Confiança da indústria mantém alta, indica FGV
Valor EconômicoO aumento da confiança da indústria continua sendo puxado por uma melhora das expectativas, sem uma reação mais consistente dos indicadores que refletem o momento atual das empresas - o nível de ociosidade e os estoques. Em maio, o avanço de 5,8 pontos do indicador de produção prevista foi o principal responsável pela alta de 1,1 ponto da confiança do setor, que chegou a 92,3 pontos, maior nível em três anos.
Desde janeiro, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) encontra-se praticamente estacionado em 74,7%, quase quatro pontos percentuais abaixo da média histórica dos últimos 60 meses. A situação mais crítica, conforme a Sondagem da Indústria do Instituto Brasileiro de Economia de Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), é a da indústria de bens de capital, em que o Nuci recuou ainda mais em maio e passou de 69,5% no mês anterior para 67%. No segmento de bens de consumo duráveis também houve retração, de 69,6% para 68,1%.
"A indústria ainda enfrenta um problema sério de ociosidade elevada, o que é preocupante do ponto de vista dos investimentos e do emprego", afirma Tabi Thuler Santos, coordenadora da Sondagem.
O indicador de estoques subiu para 104,8 pontos. Desta vez, contudo, a piora foi concentrada nos relatos de estoques insuficientes, já que houve redução dos considerados excessivos.
Depois de uma melhora de forma contínua desde agosto de 2015, quando atingiu 133,7 pontos, o indicador voltou a subir no fim do ano passado e oscila desde o início deste ano em patamar ainda superior ao neutro, de 100 pontos.
Entre as notícias positivas da Sondagem de maio a economista destaca a alta de 4,7 pontos do nível de demanda, que reflete uma melhora na percepção tanto do mercado interno quanto externo. O aumento levou o indicador a 87,4 pontos, nível ainda distante do neutro, de 100, e considerado "extremamente baixo", por ser inferior a 90.
A alta forte de 5,8 pontos do indicador de produção prevista para os três meses seguintes elevou o indicador a 99 pontos, muito próximo do neutro, que o segmento não atinge desde o início de 2014. Ele é também uma sinalização positiva das expectativas dos empresários, diz Tabi, mas acende um "sinal amarelo", já que não vem acompanhado de uma melhora dos indicadores de situação atual.
Em maio, o Índice de Situação Atual (ISA), que subiu de 88,3 pontos em abril para 89, e o Índice de Expectativas (IE), que cresceu de 94,4 para 95,7, voltaram a se distanciar e registraram 6,7 pontos de diferença, a maior desde julho de 2012, 6,9 pontos.
Caso essas expectativas sejam frustradas, ela pondera, o setor voltaria a acumular estoques e teria a recuperação, cujo ritmo já tem decepcionado, postergado ainda mais. "A indústria pode dar um passo atrás".
O impacto das revelações feitas pela delação da JBS neste mês não chegou a ser captado pela Sondagem porque, de um lado, o volume de respostas coletadas depois de 17 de maio foi pequeno e, de outro, porque a confiança da indústria costuma reagir com maior defasagem a esse tipo de choque, diz Tabi. "Depende muito de quanto tempo vai durar [a crise política] e de como ela vai ser resolvida, que tipo de mudanças concretas ela vai trazer. Mas é claro que a incerteza é ruim".