. Na Espanha, 142 litros. O total de lares no Brasil que compra água mineral regularmente -seja ela em garrafas ou em galão - é de 54%, segundo a Nielsen. Isso não significa, entretanto, que as pessoas dos 46% de lares restantes não tomem água (elas podem usar filtros ou beber água diretamente da torneira, por exemplo). Mas a preferência por bebidas com sabor fica mais nítida diante de outro dado: de todas as bebidas não-alcoólicas vendidas no país, só 10% é água, ainda de acordo com a Nielsen. Os outros 90% são bebidas doces, como sucos, néctares e refrigerantes.

"O brasileiro é acostumado desde a infância a tomar sucos, refrigerantes, chás e por isso muita gente não tem o hábito de beber água", diz a nutricionista Lívia Machado, da Blue Professional Marketing, que presta consultoria científica para empresas como a PepsiCo para o desenvolvimento de produtos. Luciana Fortuna, diretora de marketing da PepsiCo Bebidas, diz que o refrigerante de baixa caloria H2O! é uma opção quando o consumidor não é amigo de tomar água. "A recomendação médica é de dois litros de líquido por dia. Não precisa ser necessariamente água", diz ela. A empresa não divulga a participação de mercado do produto. Mas garante que desde 2006, quando foi lançada, a bebida é lider no segmento de refrigerantes de baixa gaseificação, com crescimento constante.

Outro produto que tem foco em pessoas que não tomam água é a Bonafont, água mineral da Danone, à venda no estado de São Paulo. "Fizemos pesquisas com consumidores na época do lançamento, em 2008, e vimos que uma parcela significativa das pessoas simplesmente não bebia água", diz Eduardo Galgliardi, diretor de marketing da Danone Águas. Com isso em mente, toda comunicação do lançamento de Bonafont, no final daquele ano, foi baseada no fato de a água ser mais leve (por ter menos sódio) e por isso mais fácil de ser consumida. Nesses dois anos, a Bonafont virou líder de mercado na Grande São Paulo, segundo a revista Supermercado Moderno, com base em dados Nielsen. A publicação, porém, não divulga percentuais regionais. Considerando o mercado de águas nacional, a Bonafont tem 5% das vendas.