Conferência internacional na USP debate soluções tecnológicas para transição energética
ETRI 2024 reúne centenas de especialistas para discutir avanços e desafios na área de energia e sustentabilidade
Jornal da USPFoi aberta nesta terça, 5 de novembro, a Conferência de Pesquisa e Inovação em Transição Energética (ETRI) 2024, evento organizado pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI, na sigla em inglês) da USP. Em sua sétima edição, o evento vem se consolidando como uma plataforma para o avanço científico e tecnológico das mudanças no uso de energia, impulsionando ações concretas para o combate às mudanças climáticas.
A conferência, que segue até o dia 7, reúne especialistas, acadêmicos e representantes do governo e da indústria com o objetivo de discutir soluções estratégicas para o desafio global da energia sustentável. O evento aborda desde soluções de base natural até a descarbonização, passando por tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono e bioenergia. Os eixos temáticos propostos na programação exploram avanços em áreas como eletrificação, armazenamento de energia, governança ambiental, social e corporativa (ESG) e a criação de cenários de novas matrizes energéticas.
A coordenadora geral da conferência e Diretora de Recursos Humanos e Comunicação Institucional RCGI, Karen Mascarenhas, celebrou o crescimento do interesse pelo assunto: “Neste ano foram mais de 500 participantes e 320 trabalhos inscritos. O tema do ETRI 2024, Ação Climática através de Tecnologias Avançadas para um Futuro Sustentável, traz à tona a importância das tecnologias de ponta para a mitigação dos gases de efeito estufa e a promoção de um modelo mais limpo para acelerar a transição energética diante da urgência de agir, por meio da ciência, frente aos eventos climáticos extremos. O RCGI é uma referência nessa pauta, promovendo de forma pioneira o desenvolvimento de tecnologias voltadas à descarbonização, aos combustíveis do futuro e às perspectivas do setor elétrico”.
“O Brasil tem uma oportunidade única, e é agora, para ser um líder mundial na descarbonização. É para isso que nosso centro está voltado, agregando várias unidades e institutos da USP, empresas, startups e entidades governamentais. Buscamos os melhores talentos e condições para enfrentar de forma transdisciplinar os desafios da emergência climática, cuja mitigação necessariamente passa pela transição energética”, afirmou o diretor científico do RCGI, Júlio Romano Meneghini.
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, participou da abertura do encontro e ressaltou a busca da Universidade por novos modelos de pesquisa: “Estamos ainda muito distantes de um cenário que nos permita ter um planeta habitável no futuro. Para isso, muita tecnologia precisará ser desenvolvida com o olhar voltado para a sustentabilidade. O que se espera da Universidade é a geração de conhecimento, o que temos feito com muita qualidade, mas o trabalho conjunto com as empresas e governos nos permite ir muito além. Ao contrário do que diz o senso comum, a indústria também está interessada em pesquisas básicas, com grande potencial disruptivo. Também não se pode mais trabalhar apenas em laboratórios isolados, sem interdisciplinaridade. É por isso que temos criado aqui na USP uma série de grandes centros temáticos com grande capacidade e fontes externas de financiamento”, destacou, lembrando ainda que a Universidade vem investindo em ações para tornar seus próprios campi cada vez mais sustentáveis.
Também participaram da mesa de abertura o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marco Antonio Zago; o gerente de Tecnologia e Inovação da Shell Brasil, Olivier E. Wambersie; a especialista em Regulação do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Daniela Correa; a subsecretária de Energia e Mineração da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Semil), Marisa Barros e a secretária executiva da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Stephanie Yukie Hayakawa da Costa.
Além das apresentações técnicas e dos painéis de discussão, o ETRI também promove momentos de interação entre os participantes, com o objetivo de fomentar parcerias entre os setores público e privado e a academia, impulsionando inovações que contribuam para uma economia de baixo carbono.
Na área de tecnologias relacionadas aos gases de efeito estufa, foram apresentadas ferramentas para a medição e mitigação de emissões. Já no tema de eletrificação e armazenamento de energia, os palestrantes revelaram soluções promissoras para otimizar sistemas e integrar fontes renováveis.
Produção de hidrogênio para mobilidade
Após a cerimônia de abertura do evento, convidados puderam conhecer pessoalmente o trabalho de implantação da primeira planta do mundo para transformação de etanol em hidrogênio.
O projeto, desenvolvido pelo RCGI, é um piloto para o estudo do uso de hidrogênio como combustível alternativo que promova a descarbonização do setor de transportes e deve entrar em fase operacional ainda em 2024. A estrutura abastecerá dois ônibus que estarão circulando pela Cidade Universitária e um veículo de passeio. Um dos ônibus foi utilizado para levar os visitantes até o local da planta.
A proposta é que o hidrogênio possa substituir principalmente o uso do diesel em caminhões e ônibus, mas o diretor científico do RCGI, Julio Romano Meneghini, ressalta que há vantagens também em relação ao próprio etanol queimado dentro do veículo: “Este veículo que estamos usando nos testes pode ter uma eficiência até 25% superior a um similar flex usando etanol como combustível, além de emitir zero poluentes. Já os ônibus poderão ter uma autonomia de cerca de 400 km, permitindo, por exemplo, uma rota entre os campi da capital e de Piracicaba sem emissão de carbono. A substituição de todos os ônibus que hoje circulam pelo campus pode suprimir a emissão de 3 mil toneladas de CO2 por ano”.
Além de servir aos veículos, a nova planta também deverá integrar outros projetos voltados à sustentabilidade, como pesquisas voltadas à captura de carbono com o uso de resíduos da construção civil que estão já estão sendo desenvolvidas na Escola Politécnica.